Assembleia Legislativa debate liberação da torcida mista nos clássicos entre ABC e América

O evento reuniu representantes de clubes, judiciário, segurança e torcidas organizadas. — Foto: Eduardo Maia

A volta da torcida mista nos clássicos entre ABC e América foi tema de audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte nesta sexta-feira (14). Por proposição do deputado estadual coronel Azevedo (PL), o evento reuniu representantes de clubes, do judiciário, das forças de segurança e também das torcidas organizadas. No fim, o consenso de que é preciso buscar uma forma para que qualquer pessoa possa ir ao estádio de futebol em segurança.

“Nosso objetivo para realizar esta audiência é buscar a aplicação do Estatuto do Torcedor. O esforço de todos é buscar unir na Casa do Povo representante dos diversos órgãos com o objetivo de transformar para melhor o que já existe e garantir espaço de paz e lazer para as famílias e pessoas de bem. O esporte envolve o comércio, os serviços, turismo. E duas equipes em boa fase influenciam no aumento da presença do torcedor em campo”, disse Coronel Azevedo na abertura do debate.

A audiência contou com a presença do secretário estadual de Segurança Pública, coronel Francisco Araújo, que fez questão de ressaltar o trabalho que vem sendo realizado pelos policiais potiguares. “As forças de segurança do RN têm o dever e obrigação de garantir a segurança das pessoas, do patrimônio, a responsabilidade paira sobre os ombros de todos nós. Estamos juntos nessa luta, precisamos de paz nos estádios”, disse.

Já o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alarico, ressaltou que a decisão por torcida única no Estado foi tomada em conjunto pela PM, STJD, Federação de Futebol, Ministério Público e Judiciário. “Em virtude do número enorme de problemas, depredações, agressões, ameaças. Nós temos que separar o joio do trigo. E para isso, precisamos ter relação das torcidas organizadas”, alertou. Alarico destacou ainda que a média de torcedores nos jogos do ABC e América nos estádios aumentou após a determinação por torcida única.

Também presente ao debate, o promotor de Justiça, Luiz Marinho, ressaltou o trabalho que é feito em cada jogo de grande porte no Estado para conter a violência entre as torcidas. “O MP não foi o fomentador da medida (de torcida única), foram os fatos”, destacou. O representante do Ministério Público admitiu que é a favor da volta das torcidas nos clássicos entre ABC e América, mas enfatizou que atitudes precisam ser tomadas.

“Não podemos permitir que no primeiro jogo atos de vandalismo retornem, para deixar autoridades e as próprias torcidas desmoralizadas”, completou. O promotor ressaltou que a liberação total dos torcedores só ocorrerá com o compromisso assumido até mesmo pelas torcidas organizadas, que precisarão repassar aos órgãos de segurança quem são seus membros.

O presidente do ABC, Bira Marques, deixou clara a posição do clube a favor do retorno das duas torcidas ao estádio. “Futebol faz parte da economia do estado do RN, do país. Futebol gera muita receita, emprego e renda. Precisa ser tratado diferente. Muitas vezes não se pensa na quantidade de pessoas empregadas direta ou indiretamente na cidade. Sou empresário, e quando entrei no futebol percebi o quanto o futebol ajuda pessoas. Não vamos deixar isso acabar”, disse.

Gerente de marketing do América, Antônio Neto discursou representando o presidente alvirrubro, Souza, e também enfatizou a posição do clube a favor das duas torcidas. “Estamos cientes e queremos colaborar com a segurança pública. Pedir também a reflexão por parte de ambas as torcidas, é triste ver o torcedor entrar no estádio com tapumes para não receber pedradas”, afirmou.

Já o presidente da Federação Norte-Riograndense de Futebol (FNF), José Vanildo, cobrou uma discussão ainda maior sobre o tema e também se posicionou pelo fim da torcida única. “Não se resolve questão de segurança com decreto nem ato. Aqui no RN é indiscutível a importância do futebol. Temos que fazer um fórum permanente para evoluir muito mais do que só a abertura de público. Temos de mostrar definitivamente para a sociedade a importância do futebol como gerador de emprego e renda”, disse.

Os deputados estaduais Adjuto Dias (MDB) e Hermano Morais (PV) também participaram da audiência pública. Para o emedebista, o tema precisa ser permanentemente debatido pelas instituições. O parlamentar ressaltou que é preciso debater “formas para as duas torcidas retornarem aos estádios”.

Já Hermano Morais, cobrou um “trabalho de reeducação”. “Evoluímos em muita coisa. Temos estádio de primeiro mundo e não conseguimos ir para o mesmo jogo? O problema hoje está fora do estádio. Temos que fazer trabalho educativo com as torcidas, são elas que sustentam os clubes, que superam dificuldades. Tem muita gente com medo de ir ao estádio, chegamos nesse estágio. Não podemos permitir que algumas poucas pessoas continuem a prejudicar a coletividade”, disse.

Por meio de vídeo, o deputado federal general Girão (PL) também mandou sua mensagem para colaborar com a audiência pública. O parlamentar revelou que muitos investimentos de segurança foram promovidos no entorno da Arena das Dunas, e que o mesmo pode ser feito nos arredores dos demais estádios. Para isso, colocou o próprio mandato à disposição para o possível envio de emendas com este objetivo.

Além dos já citados, a audiência pública contou com as presenças dos ex-deputados estaduais José Adécio e Cláudio Porpino, o juiz Pablo Santos representando a coordenação da Justiça na área do torcedor, o vereador Anderson Lopes representando a Câmara Municipal de Natal, e o delegado da Polícia Civil, Joacy Rocha. Representantes de torcidas organizadas do ABC e do América também estiveram presentes e se pronunciaram durante o debate.