Feminicídio na cidade de Encanto destaca casos de violência contra mulheres no RN

Vítima foi morta com requintes de crueldade pelo ex-marido que se entregou e confessou o crime. — Foto: Reprodução

“Não basta matar. Tem que ser com requintes de crueldade”. A frase é professora-doutora e pesquisadora de violências contra a mulher Fernanda Marques, em referência ao feminicídio da jovem Antônia Adriana Alves Bessa, 36 anos, que foi brutalmente morta pelo ex-marido na tarde deste domingo (28).

O crime bárbaro, mais um contra mulheres potiguares, aconteceu na cidade de Encanto – Alto Oeste do estado. Segundo informações registradas pela polícia que atua no município, a vítima residia na zona rural e há dois meses estava separada de Kenedy José da Silva, 39 anos, ex- marido que não se conformava com o fim do relacionamento. O autor do feminicídio se entregou a polícia e confessou ter matado a ex- mulher que deixou três filhos órfãos.

De acordo com Fernanda Marques, a morte de Adriana só reforça os números que coloca o Rio Grande do Norte como o terceiro estado brasileiro que mais mata mulheres. “Essa é uma notícia muito triste, mais um caso de feminicídio que expõe que não basta só matar, mas tem que matar com requintes de crueldade, com facadas, pedradas, pauladas como forma de desfigurar a mulher”, pontuou Fernanda.

Para a professora, um dos pontos que chama a atenção nos feminicídios no RN, é que os casos estão se interiorizando. Ela aponta que os registros de mulheres mortas em cidades do interior do estado vem crescendo muito. “Antes os registros de feminicídio eram mais recorrentes nas cidades maiores e outro agravante, é que a maioria dos crimes são praticados pelos ex-maridos, ex-companheiros, ex-namorados que não se conformam com o fim do relacionamento. Reforçando o sentimento de posse que o homem tem em relação a mulher”, comenta.

AGOSTO LILÁS – O feminícidio que vitimou Adriana Alves na cidade Encanto, acontece dois dias antes de acabar o mês em que se realiza a campanha nacional de conscientização e combate a violências contra as mulheres, o “Agosto Lilás”. E a forma cruel como a vítima foi morta evidencia outro fator, o quanto as mulheres são frágeis diante de seus algozes.

Em Mossoró, o Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de Beauvoir (NEM/UERN) vem desenvolvendo uma extensa agenda de atividades voltadas para a conscientização em torno do grave problema. A coordenadora do núcleo Suamy Soares destaca que o Nem vem construindo um debate que aborda a violência contra a mulher de forma sistemática durante todo o ano, porém, essas ações são intensificadas durante o mês de agosto.

Ela reforça que todas as questões que envolvem violência contra a mulher devem ser tratadas não somente durante as campanhas, mas sim de forma mais atuante. “Este é um grande problema que a gente enfrenta atualmente, tratar as questões de violência contra a mulher apenas durante o Agosto Lilás”, ressaltou.

Durante todo este mês, o Nem realizou momentos de atividades voltadas para violência contra a mulher. Entre os temas abordados foram discutidos: Relacionamento abusivo, Rede de Enfrentamento à Violência, Números de Feminicídios no RN, entre outros. As atividades aconteceram no Campus Central da Uern, na Uern de Natal e será encerrado amanhã (30) na Uern de Pau dos Ferros. “Além das atividades internas, nós também realizamos muitas ações de conscientização nos meios de comunicação, nas Unidades Básicas de Saúde e nos Centros de Referência em Assistência Social“, completou.

Suamy Soares comenta sobre o feminicídio da cidade de Encanto. “Muito triste que no mês de sensibilização ao enfrentamento da violência contra a mulher a gente tenha mais um feminicídio em nosso estado. Precisamos pensar que a vida das mulheres não está valendo nada nessa sociedade. Temos que construir políticas contra isso. Nada é mais urgente que construirmos políticas de educação, de fortalecimento das mulheres e de igualdade de gênero em todos os espaços dessa sociedade. Essa pauta é central para a construção de um espaço melhor para todos e todas. Nós tentamos construir uma educação dentro do espaço que temos acesso, mas isso ainda é muito pouco diante de um problema que é estrutural, de uma sociedade construída dentro do machismo e do ódio às mulheres. Nós precisamos desconstruir a misoginia que está entranhada no estado brasileiro”, analisou Suamy Soares.

Com informações do Portal do RN