Mulheres se inspiram em tradição herdada das mães e vivem da pesca em Natal: ‘Quando entro no mar me sinto realizada’

Pescadora — Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi
Pescadora — Foto: Reprodução/Inter TV CabugiPeixe pescado em Natal — Foto: Divulgação/cedidaElenide Correia construiu a vida como pescadora e marisqueira — Foto: Divulgação

Por g1 RN — A profissão de pescador rende ao Rio Grande do Norte resultados na economia, devido às exportações e consumo interno, mas também conta a história de mulheres e comunidades que sempre tiveram na profissão o principal meio de subsistência.

Em Natal, pescadoras se espelharam em mulheres da própria família para dar início à jornada na atividade, que historicamente esteve ligada mais aos homens, fato que tem mudado.

Esse é o caso de Núbia Peixoto, que acompanhava a mãe na pescaria quando era pequena.

Núbia caminha todos os dias 25 minutos de casa até a beira-mar para trabalhar.

“Entro mar a dentro e não tenho medo. Meu marido me acompanha porque também é pescador, mas eu faço todo meu trabalho”, reforçou.

Mais do que a tradição familiar, a pescadora hoje tem o respaldo de pertencer, de fato, à categoria com a carteira profissional da atividade.

De acordo com levantamento do Painel de Consultas do Registro Geral da Atividade Pesqueira, de novembro de 2023, o Brasil tem 1.035.478 pescadores profissionais ativos – com carteiras -, sendo 49% mulheres.

No RN, são 14.238 licenciados, sendo 6.135 mulheres e 8.103 homens.

Núbia e outras mulheres que trabalham nas praias da capital potiguar costuma ir ao mar de segunda a sábado – isso quando o tempo e a maré permitem.

O uso da força durante as atividades é constante, o que não desistimula Núbia. “Às vezes eu sinto umas dores, principalmente nos braços, mas eu não desisto. Eu gosto disso aqui”, contou.

A pescaria também encantou a pescadora Ana Leitão, que só conheceu o mar depois dos 20 anos de idade. Depois disso, foi paixão à primeira vista.

“Eu comecei na pescaria há 15 anos por causa do meu marido. Ele é pescador e eu acabei conhecendo esse trabalho. Me encantei, porque o mar é maravilhoso. Quando entro nele, me sinto realizada. Não é fácil, mas é possível”, disse.

O dia dela começa cedo, às 5h. Assim como muitas mulheres, além da atividade profissional, ela tem o trabalho doméstico para dar conta. Ela diz que costuma dormir apenas a meia-noite.

Apesar de encarar o mar diariamente, Ana Leitão não sabe nadar. E esse é um dos principais sonhos dela atualmente.

“É um dos meus sonhos aprender, para conseguir mergulhar nele. Acho que para mim é uma forma de agrqadecer por tudo que ele já me deu. Não só para mim, mas também para a minha família”, disse.

Ana Leitão e Núbia Peixoto colhem o que foi plantado – ou mellhor, pescado – anos atrás por pescadoras e marisqueiras como Elenide Coreia, que tem 85 anos. Ela teve uma vida dedicada à essa atividade.

Elenide é outro exemplo de quem começou a cair no mar acompanhando a mãe na Vila de Ponta Negra, em Natal, onde ela vive até hoje.

“Eu ia para a praia, levava meus meninos, deixava eles brincando, enquanto eu pescava, pegava mariscos. Chegava em casa, fazia o que tinha e enchia a barriga deles”, disse.

Há 10 anos, as dores nas pernas passaram a impedir Elenide de atuar como marisqueira e pescadora. Hoje, ela planta, colhe e vende mangabas e trabalha como rendeira.

“Eu me considero uma mulher feliz. Criei meus filhos, estou andando, conversando, vou para o meu forró, para o pastoril”, disse.

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