Afeganistão: ano letivo começa sem a presença de 1 milhão de meninas

Afegãs de burca em rua de Cabul
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Por Agência Brasil — O ano letivo no Afeganistão começou nesta quarta-feira (20), mas sem a presença de meninas que os talibãs proibiram de frequentar aulas além do sexto ano, tornando-se o único país com restrições à educação feminina.

A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Infância afirma que mais de 1 milhão de meninas são afetadas por essa proibição e estima que 5 milhões de pessoas já estavam fora da escola antes da tomada do poder pelos talibãs, devido à falta de instalações e outras razões.

O Ministério da Educação marcou o início do ano letivo com uma cerimônia à qual a imprensa não foi autorizada a assistir.

Durante a cerimónia, o ministro da Educação, Habibullah Agha, disse que o ministério tenta “aumentar, tanto quanto possível, a qualidade da educação das ciências religiosas e modernas”.

Os talibãs têm dado prioridade ao conhecimento islâmico em detrimento de outras aprendizagens.

O ministro também apelou aos estudantes para que evitem usar roupas que contrariem os princípios islâmicos e afegãos.

Abdul Salam Hanafi, vice-primeiro-ministro dos talibãs, disse que o governo busca expandir a educação, levando-a a “todas as áreas remotas do país”.

Os talibãs já tinham anunciado que as meninas que continuassem a estudar iam contra a sua interpretação estrita da lei islâmica, ou Sharia, e que eram necessárias certas condições para o seu regresso à escola. No entanto, não fizeram nenhum progresso na criação dessas condições.

Quando governaram o Afeganistão na década de 1990, também proibiram a educação das meninas.

Apesar de inicialmente prometer uma regra mais moderada, também proibiram as mulheres de frequentar o ensino superior, espaços públicos como parques, assim como de ter a maioria dos empregos. Essas proibições fazem parte de um grupo de medidas impostas depois de assumirem o poder, após a retirada das forças dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) do país, em 2021.

A proibição da educação das meninas continua a ser o maior obstáculo dos talibãs para obterem reconhecimento como governantes legítimos do Afeganistão.

Embora os rapazes tenham acesso à educação, a organização não governamental (ONG) Human Rights Watch criticou os talibãs, afirmando que suas políticas educativas “abusivas” prejudicam tanto os rapazes quanto as jovens.

Em relatório publicado em dezembro, a ONG afirmou que há menos atenção aos profundos danos causados à educação dos rapazes à medida que professores qualificados – incluindo mulheres – abandonam o ensino e também devido à introdução de mudanças curriculares regressivas. Citou ainda um aumento nos castigos corporais, que fazem com que os alunos compareçam menos.

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