‘Eles tinham barras de ferro. Foram entregues a eles’, diz corregedor do presídio de Mossoró

Buscas por fugitivos de presídio de segurança máxima em Mossoró (RN) — Foto: Arte g1
Detentos de Mossoró invadiram casa, fizeram família refém, pediram para acessar redes e roubaram celularesBuscas por fugitivos de presídio de segurança máxima em Mossoró (RN) — Foto: Arte g1Nomes de fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró já aparece na lista da Interpol — Foto: Reprodução

Por g1 RN — As barras de ferro usadas pelos presos que fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró para “rasgar” parte da parede por onde eles passaram foram entregues a eles nas celas. A afirmação é do corregedor da penitenciária, juiz Walter Nunes, em entrevista ao g1.

A fuga aconteceu na última Quarta-Feira de Cinzas (14) e é a primeira registrada na história do sistema penitenciário federal desde sua criação, em 2006.

Nunes afirmou ainda que sem essas barras de ferro a fuga não teria acontecido. “Não é obra, não é nada. Poderia não ter obra, poderia ter as câmeras de maior tecnologia, mas teria esse fato da barra de ferro”.

O corregedor explicou que, mesmo com tecnologia e projeto de arquitetura adequados, o elemento humano é indispensável e levantou uma série de questionamentos sobre falhas nos procedimentos de segurança da unidade.

Um dos apontamento de Nunes versa sobre como os presos fizeram o “rasgo” na parede por onde escaparam sem serem ouvidos. “Eles não fizeram aquilo em horas, eles não podem fazer barulho o dia todo e por mais que eles tenham botado um pano para abafar, ninguém ouviu nada?”.

O corregedor explica que a entrega de refeições nas unidades prisionais federais é feita três vezes durante o dia por um policial penal através da portinhola da cela e que seria possível perceber a fissura na parede nestes momentos.

Além disso, o preso que está no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) – caso dos dois fugitivos – toma banho de sol isolado em um solário individual. No momento do banho de sol, segundo o corregedor, deve ser feita uma inspeção na cela.

A perícia da Polícia Federal aponta que os dois presos podem ter usado ferramentas do canteiro de obras para cortar o alambrado por onde escaparam.

“Pelo procedimento e pelo que foi dito pela direção, essas ferramentas não ficavam lá, mas neste dia estavam. Para além disso, no local, tinha um alicate apropriado para cortar essas cercas”, disse o juiz corregedor.

Após a fuga, o diretor da Penitenciária Federal de Mossoró foi afastado e um interventor foi nomeado.

Os fugitivos são Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, eles respondem por crimes como homicídio, roubo, latrocínio, tráfico de drogas e organização criminosa.

Ambos são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que também está preso na unidade federal de Mossoró.

Pelo menos três obras estão em andamento na penitenciária: a reforma da área do banho de sol, a reforma no alojamento dos policiais penais, e a reforma de uma área aberta na entrada do presídio, que está sendo fechada para climatização.

Apesar de confirmar que as obras estavam em andamento, Nunes, não especificou valores e nem a duração dos contratos das obras.

O corregedor explicou que o pátio do banho de sol era muito grande e que o número de presos por banho de sol é limitado. “A reforma é para dividir a área em duas para fazer banho de sol no mesmo momento”, afirmou.

Já o alojamento dos policiais penais está passando por uma obra de ampliação e de melhorias para oferecer mais conforto aos agentes.

A terceira obra acontece em uma área aberta que fica na entrada do presídio. Por causa do calor, esse local será fechado para instalação de ar-condicionado.

“Nas nossas casas a gente não tem que fazer reparos? Imagina em um presídio que está funcionando desde 2009, vai ter obra sempre que precisar”, disse o corregedor.