Bar do Roberto Carlos: conheça a história do local em Natal que só toca música do Rei há 30 anos

Bar do Roberto Carlos, em Natal (RN) — Foto: Leonardo Erys/g1
Bar do Roberto Carlos, em Natal, só toca música do Rei há 30 anosBar do Roberto Carlos, em Natal (RN) — Foto: Leonardo Erys/g1Chico Popular, do bar do Roberto Carlos, colocando um disco de papelão para tocar — Foto: Leonardo Erys/g1Encontros de Chico com Roberto Carlos — Foto: Leonardo Erys/g1Chico Popular do Bar do Roberto Carlos — Foto: Leonardo Erys/g1Bar do Roberto Carlos, em Natal (RN) — Foto: Leonardo Erys/g1

Por g1 RN — Já imaginou um bar que toca músicas de um único artista há mais de 30 anos? Pois saiba que existe um lugar como esse em Natal, na capital do Rio Grande do Norte. É o Bar do Roberto Carlos, que fica na Zona Oeste da cidade e homenageia o Rei desde 1990.

O dono desse ambiente de veneração em forma de estabelecimento é Francisco de Assis Silva, conhecido como Chico Popular, que fez do fanatismo pelo artista o próprio trabalho.

Tudo no bar tem relação com Roberto, desde as cores brancas e azuis (as preferidas do cantor) nas pastilhas das paredes e no piso à decoração espalhada com pôsteres, fotos e elementos como a imagem de um calhambeque.

Vinis, cds, fotos, revistas e livros também integram a coleção pessoal. Há, ainda, algumas raridades, como uma cópia do documento de inscrição de Roberto Carlos na Ordem dos Músicos do Brasil ou de uma conta de energia da casa dele em Cachoeira do Itapemirim (ES), município onde nasceu.

Todo o acervo foi reunido ao longo de pelo menos quatro décadas, quando Chico adquiriu os primeiros vinis. E foi exatamente esse o ponto de partida para o bar se tornar temático. Ao inaugurar o estabelecimento, ele percebeu que os únicos discos que tinha para tocar no ambiente eram do Rei.

“Eu comecei a tocar aqui as FMs, porque eu não tinha outro tipo de música, eu só tinha Roberto Carlos. Só tinha disco dele. Com certo tempo, uns três meses, eu comecei a botar só música do Roberto Carlos, porque a FM, sabe como que é, toca o que eles quiserem, o que tiver na programação”, disse.

No início, alguns clientes não gostaram da mudança, mas representavam uma minoria. “Eu pensei: só tenho esses discos, então vou homenagear pelo menos a pessoa que eu admiro muito, que é o Roberto Carlos. Eu padronizei. Nem FM toca mais nada, vai tocar só Roberto Carlos”.

Desde então, o bar tomou estrada sem volta. Antes chamado de “O Popular” foi forçado a, com a fama, se transformar em Bar do Roberto Carlos, como passou a ser chamado pelos clientes. Até a figura de Chico – que também só veste azul e branco – é confundida.

“Bom que quando eu chego nos cantos, o pessoal diz: ‘Digaí, Roberto Carlos’. Já me chamam de Roberto Carlos. É impressionante. Mas é uma coisa muito gostosa. Você se sente bem com o reconhecimento das pessoas. É muito difícil você chegar num canto e as pessoas lhe cumprimentarem com carinho, com aquele respeito. É um sinal que um trabalho foi feito”, diz.

A única exceção é quando artistas se apresentam com música ao vivo no ambiente.

Roberto Carlos nunca foi ao bar, mas sabe que existe e, inclusive, a equipe dele já visitou o estabelecimento durante outros shows em Natal. Chico ainda carrega o sonho do ídolo conhecer o espaço. “Seria bom que um dia ele passasse por aqui”, diz.

Mas os dois já se encontraram algumas vezes: foram pelo menos 11 vezes desde 2003. Ao todo, o dono do bar diz já ter assistido pelo menos 24 shows do Rei em Natal e outras cidades do Nordeste.

Neste ano, irá pela primeira vez a três apresentações no mesmo ano: já viu em Campina Grande, em agosto, estará na Arena das Dunas no dia 14 de novembro, e em seguida verá Roberto em Maceió. “Olha o meu privilégio”, diz.

A idolatria é tamanha que o filho mais novo de Chico levou o nome de Roberto Carlos. E não é coincidência que seja o caçula.

“O Roberto Carlos é o caçula da família. Então eu também tinha que ter um Roberto Carlos caçula. Tem 25 anos hoje”, disse.

O dono do estabelecimento diz ter mais de 48 LPs de Roberto Carlos e mais de 40 compactos, além de 60 cds. Entre as raridades, o primeiro vinil de Roberto Carlos, Louco Por Você, de 1961, e um disco de papelão de uma ação promocial de 1964.

Esse “arsenal” o permitia, há anos atrás, estampar um desafio no próprio cardápio, que virou quase uma lenda entre boêmios da cidade: “Se você pedir uma canção do Roberto Carlos e não tiver para ouvir, você não paga a conta”.

Chico diz que ninguém nunca venceu o desafio enquanto ele esteve ativo. “Quando eu comecei aqui, como eu tinha toda a coleção dele, tinha isso no cardápio”, conta. “Era um documento, estavam com ele na mão. Mas nunca apareceu não”.

A brincadeira deixou de existir com a facilidade do acesso à internet. “Hoje em dia é só botar na internet que eu também tenho a música. Vou achar do mesmo jeito”, brinca.

Entre as tradições inegociáveis da casa estão duas: comemorar no dia 21 de abril o aniversário de Roberto Carlos, com direito a parabéns e bolo, e transmitir o especial de fim de ano da Globo, com direito a telão.

“O aniversário dele a gente comemora. Faz um bolo, convida as pessoas. O tradicional, o pessoal já sabe do convite. E no fim do ano a gente vê também o especial. Exibe umas imagens dele antes, enquanto não dá o horário da transmissão. É diferente”.

Chico Popular se orgulha do bar ser um ambiente frequentado por famílias e com nenhuma confusão registrada ao longo desses 30 anos. Palco de encontros, de reencontros – de pessoas que conheceram o espaço na década de 90 – e também de despedidas.

Certa vez, Chico conta, um casal decidiu ter no bar, ao som de Roberto Carlos, o último encontro juntos após anos de relacionamento. “Ele me falou que foi aqui que a havia conhecido, oito anos antes, então vieram se despedir também aqui”, disse.

Na época, a cerveja custava R$ 1,50. O homem deu R$ 5, independente de se iria beber ou não as três que havia pago.

“Eles começaram a beber frente a frente. Ele me chamou e me falou: ‘Existe uma música chamada Por Amor. Você coloca a música de alguém e em seguida bota a minha'”, contou o dono do bar.

A ideia do rapaz era que a música tocasse intercalada sempre com um outro pedido. A cada duas músicas, uma seria Por Amor.

“Quando tocou a música pela segunda vez, começaram a chorar, os dois. Um chorava de um lado e o outro chorava do outro. As lágrimas desciam. Ninguém falava mais nada, era só choro”, contou.

Eles não tomaram nem uma cerveja toda. Fizeram só se levantar. Um pegou um carro voltando e o outro pegou o carro em frente. Até hoje nunca mais vi esse pessoal”.

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