Debate na Assembleia do RN chama atenção para a saúde mental dos policiais

A audiência pública, proposta pelo deputado estadual Subtenente Eliabe (SDD). — Foto: João Gilberto

A Assembleia Legislativa do RN debateu, na tarde desta segunda-feira (6), a saúde emocional dos profissionais de segurança. A audiência pública, proposta pelo deputado estadual Subtenente Eliabe (SDD), reuniu membros do corpo clínico da Polícia Militar do RN, especialistas do Centro Integrado de Apoio Social ao Policial (Ciasp/Sesed), além de representantes das associações e sindicatos de policiais militares, civis e penais.

De acordo com dados destacados pelo deputado Subtenente Eliabe, 365 policiais militares foram afastados dos serviços em razão de problemas psicológicos e psiquiátricos até junho de 2021. “O que nos dá uma média de dois por dia. É uma situação que precisa de intervenção e essa audiência tem o objetivo de expor a problemática e contribuir para que possamos minimizar essa situação tão grave”, frisou.

Outro dado que chama a atenção foi apresentado pelo major Ladislau de Assunção, membro da junta médica da PMRN. Segundo sua fala, a psiquiatria é a área da saúde que mais afasta os policiais do trabalho. “Temos uma média de 30 novas entradas por mês. Quando colocamos esses dados em percentual, é de 40% a 45%, a primeira causa de afastamento do trabalho. A segunda é ortopedia, com 35%”, revelou.

Atuando há 10 anos na PMRN, o sargento Alexandre Bosco da Silva Oliveira, que é psicólogo e psicanalista e integra o Centro de Atenção Básica à Saúde da PM (CABS), destacou a natureza da atividade policial como “exigente, perigosa com risco de lesões e morte, cansativa, de muita responsabilidade e grande poder de frustração”, o que, segundo ele, “é autoexplicativa para justificar o adoecimento mental da tropa, que junta a questões pessoais do dia a dia, fazendo com que ele venha a baixar”.

O sargento disse que seria necessário pelo menos 10 psicólogos para dar conta da atual demanda da corporação. Atualmente existe uma lista de 20 militares da ativa aguardando vaga para dar continuidade a terapia”, contabilizou.

A ausência de um profissional de psiquiatria na corporação foi questionada pelo presidente da Associação dos Cabos e Soldados da PM, sargento Roberto Campos. “Nunca houve concurso para a área de saúde suplementar. Reconheço o esforço sobrenatural para dar atendimento mínimo a um policial que está sofrendo. Na PM existe um quadro médico de excelente qualidade, mas a polícia não tem psiquiatra”, apontou. O representante dos cabos e soldados confirmou que recebe muitos questionamentos sobre saúde mental.

Falando em nome da Associação de Praças de Mossoró e região, o sargento Juscelino Batalha, questionou a falta de representação da junta médica da corporação no interior do estado. “É inconcebível que um PM tenha que vir à capital para homologar o seu atestado. Porque a Polícia Militar não resolve essa situação? Não queremos luxo, queremos condições dignas de trabalho”, disse.

Presidente da Associação dos subtenentes e sargentos, policiais militares e bombeiros militares do RN, a subtenente Márcia questionou a distribuição de vagas para o próximo concurso da saúde da PM. “São muitas vagas para dentista. O Ministério Público intervém em tantos aspectos, poderia intervir nesse”, pontuou. A subtenente também citou a abertura de batalhões sem atenção especial para o policial que vai atuar naquela área e pediu atenção especial para o Ciasp (Centro Integrado de Apoio aos Profissionais de Segurança Pública). “É preciso ver essa questão com mais carinho, para que efetivamente funcione”, disse.

A psicóloga do Ciasp, Suely Ferreira, disse que o centro atua com três psicólogos e conta “com demanda muita alta”. Em sua fala, destacou as dificuldades de executar o trabalho devido a falta de estrutura, mas anunciou parceria com a Universidade Potiguar que deverá permitir, em breve, a disponibilização de estudantes de psicologia, nutrição e fisioterapia para reforçar a estrutura do Centro Integrado de Apoio aos Profissionais de Segurança Pública.

O sargento Artur Raimundo, que integra a reserva remunerada da Polícia Militar do RN, pede tratamento mais respeitoso em relação aos policiais que, assim como ele, contribuíram com a corporação. “É o mínimo que pode ser feito”, disse. Os psicólogos Cabo Vilani e Adriana Carla Botelho também colaboraram com o debate.

Encaminhamentos

Encerrando a audiência pública, o deputado estadual Subtenente Eliabe Marques apresentou uma série de encaminhamentos a fim de contribuir com alternativas para minimizar os problemas que envolvem a saúde mental dos profissionais de saúde pública do RN. Entre eles, a apresentação de requerimento solicitando celeridade no concurso da PM bem como a questão de redistribuição de vagas na área de saúde; requerimento ao Comando da Polícia Militar para descentralização da junta médica da polícia, assim como o uso de uma plataforma remota para minimizar o problema dos policiais que atuam no interior do estado; requerimento com solicitação de fortalecimento da atuação do Ciasp através de reestruturação e apresentação de projeto de lei para instituir a Semana de Saúde mental dos profissionais de saúde pública do RN. “Para dar andamento a essa problemática tão importante para a categoria e toda a sociedade”, finalizou.