Serra Leoa: três jovens morrem após rituais de mutilação genital

Por Agência Brasil — A polícia de Serra Leoa investiga morte das três jovens que foram submetidas a mutilação genital no mês passado, durante cerimônias de iniciação na província do noroeste do país, de acordo com relatos locais. Os pais e as pessoas envolvidas estão atualmente sob custódia policial, informa o jornal The Guardian.

Serra Leoa é um dos países africanos com maior taxa de mutilação genital feminina (MGF). Apesar de décadas de campanhas de sensibilização, a prática tradicional que constitui violação dos direitos humanos das mulheres, conforme tratados e convenções internacionais de muitos países, continua a fazer parte dos costumes e normas sociais para garantir que as jovens sejam socialmente aceitas e possam se casar.

As três jovens – Adamsay Sesay, 12 anos, Salamatu Jalloh, 13 anos, e Kadiatu Bangura de 17 anos – morreram durante cerimônias de iniciação, consideradas um ritual de passagem à vida adulta e um pré-requisito para o casamento em algumas culturas. Em Serra Leoa, o procedimento de mutilação genital feminina é normalmente realizado por soweis – membros seniores das sociedades secretas Bondo – compostas exclusivamente por mulheres. “Todos os procedimentos que envolvam a remoção parcial ou total dos órgãos genitais externos ou outras lesões infligidos aos órgãos genitais femininos por motivos não médicos” são considerados MGF, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Aminata Koroma, secretária executiva do Forum Against Harmful Practices (FAHP), organização que trabalha para erradicar as práticas nocivas como a mutilação genital feminina em Serra Leoa, disse que os pais das jovens e as pessoas que as cortaram estavam sob custódia policial, segundo o Guardian

Além de constituir violação flagrante dos direitos humanos das mulheres e jovens internacionalmente, a mutilação genital feminina é também uma forma de violência contra elas e uma manifestação de desigualdade e discriminação de gênero. Apesar de a ONU ter aprovado em 2012  resolução que proíbe  pratica, ela ainda existe em cerca de 30 países em todo o mundo, incluindo Serra Leoa.

De acordo com estimativas atuais, cujos números serão atualizados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no próximo mês, pelo menos 200 milhões de mulheres e jovens foram submetidas à prática em todo o mundo. Estudo realizado em 2019 revelou que 83% das mulheres serra-leonesas tinham sido submetidas à mutilação genital feminina, uma ligeira queda em relação aos 90% de 2013.

A erradicação do procedimento é reconhecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que apela aos 193 países signatários para que tomem medidas para “eliminar todas as práticas nocivas, como o casamento infantil, o casamento precoce e forçado e a mutilação genital feminina” até 2030. 

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