Morte de líder do Hamas pode prejudicar esforços de trégua em Gaza

O chefe da delegação do Hamas, Saleh al-Arouri, fala durante uma cerimônia de assinatura da reconciliação no Cairo, Egito, em 12 de outubro de 2017. REUTERS/Amr Abdal lah Dalsh/File Photo
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Por Agência Brasil — A morte de um chefe do Hamas no Líbano retira um nome de destaque da lista dos mais procurados por Israel, mas pode levar os líderes exilados do grupo palestino a se esconderem ainda mais, dificultando os esforços para negociar novos acordos de cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns.

O vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, foi abatido por um drone nos subúrbios ao sul de Beirute, em um reduto do Hezbollah, aliado libanês do Hamas apoiado pelo Irã. O ataque foi amplamente atribuído a Israel, inimigo declarado do Hamas.

Israel não confirmou nem negou sua participação, mas o ataque ocorreu um mês depois que a emissora israelense Kan divulgou gravação do chefe da agência de segurança interna de Israel, Shin Bet, prometendo caçar o Hamas no Líbano, na Turquia e no Catar, mesmo que isso levasse anos.

Nesta quarta-feira, o chefe do serviço de espionagem israelense Mossad, David Barnea, disse que estava empenhado em “acertar as contas” com o Hamas, acrescentando: “Que toda mãe árabe saiba que se seu filho participou, direta ou indiretamente, do massacre de 7 de outubro, seu sangue está perdido”.

A morte de Arouri, segundo Ashraf Abouelhoul, editor-chefe do jornal egípcio Al-Ahram e especialista em assuntos palestinos, “pode levar o Hamas a endurecer sua posição para não parecer que está cedendo às pressões ou ameaças de mais assassinatos”.

Os riscos são altos tanto para os 2 milhões de palestinos que tentam sobreviver ao bombardeio israelense em Gaza quanto para os reféns israelenses mantidos no enclave pelo Hamas, que governa o território costeiro e, assim como o Hezbolah, é aliado do Irã.

Os negociadores do Hamas, incluindo Arouri, estiveram em conversações mediadas pelo Catar com Israel sobre um possível cessar-fogo adicional na guerra e as perspectivas de novas libertações de reféns israelenses.

Ainda na semana passada, os dois lados estavam discutindo com mediadores do Catar sobre uma trégua e reféns, disse uma fonte familiarizada com as negociações, indicando um período em que o ataque de Arouri pode ter estado nos estágios finais de preparação.

As preocupações com a segurança podem agora complicar as coisas, disseram os analistas.

Mohanad Hage Ali, vice-diretor de pesquisa do Malcolm H. Kerr Carnegie Middle East Center em Beirute, afirmou que, nos últimos anos, os grupos palestinos que operam no Líbano, onde o Hezbollah é um ator poderoso, se acostumaram com uma medida de segurança. O Hamas precisa ser muito mais cauteloso agora, acrescentou.

Arouri, de 57 anos, foi o primeiro líder político sênior do Hamas a ser assassinado fora dos territórios palestinos desde que Israel prometeu eliminar o grupo após o ataque de 7 de outubro, quando os militantes mataram 1.200 pessoas e levaram 240 reféns para Gaza.

BATALHA ABERTA

A perda de uma figura importante pode agora levar o Hamas a adotar uma linha mais dura contra Israel, que atualmente está realizando ofensiva aérea e terrestre devastadora contra o grupo, disseram analistas à Reuters.

A extensão de qualquer mudança na postura do Hamas ainda não está clara.

Hussam Badran, líder político do Hamas no exílio, reagiu de forma desafiadora à morte de Arouri: “Dizemos à ocupação criminosa (Israel) que a batalha entre nós e eles está aberta”.

No entanto, Sami Abu Zuhri, oficial do Hamas, disse que, embora a morte de Arouri “tenha suas consequências”, a posição do movimento continua sendo a de que se Israel interromper totalmente seus ataques, o grupo estará aberto a conversações “sobre todas as outras questões”.

O assassinato de Arouri também pode ampliar a guerra de Gaza para novo território no Líbano, marcando o primeiro ataque a Beirute depois de quase três meses de bombardeios transfronteiriços entre o Hezbollah e Israel que se limitavam ao sul do Líbano.

O Hezbollah sofrerá pressão para vingar seu aliado, especialmente porque ele foi morto no reduto do grupo em Beirute, disseram os analistas.

*Reportagem adicional de Huseyin Hayatsever e Ahmed Mohamed Hassan

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