Educação midiática é essencial para visão crítica de jovens, defendem debatedores

Na tela: Presidente eventual, senador Wellington Fagundes (PL-MT), em pronunciamento via videoconferência.
Presidida por Wellington Fagundes, a reunião foi realizada de forma remota Marcos Oliveira/Agência Senado

Por Agência Senado — Em debate na Comissão de Educação (CE) nesta quinta-feira (29), especialistas classificaram a educação midiática — conjunto de habilidades para analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos, dos impressos aos digitais — como essencial para orientação da juventude diante das possibilidades crescentes de novas tecnologias manipularem os processos de informação.

A realização da audiência atendeu a requerimento (REQ 142/2023 — CE) do senador Flávio Arns (PSB-PR), presidente da CE, aprovado em 20 de fevereiro.

O senador Wellington Fagundes (PL-MT), que presidiu a audiência, pontuou que a pandemia mostrou a importância da tecnologia na educação, mas disse que são necessárias políticas públicas para garantir acesso às novas ferramentas e qualificação de professores e alunos para sua utilização.

— Quem conhece o interior do Brasil sabe que há professores que ainda não contam com equipamentos básicos para usar em sala de aula. Muitos ainda não sabem lidar com as novas tecnologias de educação, e esses conhecimentos deveriam constar da educação básica dos professores.

Segundo o parlamentar, a educação midiática é necessária para aprimorar a qualidade do ensino, formar cidadãos mais conscientes e críticos, melhorar o debate público e conter a disseminação de notícias falsas.

A presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, concordou. Ela saudou a aprovação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de resolução que proíbe o uso de deepfake nas campanhas políticas, e espera que os estudantes do ensino médio — um dos alvos do programa EducaMídia, conduzido pelo Palavra Aberta desde 2019 — que vão votar pela primeira vez possam ser devidamente orientados sobre a identificação de conteúdos manipulados por inteligência artificial (I.A.).

É um problema mundial, na medida em que mudou completamente a forma como nós interagimos com a informação, como nós consumimos conteúdos, como nós produzimos conteúdo. Então, a interação com o resto do mundo, até para que a gente possa trocar boas práticas, é fundamental.

Fabio Meirelles, diretor do departamento de Direitos na Rede e Educação Midiática da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, associou a criação do departamento ao empenho do governo federal no tema — o qual, segundo ele, é “recorrente em democracias sólidas”.

— A gente tem feito várias parcerias com França, Alemanha, Reino Unido, Finlândia e Dinamarca, subsidiando essas experiências internacionais e construindo projetos em parceria com esses países, bebendo da fonte de países que já avançaram bastante no tema da educação midiática para que a gente também tenha essa referência internacional. E possa aprender com essas experiências e produzir experiências inéditas e inovadoras a partir daqui.

Por sua vez, Ismar de Oliveira Soares, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), definiu a educação midiática dentro de um contexto de emprego dos meios de comunicação para empoderamento da comunidade.

— Quando nós falamos dessa perspectiva, nós estamos falando de uma aliança: a educação midiática trazendo os paradigmas e as perspectivas pedagógicas de um tratamento, inclusive incluindo e ingressando no currículo, e a educomunicação trazendo uma utopia. A utopia de que somos comunicadores para defendermos o nosso espaço e defendermos a nossa natureza.

Soares disse esperar que a educação midiática contribua para a formação de jovens “críticos e empoderados”, unidos em torno de ações para a preservação de aspectos como saúde, biodiversidade e democracia.

— Mas isso não se faz simplesmente numa perspectiva intelectual de transmitir conhecimento, mas quando esses jovens se convertem, eles próprios, em agentes desse processo.

O jornalista e educador Alexandre Le Voci Sayad também destacou a dedicação do governo federal à educação midiática e lembrou da importância da troca de experiências internacionais sobre o assunto, ainda que considere difícil comparar políticas públicas de diferentes países. Ele disse que a educação midiática deve resultar na consolidação de um “hábito” e uma “cultura” na sociedade.

— O mundo está descobrindo também as práticas de educação midiática, não é só o Brasil. Todo mundo está penando para achar modelos que se encaixem nos sistemas públicos e que possam se desenvolver de uma maneira para todos.

Ele expressou preocupação com a expansão da inteligência artificial, principalmente como “parte estruturante” do processo de geração de fake news, e mostrou pesquisas que enumeram os resultados negativos da desinformação para toda a sociedade.

— Hoje a I.A. tem a função de mediar nossa relação com o mundo e está presente em todas as novas tecnologias. (…) Isso traz um novo desafio.