Crianças de Gaza estão traumatizadas por bombardeios

Palestinos, que fugiram de suas casas em meio aos ataques israelenses, abrigam-se em uma escola administrada pela ONU
20/10/2023
REUTERS/Mohammed Salem
© REUTERS/Mohammed Salem

Por Agência Brasil — Crianças em Gaza estão demonstrando cada vez mais sinais de traumas, após duas semanas de intensos bombardeios de Israel, dizem pais e psiquiatras no pequeno e lotado enclave. Não há lugar seguro para se esconder das bombas e existe pouca perspectiva de trégua.

Elas compõem quase metade da população de 2,3 milhões de pessoas de Gaza, vivendo sob quase constante bombardeio. Muitas estão aglomeradas em abrigos temporários, em escolas administradas pela Organização das Nações Unidas (ONU), após fugirem de suas casas, com pouca comida ou água potável.

Israel deve lançar um ataque por terra contra Gaza em breve, em resposta à ofensiva de soldados do Hamas no Sul de Israel em 7 de outubro. O ataque matou mais de 1.400 pessoas e deixou cerca de 210 mantidas como reféns.

“As crianças começaram a desenvolver sintomas sérios de trauma, como convulsões, molhar a cama, medo, comportamento agressivo, nervosismo e não sair de perto dos pais”, disse o psiquiatra de Gaza Fadel Abu Heen.

Mais de 4.100 palestinos foram mortos em Gaza até agora, incluindo mais de 1.500 crianças, enquanto 13 mil pessoas ficaram feridas, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.

As condições nos abrigos improvisados em escolas da ONU, onde mais de 380 mil pessoas estão abrigadas na esperança de escapar dos bombardeios, apenas agravam o problema.

Às vezes, há 100 pessoas dormindo em uma sala de aula, que exige limpeza contínua. Há pouca eletricidade e água, então os banheiros e vasos sanitários são muito sujos.

“Nossos filhos sofrem muito à noite. Choram a noite inteira, urinam em si mesmas sem querer e eu não tenho tempo de limpar”, disse Tahreer Tabash, mãe de seis filhos, abrigada em uma escola.

Mesmo lá, eles não estão seguros. Essas escolas foram atingidas várias vezes, disse a ONU, e Tabash viu ataques acertando prédios próximos. Quando seus filhos ouvem uma cadeira sendo movida que seja, pulam de medo, disse.

“Essa ausência de qualquer espaço seguro criou uma sensação geral de medo e horror entre toda a população, e as crianças são as mais impactadas”, afirmou o psiquiatra.

“Algumas reagem diretamente e expressam seus medos. Embora possam precisar de intervenção imediata, podem estar em estado melhor que outras crianças que mantiveram o horror e o trauma dentro delas”.

O sistema de saúde de Gaza já estava sobrecarregado antes da guerra deste mês, que o tem levado à beira do colapso. Especialistas em saúde mental alertam, há algum tempo, sobre o terrível fardo que já estava sendo colocado sobre as crianças.

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