Plano integrado de combate à violência contra as mulheres vai ao Plenário

Presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS) cumprimenta motorista de caminhão Regivaldo Batista Cardoso, que perdeu sua família, Cleci Calvi Cardoso, Miliane Calvi Cardoso, Manuela Calvi Cardoso, Melissa Calvi Cardoso, brutalmente assassinadas no fim de novembro no município de Sorriso (MT).
Paulo Paim, à direita, se solidariza, na reunião da CDH, com Regivaldo, caminhoneiro cuja família foi assassinada no MT Geraldo Magela/Agência Senado

Por Agência Senado — Segue para análise do Plenário o projeto de lei para prevê que estados, Distrito Federal e municípios criem plano de metas para o enfrentamento integrado da violência contra a mulher. A matéria, da Câmara dos Deputados, foi aprovada na Comissão de Direitos Humanos (CDH) nesta quarta-feira (13), com parecer favorável da senadora Augusta Brito (PT-CE). 

De acordo com o PL 501/2019, os planos de metas deverão conter ações necessárias para a prevenção da violência contra a mulher e a atenção humanizada àquela que estiver em situação de violência doméstica, bem como aos seus dependentes. 

As ações deverão ser articuladas entre a Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e a Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência no município, estado, Distrito Federal ou região.

O conteúdo de cada plano de metas, segundo o texto, deverá conter, entre outros itens:

Inclusão de disciplina específica de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher nos cursos regulares das instituições policiais;
Mínimo de uma ação integrada de formação entre os setores diretamente envolvidos, além de ações de capacitação de recursos humanos dos setores diretamente relacionados à área;
Programa de monitoramento e acompanhamento tanto da mulher em situação de violência doméstica quanto do agressor;
Programa de reeducação e acompanhamento psicossocial do agressor;
Plano de expansão das delegacias de atendimento à mulher;
Expansão dos horários de atendimento do institutos médicos legais e dos órgãos da Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência;
Expansão do monitoramento eletrônico do agressor e oferta para a vítima de dispositivo móvel de segurança que viabilize a proteção da integridade física da mulher.

As redes poderão ser compostas pelos órgãos públicos de segurança, saúde, justiça, assistência social, educação e direitos humanos, além de organizações da sociedade civil. O plano terá validade de dez anos, com atualização obrigatória a cada dois anos.

A proposição define que o plano deverá definir um órgão responsável pelo seu monitoramento e pela coordenação da Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e da Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. Além disso, o texto estabelece que terão direito a receber os recursos federais relacionados à segurança pública e aos direitos humanos os entes que aprovarem seus planos de metas no prazo de um ano após a publicação da lei.

O projeto também prevê que o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) deverá armazenar informações para auxiliar nas políticas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher. Ainda, os entes federados integrantes do Sinesp que deixarem de fornecer ou atualizar seus dados no referido sistema não poderão receber recursos do Fundo Penitenciário (Funpen) ou celebrar parcerias com a União para financiamento de programas, projetos ou ações de segurança pública.

A senadora Augusta acatou em seu relatório emenda apresentada pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que prevê a operação compartilhada entre o Sinesp e a Política Nacional de Dados e Informações relacionadas à Violência contra as Mulheres (Pnainfo). Além disso, Augusta fez mudanças no texto para evitar futuros questionamentos quanto à constitucionalidade do projeto. As alterações são relacionadas a eventuais violações do pacto federativo.

— Lá no Ceará, nós fizemos um relatório onde a gente visitou toda a rede de enfrentamento à violência contra nós mulheres e faltava essa integração, que não existia. Cada órgão fazia o seu [sistema] e a gente não tinha realmente a integração dessas informações entre os órgãos, entre as entidades que, com certeza, vão vir a fortalecer o que a gente realmente quer: que é combater a violência contra nós mulheres —  disse a relatora.

A senadora Damares elogiou a medida e o acolhimento das sugestões apresentadas. 

— Os ajustes na relatoria vão evitar, lá na frente, a judicialização e outros problemas. Então a gente dá um passo seguro para aprovação de uma lei muito importante. 

Discussão 

A discussão da matéria foi acompanhada pelo motorista de caminhão Regivaldo Batista Cardoso, pai da família brutalmente assassinada em novembro do ano passado, no município de Sorriso (MT). 

A família de Regivaldo foi atacada pelo pedreiro Gilberto Rodrigues dos Anjos, que trabalhava em uma obra vizinha à casa.  Ele matou e estuprou Cleci Calvi Cardoso, 46 anos, e as filhas Miliane, 19 anos e Manuela, 13 anos. A filha mais nova, Melissa, foi assassinada por esganadura e, segundo a polícia, não foi violentada sexualmente.

O assassino, que confessou a ação, tinha passagem por crime sexual e latrocínio. 

— Que vocês façam pelas mulheres, que a gente possa ter um país mais justo, que a gente possa trabalhar e voltar para a nossa família. Hoje eu volto para a casa da minha sogra (…). Eu não tenho mais família. Mas estou aqui para brigar para que outras pessoas não passem pelo que eu estou passando — disse Regivaldo.