Fuga de Mossoró: veja como foram os 30 dias de buscas pelos fugitivos da penitenciária federal de segurança máxima

Cronologia fugitivos Mossoró — Foto: Arte g1
Cronologia fugitivos Mossoró — Foto: Arte g1Passo a passo dos criminosos no RNO ministro da Justiça Ricardo Lewandowski concede entrevista nesta quarta (13) sobre o trabalho da força-tarefa pela recaptura dos fugitivos da Penitenciária Federal em Mossoró. — Foto: Inter TV CabugiNomes de fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró já aparece na lista da Interpol — Foto: ReproduçãoImagens exclusivas das câmeras de segurança mostram a fuga na Penitenciária Federal de MossoróArte da fuga na prisão — Foto: g1

Por g1 RN — Após um mês, os dois fugitivos da Penitenciária Federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, ainda não foram recapturados.

Rogério Mendonça e Deibson Nascimento estão foragidos desde 14 de fevereiro, quando abriram passagem por um buraco atrás de uma luminária do presídio e cortaram duas cercas de arame usando ferramentas de uma obra que ocorria no local para escapar. Foi a primeira fuga na história do sistema penitenciário federal desde a criação em 2006.

Até aqui, as buscas envolveram helicópteros, drones, cães farejadores e outros equipamentos tecnológicos sofisticados, além de mais de 600 homens, incluindo a Força Nacional e equipes de elite da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

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As buscas se concentraram, desde o início, nas áreas rurais das cidades de Mossoró e Baraúna, cidades que são ligadas pela estrada RN-015, onde fica o presídio, e que ficam próximas à divisa com o Ceará.

Durante a fuga, Mendonça e Nascimento invadiram três casas, fizeram uma família refém. Segundo informações da investigação da Polícia Federal (PF), uma facção criminosa teria os ajudado a pagar R$ 5 mil ao dono de uma fazenda que auxiliou na fuga, permitindo que se escondessem em sua propriedade.

? 14 de fevereiro:

Por conta da fuga, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afastou o diretor do presídio.

? 15 de fevereiro:

O Ministério da Justiça e Segurança Pública nomeou o policial penal federal Carlos Luis Vieira Pires como diretor interino da prisão e suspendeu as visitas e banhos de sol nos cinco presídios federais do país.

As polícias Federal e Rodoviária Federal enviaram forças especiais para auxiliar nas buscas.

? 16 de fevereiro:

Os criminosos foram incluídos na lista de procurados da Interpol. Entretanto, segundo o secretário nacional, isso não significava que, para a polícia, os dois fugitivos teriam conseguido deixar o país.

? 18 de fevereiro:

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, desembarcou em Mossoró. À época, ele disse que a fuga foi um problema localizado.

Em entrevista coletiva durante viagem à Etiópia, o presidente Lula foi questionado sobre a fuga e disse que “parece que teve a conivência de alguém do sistema [prisional]” no episódio.

? 20 de fevereiro:

A corregedora do sistema prisional afastou quatro diretores responsáveis pelas áreas de segurança, inteligência e administração da Penitenciária Federal de Mossoró.

? 21 de fevereiro:

O Ministério da Justiça autorizou o uso da Força Penal Nacional para o reforço da segurança externa da penitenciária.

Barras de ferro começaram a ser instaladas em luminárias nas celas da Penitenciária Federal de Mossoró.

? 22 de fevereiro:

As primeiras prisões relacionadas à operação aconteceram em 22 de fevereiro. Duas ocorreram no Rio Grande do Norte, quando a PF abordou dois homens e encontraram armas ilegais e quantidade de drogas; a outra prisão ocorreu no Ceará, pois o suspeito tinha um mandado de prisão emitido em seu nome.

? 23 de fevereiro:

A Força Nacional chegou a Mossoró – com cerca de 100 agentes – para reforçar as buscas pelos fugitivos.

O irmão de Deibson Nascimento foi preso no Acre. A prisão ocorreu como desdobramento da operação em busca dos foragidos.

? 24 de fevereiro:

A Polícia Federal anunciou recompensa de até R$ 30 mil por informações sobre fugitivos.

? 25 de fevereiro:

O dono da chácara onde os fugitivos teriam se escondido foi preso. Ele teria recebido R$ 5 mil para esconder os foragidos.

? 26 de fevereiro:

A Força Penal Nacional chegou a Mossoró, com uma equipe de 50 profissionais, para reforçar segurança da penitenciária federal e promover treinamentos com a equipe da unidade.

? 27 de fevereiro:

O dono da casa usada como esconderijo pelos fugitivos passou por audiência de custódia. A Justiça determinou prisão preventiva dele.

Ministério Público Federal faz vistoria na Penitenciária de Mossoró após fuga de presos.

Segundo os investigadores, fugitivos de Penitenciária Federal de Mossoró foram abandonados por rede de proteção do crime organizado.

? 2 de março:

Governo decidiu transferir um grupo de presos ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV), criada no Rio de Janeiro, para outras unidades federais. Apontado como uma das lideranças do bando, Fernandinho Beira-Mar foi levado para o presídio de Catanduvas, no Paraná.

? 8 de março:

Polícia Federal prende outro suspeito de ajudar na fuga dos dois criminosos, também em Fortaleza, no Ceará.

? 10 de março:

Força-tarefa revista casas no assentamento Vila Nova I, em Baraúna, e aumenta o raio de buscas, que havia sido fechado no assentamento Vila Nova II após último avistamento dos fugitivos em um galpão agrícola no início de março. Área fica localizada a 9 km de onde dupla foi vista pela última vez.

? 11 de março:

Quase um mês após a fuga, Polícia Federal divulga imagens com simulações de possíveis aparências e disfarces dos fugitivos.

? 12 de março:

Cães farejaram presença humana em área de mata na capital Mossoró. Local fica a cerca de 10 km de Baraúna.

? 13 de março:

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski esteve em Mossoró para acompanhar os trabalhos da força-tarefa. Segundo o ministro, há “fortes indícios” de que os criminosos continuam na região das buscas, entre Mossoró e o município vizinho de Baraúna.

Os dois presos são do Acre e estavam na Penitenciária de Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Eles foram transferidos após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos — três deles decapitados.

Os dois homens são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que estava preso na unidade federal de Mossoró e foi transferido para Catanduvas, no Paraná.

Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, é acusado de assaltos no Acre, Já preso foi acusado de mandar matar o adolescente Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, em abril de 2021. Após o crime, Rogério foi transferido para o Presídio Antônio Amaro Alves, na capital, para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde ficou desde então, até ter sido transferido ao Rio Grande do Norte.

Rogério responde a mais de 50 processos. Ele é condenado a 74 anos de prisão, somadas as penas, de acordo com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC).

Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, tem o nome ligado a mais de 30 processos e responde por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e roubo. Ele tem 81 anos de prisão em condenações.

Os detentos – que estavam em celas individuais, em Mossoró – conseguiram escapar ao retirar as luminárias das celas. Uma das hipóteses da investigação é que tenham usado pedaços de ferro como ferramenta para retirar a luminária.

Pedaços de ferro que podem ter sido retirados do banheiro, parede, ou debaixo da mesa. Até a publicação desta reportagem, a polícia não identificou a origem do objeto usado por Mendonça e Nascimento.

Os detentos também usaram uma mistura de sabonete e papel higiênico como uma espécie de reboco para camuflar os buracos feitos.

Depois de passarem pelo buraco aberto na parede, os detentos tiveram acesso a uma área de serviço conhecida como “shaft” – por onde passam dutos, rede elétrica e até uma escada que dá acesso ao telhado do presídio.

A área externa estava cercada por um tapume de metal por causa de obras que estão acontecendo no presídio. Por questões de segurança, o cercado delimitava onde ficavam os operários e o material.

Os detentos passaram pelo tapume e usaram um alicate deixado pelos operários e cortaram a primeira parte da grade. Andaram mais alguns metros, abriram a passagem na segunda tela e fugiram.