Jovem que apanhou de motorista por ser gay terá de ser indenizado por empresa de aplicativo de transporte

José Lucas Borges, de 20 anos, será indenizado após apanhar de motorista de aplicativo em Anápolis, Goiás — Foto: Arquivo Pessoal/José Lucas Borges

Por Michel Gomes, g1 Goiás — O auxiliar de sushiman José Lucas Borges, de 20 anos, apanhou de motorista de aplicativo por ser gay e terá que ser indenizado por danos morais pela empresa em R$ 10 mil, em Anápolis, a 55 km de Goiânia. O rapaz conta que o homem andou 5 metros, disse que não ia levá-lo e o mandou descer. A decisão cabe recurso.

“Quando eu desci e bati a porta, ele deu ré, desceu e começou me agredir com a chave do carro entre os dedos, me socar e falar: ‘Você vai me pagar seu viado, eu não queria te levar’, e vários outros nomes sujos”, conta o rapaz.

O g1 entrou em contato com a empresa às 16h40 desta quinta-feira (16), por e-mail e telefone, e aguarda posicionamento sobre o caso.

A agressão aconteceu em abril deste ano, mas a sentença foi publicada na última segunda-feira (13). O rapaz conta que não foi ao hospital por medo da pandemia, mas as imagens feitas na época mostram sua roupa ensanguentada.

José Lucas diz que está aliviado com a sentença, mas revela que ainda tem traumas causados pela agressão.

“Fiquei com muito medo de andar com motoristas de aplicativo, fiquei muito tempo andando só a pé. Foi um baque. Eu apanhei por ser algo que eu sou, é muito difícil”, desabafa o jovem.
O processo
O advogado de José Lucas, Gustavo Nascimento fala que o cliente foi à delegacia e eles descobriram que o motorista que estava dirigindo não era o proprietário da conta em que dirigia, o que dificultou a identificação.

“Como a gente não conseguia identificar, entramos com uma ação contra a empresa, que reconheceu a falha de segurança, mas eles alegaram que não tinham responsabilidade porque quem fez a agressão foi o motorista”, explica o advogado.

No entanto, o advogado discorda e acredita que o papel da empresa é manter a segurança e o bem estar dos passageiros. Gustavo aponta ainda que após a identificação do motorista, uma investigação policial foi iniciada e foi descoberto que o homem tem antecedentes criminais.

Para preservar a investigação, Gustavo Nascimento se limitou a não passar mais informações sobre este processo. O g1 não conseguiu localizar o delegado responsável pelo caso.

A sentença, assinada pela juíza Vívian Martins, julgou como procedente o pedido do advogado de José Lucas e condenou a empresa ao pagamento.

“A conduta do motorista parceiro da reclamada, ao impor ao autor a retirada do veículo e realizado as agressões, configura tratamento mais que descortês e desrespeitoso ao consumidor, consubstanciando total desrespeito a sua pessoa e a sua dignidade, sendo, portanto, dano moral em sua acepção jurídica”, descreve o processo.