Calor em Natal: Cidade perdeu 50% da cobertura vegetal e ficou 1,5º mais quente

Vista de Natal, capital do Rio Grande do Norte — Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi
Mapa mostra mudança na área verde da capital potiguar em 30 anos — Foto 1: Reprodução/Inter TV — Foto 2: Reprodução/Inter TVVista de Natal, capital do Rio Grande do Norte — Foto: Reprodução/Inter TV CabugiTemperatura em Natal está 2ºC acima da média, segundo a meteorologia

Por g1 RN — Um estudo realizado em Natal apontou que a capital do Rio Grande do Norte ficou 1,5º C ao longo de 30 anos. Um dos principais fatores, de acordo com a pesquisa, foi a diminuição da área verde na cidade. A cobertura vegetal foi reduzida em cerca de 50% no período.

De acordo com o doutor em climatologia e professor geógrafo do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Malco Jeiel de Oliveira, a pesquisa levantou dados de 1984 a 2013 e segue em revisão.

“Houve um acréscimo de 0,9º chegando até 2º, fazendo a média de 1,5º. Com o crescimento da cidade, com a horizontalidade, o crescimento da área urbana, e o crescimento vertical, isso trouxe a sua consequência que é justamente o crescimento da temperatura”, afirmou o professor.

De acordo com ele, o aquecimento da cidade não é um fenômeno exclusivo de Natal, mas de todas as grandes e médias urbes em crescimento, por fatores como a impermeabilização do solo e mais construções.

“Em climas temperados, nas cidades frias, não é tão catastrófico. Agora, em uma cidade tropical, próxima à linha do Equador, com insolação intensa, com o crescimento, a impermeabilização, a verticalização e a diminuição da área verde, a população vai sentir muito mais desconforto. Essa é uma questão muito séria”, ponderou.

Embora a cidade tenha muitas árvores, o professor aponta que elas estão concentradas em zonas de proteção, como é o caso do Parque das Dunas e o Parque da Cidade, entre outras. Por outro lado, Natal conta com ilhas de calor – grandes trechos sem cobertura vegetal.

De acordo com o professor, uma única árvore consegue reduzir em até 3º graus a área sombreada por ela, na comparação com outro trecho asfaltado, mas sem a cobertura de qualquer planta.

“Essas ilhas possuem temperaturas maiores que as outras áreas e menos densidade de vegetação. Praticamente não há em Natal ruas totalmente sombreadas, e inclusive praças públicas. Essa falta de arborização contribui para formação das ilhas de calor”, pondera.

Para além das mudanças climatológicas registradas ao longo das décadas, Natal também enfrenta uma situação meteorológica que deixou a cidade mais quente que o normal em 2024. A sensação térmica está 2º maior que a média.

Segundo o setor de Meteorologia de Empresa de Pesquisa Agropecuária (Emparn), o calor acima da média deve permanecer na cidade nos próximos meses, mesmo no período chuvoso.

O meteorologista Gilmar Bristot afirma que a média da temperatura na cidade atualmente está em mais de 27º, chegando facilmente aos 32º em dias mais ensolarados.

A atual onda de calor na cidade teria relação com o aquecimento das águas superficiais no Oceano Atlântico, próximas ao litoral, o que interfere na umidade do ar, que está acima do normal.

“Esse aquecimento do Atlântico Sul é normal nesse período do ano, porque você tem o verão no hemisfério Sul, mas não nessa dimensão. Devem estar acontecendo algumas anomalias no Oceano Atlântico Sul e no Norte, que ambos estão aquecidos, para que tenhamos essas temperaturas superficiais maiores que o normal”, disse Bristot.

Para o meteorologista Cláudio Moisés, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a cidade também sofre efeitos do fenômeno El Niño.

“A principal característica dele é a diminuição da intensidade dos ventos. Como nós estamos em uma região litorânea, com menos vento, você tem menor circulação de ar, o tempo fica mais abafado. Além disso, ele promove diminuição da chuva como um todo. Chove esporadicamente, em um local ou outro, mas quando você soma uma grande área, a chuva diminui, como é o caso da região Nordeste”, disse.