Um ano dos ataques criminosos no RN: onde foram usados os R$ 100 milhões enviados para a Segurança Pública do estado

Veículos da Secretaria de Obras de Acari alvo de criminosos em março de 2023 — Foto: Redes sociais
Veículos da Secretaria de Obras de Acari alvo de criminosos em março de 2023 — Foto: Redes sociaisViaturas da Polícia Civil chegando ao RN em julho de 2023 — Foto: Sesed/CedidaForça Nacional no RN em março de 2023 — Foto: Elisa Elsie/Governo do RNAtaques no Rio Grande do Norte completam um ano

Por g1 RN — No dia 14 de março de 2023 o Rio Grande do Norte amanheceu sob ataque de criminosos. Prédios públicos, comércios e veículos foram alvos de tiros e incêndios. Ao longo de 11 dias, mais de 300 ações orquestradas por bandidos foram registradas em cerca de 60 cidades.

Segundo a polícia, as ações criminosas foram comandadas por uma facção que atua dentro e fora de presídios. Em troca da suspensão dos ataques, a organização criminosa queria a implementação de visitas íntimas, instalações elétricas e televisões nas celas das penitenciárias estaduais.

Mais de 160 pessoas foram presas, ao longo dos dias de ataque e chefes da facção foram transferidos para presídios federais.

Em visita ao Rio Grande do Norte, o então ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou o repasse de R$ 100 milhões ao estado, para investimentos na área de Segurança Pública. Passado um ano, nem metade do valor foi executado (gasto) pelo governo do estado.

O secretário de Segurança do RN, coronel Francisco Araújo, no entanto, afirma que há vários projetos em execução e que serão pagos com o recurso federal.

“Na verdade foi utilizado e está sendo utilizado. Por exemplo, nós locamos 300 viaturas e, como o contrato é de 30 meses, então a cada mês é pago um valor relativo a essas locações. E há os veículos que foram comprados, nós já compramos 100 veículos, estamos esperando mais 75 chegar, estão em montagem na fábrica. Então logo que a fábrica entregar, eles serão pagos e quitados”, disse.

Além dos R$ 100 milhões, o secretário afirmou que o governo federal também garantiu verba para três obras. Entre elas, a do Instituto Técnico Incentivo de Perícia (Itep), que custa R$ 22 milhões. De acordo com Araújo, também há projetos em execução na sede da Polícia Civil, com mais de 50% executado, e o regimento da cavalaria da Polícia Militar em Macaíba, na Grande Natal. “São três grandes obras que passam de R$ 40 milhões”, pontuou.

Em nota, o governo do estado informou que, dos R$ 100 milhões anunciados pelo Ministério da Justiça, “a maior parte dos recursos está chegando ao Rio Grande do Norte em forma de equipamentos”.

Além de R$ 19 milhões que o estado destinou para o pagamento da locação das 300 novas viaturas, R$ 10 milhões foram usados pelo próprio governo federal para o pagamento das diárias operacionais dos policiais que atuaram no combate aos ataques, “entre eles, mais de 100 homens e mulheres da Força Nacional”.

Ainda segundo o governo, outros R$ 30 milhões serão usados na compra de mais 100 novas viaturas e coletes balísticos para as polícias Civil e Militar. Uma frota com 75 veículos já foi comprada e está sendo montada. A previsão, segundo a Sesed, é de que as novas viaturas sejam entregues ainda em março.

Outra parte dos investimentos anunciados, cerca de R$ 15 milhões, será usado pelo estado na compra de fuzis e de 26 viaturas descaracterizadas que serão utilizadas pelo setor de inteligência da Polícia Civil. Os veículos já estão no estado, segundo o governo.

Por fim, R$ 26 milhões são previstos para reformas, construção de duas unidades prisionais e compra de equipamentos. As obras de construção das novas unidades, avaliadas em cerca de R$ 15 milhões, ainda não foram iniciadas. A Secretaria de Administração Penal diz que os projetos estão em processo administrativo e também dependem de outros órgãos da gestão estadual. Veja o detalhamento abaixo:

Executado

Em execução

Dos R$ 100 milhões enviados ao RN, R$ 26 milhões foram destinados ao sistema penitenciário do estado:

Executado

Em execução

De acordo com o professor Anderson Cristopher dos Santos, do Instituto de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de aumentar o contingente de policiais, comprar viaturas e armas, o governo precisa investir recursos em inteligência e investigação – áreas que, segundo ele, normalmente não recebem muita atenção, por não serem visíveis à sociedade.

“A gente tem que pensar que é como um carro. Tem a parte externa e a interna. E o investimento em inteligência é fundamental. A perícia é importante e também a Polícia Civil. Mais do que prender pequenos bandidos, precisamos pegar os grandes e a gente só consegue pegar os grandes fazendo esse trabalho (investigação)”, avalia.