Resultado das urnas deflagra disputa no Congresso

O perfil do Congresso eleito neste domingo, 2, é mais conservador. — Foto: Reprodução

A nova correlação de forças que saiu das urnas, com o resultado das eleições para cadeiras do Congresso, deflagrou o processo de disputa pela presidência da Câmara e do Senado. Deputado mais votado em Alagoas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aumentou seu domínio e deve consolidar o favoritismo para permanecer no comando da Casa, a partir de fevereiro de 2023. No Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) vive situação delicada e trava um embate para repetir o que ocorreu em 2021, quando se elegeu com votos de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) e também da oposição. Partidos do Centrão, porém, estão de olho no seu cargo.

O perfil do Congresso eleito neste domingo, 2, é mais conservador. Isso significa que ganham espaço a bancada da bala e projetos mais identificados com temas de costumes. O núcleo duro de Lira, formado por PP, PL, União Brasil e Republicanos, conseguiu eleger praticamente metade dos deputados federais que tomarão posse em fevereiro, no mesmo dia em que a Câmara escolherá seu presidente. Até lá, o tamanho das bancadas pode mudar, mas o Centrão deve continuar controlando a pauta e também o orçamento da União.

Lira trabalha por um novo mandato de Bolsonaro, mas traçou uma estratégia para garantir a sua própria reeleição, mesmo num eventual governo Lula, e atrair aliados da esquerda. O plano passa pelo orçamento secreto. “Com Bolsonaro é uma realidade. Com o PT, naturalmente, seria outra, mas perseguiremos o mesmo caminho”, disse o presidente em exercício do PP, deputado Claudio Cajado (BA).

Nos bastidores, a expectativa é de que Lira procure os deputados eleitos, nos próximos dias, em busca de apoio para a sua reeleição à frente da Câmara. Em troca, ele conta com a verba do orçamento secreto, incluindo os R$ 7,8 bilhões que ainda não foram liberados neste ano e os R$ 19,4 bilhões reservados para 2023.

Nesta semana, Lira foi a público defender a manutenção desse mecanismo como instrumento de poder do Congresso sobre o Executivo. Ele é o principal articulador da distribuição de recursos e controla quais parlamentares ficam com a prerrogativa de enviar mais dinheiro para suas bases eleitorais, o que aumenta sua força na relação com os colegas.

O grupo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não tem candidato para o comando da Câmara. Nomes antes cogitados estão hoje fora do radar, como Marcelo Ramos (PSD-AM), que não foi reeleito, e o presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE). O deputado obteve novo mandato, mas se juntou a Lira para negociar uma fusão do União com o PP.

No Senado, o campo da direita ampliou o espaço, especialmente com a eleição de novos nomes do PL, partido de Bolsonaro. A legenda terá 14 senadores a partir de 2023 e se tornará a maior da Casa, tirando pela primeira vez a hegemonia do MDB. A situação zera o jogo para a disputa pelo comando do Senado. Bolsonaro apoiou a eleição de Rodrigo Pacheco, mas agora tem a intenção de emplacar um nome de seu grupo na sucessão.

O PL deve se unir ao Republicanos e ao PP para lançar um candidato à presidência do Senado. No total, esses três partidos terão 24 senadores em fevereiro de 2023, o que representa 40% dos votos que Pacheco conquistou quando concorreu ao cargo, há quase dois anos.