Em ato após assassinato, Lula pede a militantes que recusem provocação: ‘Não precisamos brigar’

'Estão tentando fazer da campanha uma guerra', disse pré-candidato a presidente durante ato em Brasília — Foto: Reprodução

Por Gustavo Garcia e Kevin Lima*, g1 — O pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu a militantes e apoiadores nesta terça-feira (12), durante evento de pré-campanha em Brasília, que não aceitem provocação no período que antecede as eleições. “Nós não precisamos brigar”, disse.

Lula fez o pedido depois de comentar o assassinato no último fim de semana de Marcelo Arruda, guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR). Arruda foi morto por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a própria festa de aniversário, na qual homenageava o PT e o próprio Lula.

“Não quero ninguém aceitando provocação. São três meses em que vamos nos multiplicar na rua. Vamos nos multiplicar fazendo passeatas. Vamos ter que dar uma lição de moral, que nem o Gandhi deu. Nós não precisamos brigar. A nossa arma é a nossa tranquilidade, o amor que temos dentro de nós, a sede que temos de melhorar a vida do povo brasileiro. Não temos que aceitar provocação. Se alguém provocar vocês, mandem morder o próprio rabo”, declarou em discurso no centro de convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Para o ex-presidente, “estão tentando fazer da campanha eleitoral uma guerra”.

A declaração foi a primeira de Lula em ato público após a morte de Marcelo Arruda, tesoureiro petista assassinado por um apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Nesta terça, partidos políticos pediram ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que o homicídio em Foz do Iguaçu seja investigado na esfera federal. Aras afirmou que só avaliará essa possibilidade após a conclusão do inquérito no Paraná.

O PT atribui a morte do militante a uma “escalada de violência política” inflada por ações do governo Bolsonaro.

O aumento de casos de violência política foi tema de reunião na última segunda-feira (11) de Lula com os dirigentes de partidos que integram o arco de alianças da chapa Lula-Alckmin. Na reunião, as direções das legendas decidiram não recuar dos eventos públicos e defender que apoiadores não entrem em provocações de adversários.

No evento com militantes, Lula aproveitou para criticar Bolsonaro, que, segundo o petista, “não respeita ninguém”, porque “não tem massa encefálica boa na sua cabeça”.

Na mais recente pesquisa Datafolha, o ex-presidente aparece com 47% das intenções de voto e Bolsonaro, com 28%.

“É uma pessoa com comportamento desumano, do mal, que não pensa no bem de ninguém a não ser o de si próprio”, afirmou.

Ao final do discurso, Lula declarou que, se eleito, recriará o Ministério da Cultura, extinto por Bolsonaro.

“A gente vai recriar o ministério da Cultura e vai criar em cada capital do país, um comitê de cultura, para que nunca mais alguém ouse [tentar] acabar com a cultura deste país”, afirmou.

Lula voltou a dizer que a população mais pobre deve pegar o dinheiro do Auxílio Brasil, que subirá de R$ 400 para R$ 600 até o fim do ano, com a aprovação da chamada “PEC Kamikaze”. mas não deve votar em Bolsonaro por isso.

“Vamos pegar um país muito pior do que eu herdei do Fernando Henrique Cardoso. Mas sou destinado e predestinado a enfrentar desafios. E quero que a sociedade brasileira saiba que eu quero voltar a ser presidente deste país. Quero voltar e agora eu não quero que as pessoas tomem café, almocem e jantem. Quero que as pessoas tenham o direito de estudar em universidade, de ter emprego decente, de ir ao teatro, cinema, lazer no bairro. Estou mais exigente”, declarou.

Empresários

Poucas horas antes do ato político, Lula participou de evento com empresários do setor do comércio, promovido pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). No encontro, se comprometeu a tratar o setor “com carinho” em um eventual governo.

Segundo ele, decisões não serão tomadas da noite para o dia. “Vamos tentar encontrar uma solução que melhor possa sinalizar a relação capital-trabalho neste país”, afirmou.

O ex-presidente defendeu a escolha do ex-governador Geraldo Alckmin como candidato a vice-presidente e atribuiu a ele o encontro com os membros da confederação. No PT, Alckmin é visto como uma fonte de aproximação entre petistas e os setores da economia distantes do partido.

“Ele não será um vice de brinquedo. Será um vice de verdade”, disse Lula.

“Eu devo essa vinda aqui ao Alckmin. Ainda não fui fazer debate nem com empresário nem com ninguém porque eu ainda não sou candidato à Presidência oficialmente” afirmou.

* Supervisão de Fausto Siqueira