Presos poderiam se comunicar por vãos das celas, diz presidente de sindicato de policiais penais de Mossoró

Investigadores suspeitam que presos se comunicaram por meio de janelas entre as celas — Foto: Reprodução
Policial penal fala sobre fuga de presos em MossoróInvestigadores suspeitam que presos se comunicaram por meio de janelas entre as celas — Foto: ReproduçãoImagens exclusivas das câmeras de segurança mostram a fuga na Penitenciária Federal de MossoróMovimentação de policiais na entrada de Baraúna — Foto: Gustavo Brendo/Inter TV CabugiMinistro da Justiça diz que não há prazo para fim das buscas de fugitivos do presídio de MossoróCamiseta de uniforme de presidiário encontrada durante as buscas pelos fugitivos do presídio de segurança máxima de Mossoró — Foto: DivulgaçãoBuscas por fugitivos de presídio de segurança máxima em Mossoró (RN) — Foto: Arte g1Nomes de fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró já aparece na lista da Interpol — Foto: Reprodução

Por g1 RN — Os presos que fugiram juntos, mesmo em celas separadas, da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) teriam a possibilidade de se comunicar através de vãos. É o que explicou o presidente do Sindicato dos Policiais Penais de Mossoró, Bruno Castro, em entrevista ao GloboNews Mais nesta segunda-feira (19).

Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça fugiram da penitenciária no dia 14 de fevereiro. Essa foi a primeira fuga da história de um presídio de segurança máxima no Brasil, desde a criação em 2006.

Eles estavam em celas de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que são individuais, e têm solários, onde os presos tomam banho de sol também individualmente, sem contato com outros detentos.

As celas dos dois detentos que fugiram – que passavam 24 horas isolados de qualquer outro apenado – eram vizinhas. A hipótese defendida pelos investigadores é de que os dois se comunicavam por vãos que há entre as celas e que, dessa forma, combinaram a fuga.

Deibson e Rogério fugiram da penitenciária da mesma forma, arracando a luminária das celas, e no mesmo momento, de acordo com as investigações (veja detalhes mais abaixo).

Para o presidente do Sindicato dos Policiais Penais de Mossoró, os presos podem ter tentado abafar o barulho que faziam para abrir o espaço da luminária na tentativa de evitar serem flagrados.

“Eu acredito que eles tentaram, com o pano, com a roupa própria deles, abafar um pouco o impacto. Mas aí vai ter que a investigação seguir e falar como foi feito”, disse.

Bruno Castro também disse que é protocolo haver revistas nas celas e que o contato dos policiais penais com os presos nunca envolvem apenas um servidor.

“Nunca fica um agente [policial penal] só com preso, sempre vai mais de um agente [policial penal], isso já é da categoria, já funciona assim para evitar corrupção”, explicou.

“Eu não vou precisar…essa questão de se tava tendo revista, vamos dizer, no dia, porque isso está sendo apurado pela Polícia Federal, eles logo vão dizer. Mas é nosso procedimento, sim, a gente sempre tem revista”, falou.

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O Fantástico mostrou como são, por dentro, as celas de onde os presos fugiram, e também a dinâmica da fuga. Os detentos – que estavam em celas individuais lado a lado – conseguiram escapar ao retirarem as luminárias das celas. Para isso, utilizaram pedaços de ferro.

A investigação trabalha com a hipótese de que os pedaços de ferro podem ter sido retirados da estrutura da cela, de trechos como a parede, o banheiro ou até debaixo de uma mesa – tudo de concreto. Os detentos também usaram uma mistura de sabonete e papel higiênico como uma espécie de reboco para camuflar os buracos nas paredes.

Após saírem pela luminária, eles entraram num espaço conhecido como ‘shaft’, onde passam dutos e rede életrica e que deu acesso ao teto da penitenciária, de onde desceram para uma área externa. Em seguida, cortaram a grade de arame do pátio – com um alicate, que a investigação acredita que estava na obra – e fugiram sem serem notados.

A operação de busca, que entrou no sexto dia, foi intensificada na região de Baraúna, cidade na divisa com o Ceará, nesta segunda-feira (19), e conta com mais de 500 agentes de segurança envolvidos.

A fuga mudou a rotina da comunidade Juremal, em Baraúna, onde os policiais também fazem buscas. Moradores e comerciantes relataram que estão com medo e tem fechado as casas e os comércios mais cedo.

A última vez em que os criminosos foram vistos foi na noite de sexta-feira (16), quando invadiram uma casa, fizeram os moradores reféns, jantaram e fugiram levando dois celulares, comida e água.

Em visita a Mossoró neste domingo, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse neste domingo (18) que não há prazo para a captura dos fugitivos. O ministro também alegou que a complexidade do terreno é um ponto de dificuldade para os trabalhos de recaptura.

A operação conta com helicópteros, drones, cães farejadores e outros equipamentos tecnológicos sofisticados.

Na quarta-feira (14) – mesmo dia da fuga – uma casa foi invadida na zona rural de Mossoró, a cerca de 7 km da penitenciária. Objetos pessoais como camiseta e uma colcha de cama foram furtados.

A polícia foi acionada e fez buscas na área. Na quinta-feira (15) objetos foram encontrados em uma área de mata. Um dos moradores da região confirmou aos investigadores que, entre os itens, estava uma colcha de cama furtada de sua casa.

A Polícia Federal recolheu material biológico desta casa. As amostras encontradas serão confrontadas com informações genéticas dos fugitivos.

Já na sexta-feira (16), com a ajuda de cães farejadores, uma camiseta de uniforme de presidiário foi encontrada na mata.

Na noite de sexta os fugitivos invadiram uma casa na zona rural, fizeram os moradores reféns, comeram, beberam água e roubaram dois celulares.

Os dois presos são do Acre e estavam na Penitenciária de Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Eles foram transferidos após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos – três deles decapitados.

Os dois homens são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que também está preso na unidade federal de Mossoró.

Rogério da Silva Mendonça é acusado de assaltos no Acre. Já preso foi acusado de mandar matar o adolescente Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, em abril de 2021. Após o crime, Rogério foi transferido para o Presídio Antônio Amaro Alves, na capital, para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde ficou desde então, até ter sido transferido ao Rio Grande do Norte.

Rogério responde a mais de 50 processos. Ele é condenado a 74 anos de prisão, somadas as penas, de acordo com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC).

Deibson Cabral Nascimento tem o nome ligado a mais de 30 processos e responde por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e roubo. Ele tem 81 anos de prisão em condenações.

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