Conheça o Remdesivir, 1° remédio a ter indicação para Covid na bula

O antiviral aprovado pela Anvisa é indicado para uso em pacientes com coronavírus que necessitem de suplementação de oxigênio — Foto: Reprodução

Por MetrópolesEm um comunicado transmitido pelas redes sociais, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou nesta sexta-feira (12/3) que concederá o primeiro registro de medicamento que terá em bula a indicação contra a Covid-19. O remédio em questão será o Remdesivir, já aprovado por agências regulatórias de diversos países, como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. O remédio foi aprovado com o nome comercial Veklury.

De acordo com Gustavo Mendes, gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, a decisão significa que o medicamento sintético poderá ser utilizado em pacientes acometidos pela Covid-19.

O remdesivir, produzido pela empresa Gilead Sciences Inc, foi criado inicialmente para tratar o ebola. Ele atua como um antiviral – impede que o Sars-CoV-2 se conecte às células, detendo a infecção – e tem sido usado experimentalmente contra doenças respiratórias.

A concessão do registro foi dada após uma robusta análise de eficácia, segurança e qualidade, segundo a Anvisa. Raphael Sanches, especialista da Gerência Geral de Medicamentos da agência, explicou que as três análises aconteceram em paralelo.

Segundo Sanches, a Anvisa realizou diversas reuniões com representantes da empresa fabricante do medicamento em maio, junho e julho de 2020. O processo de submissão contínua foi feito em 6 de agosto do ano passado.

“Tivemos várias conversas com a empresa para entender melhor o medicamento. Como ele foi desenvolvido com celeridade, muitos aspectos não estavam totalmente fechados”, justificou.

Alguns aspectos de segurança e qualidade analisados pela Anvisa dizem respeito aos estudos clínicos realizados pela fabricante, monitoramento de níveis de impureza do medicamento, risco de toxicidade, estabilidade do medicamento, prazo de validade, entre outros.

“Analisar o prazo de validade é um aspecto fundamental, pois esta informação está relacionada aos estoques e à segurança do medicamento. Se ele se degrada, pode deixar de funcionar e causar toxicidade”, detalhou Raphael Sanches.

Avaliações detalhadas

Na análise de qualificação de impurezas, Sanches explica que, em um primeiro momento, o medicamento apresentou níveis mais elevados que os limites estipulados por órgãos reguladores internacionais. Por isso, a Anvisa realizou um pedido de adequação, feito no dia 18 de setembro. Segundo ele, a empresa levou menos de cinco meses para cumprir as exigências e apresentar documentos pendentes.

“O perfil de impureza do princípio ativo e a possibilidade do medicamento ter alguma impureza tóxica foi um questionamento da Anvisa, além de alguns dados sobre instabilidade do produto”, enumera Raphael Sanches.

Após a avaliação, a Anvisa reuniu-se novamente com representantes da Gilead Sciences, no dia 5 de março. Na manhã desta sexta-feira (12/3), o órgão e a empresa realizaram a última reunião, para a finalização do envio do parecer do medicamento, a ser publicado ainda hoje. “A especificação, estratégia de controle e métodos de análise estão devidamente apresentados, analisados e aprovados”, afirmou Sanches.

Segundo o especialista da Anvisa, ainda restam complementações de análises de lotes do medicamento, para que o órgão consiga gerar um histórico do produto. “Resta ainda a complementação na justificativa das especificações, porque isso requer esclarecimentos que não são críticos, mas que precisam ser realizados”, completou.

Os estudos sobre o prazo de validade do remédio ainda não foram finalizados, porém, a partir dos estudos já apresentados pelo fabricante, a Anvisa determinou o período máximo de 36 meses. “Quanto maior for o prazo de validade, melhor para o gerenciamento do produto. Mas, por outro lado, não podemos conceder um prazo muito alto, pois isso poderia colocar em risco a segurança do produto”, ponderou Sanches.

Estudos clínicos

De acordo com Renata Lima Soares, gerente de Avaliação de Segurança e Eficácia da Anvisa, o rendesivir é indicado para pacientes com idade superior a 12 anos, com mais de 40kg, que estejam com pneumonia e com necessidade de suplementação de oxigênio.

“A indicação indicada em bula não se restringe a casos leves, moderados ou graves de Covid-19, mas para pacientes que requerem essa suplementação de oxigênio, desde que não estejam em ventilação mecânica”, frisa a especialista.

A dosagem recomendada é uma dose única de 200mg, administrada via intravenosa. A partir do segundo dia de tratamento, a dosagem cai para 100mg. O tratamento deve ser feito por no mínimo 5 dias e, no máximo, 10 dias.

Segundo Renata Soares, os primeiros estudos clínicos foram feitos para avaliar a segurança e o risco de toxicidade em macacos e ratos. Os pesquisadores observaram em testes in vivo e in vitro que o medicamento exibiu “potente atividade” contra o Sars-CoV-2 e nenhum efeito colateral importante.

A partir daí, os pesquisadores passaram para as fases 2 e 3 de estudos. As etapas finais envolveram 6.283 pacientes. O principal estudo em fase 3 foi conduzido pelo órgão governamental norte-americano Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas. As pesquisas foram conduzidas em 45 centros espalhados por diversos países, como Dinamarca, Reino Unido e Estados Unidos, mas nenhum no Brasil.

O objetivo principal foi avaliar a eficácia clínica na diminuição do tempo de internação. Após 28 dias de testes, os voluntários que foram medicados com rendesivir se recuperaram em 10 dias, contra 15 dias do grupo placebo (pessoas que receberam um composto sem eficácia).

A maioria dos efeitos adversos foram observados nos dois grupos, o que indica que o medicamento não causa efeitos consideráveis. A pesquisa também não registrou nenhuma morte relacionada ao uso do remédio.

Como funciona o medicamento

Estudo conduzidos pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos mostraram que pacientes hospitalizados medicados com rendesivir se recuperaram cinco dias mais rápido, em média, e pacientes com doença grave, sete dias mais rápido. Esses pacientes gravemente enfermos representavam 85% da população total do estudo.

Outra conclusão do instituto é de que o medicamento reduziu a probabilidade de pacientes que estavam recebendo oxigênio em baixo fluxo progredirem para estágios mais graves, onde necessitariam de ventilação mecânica ou morte. No maior grupo de pacientes do estudo, aqueles que necessitavam de pouco oxigênio, houve uma redução significativa na mortalidade, de 9,9% para 2,6%.

Os dados também apontam a redução da progressão (ou evolução) da doença. No grupo de pacientes que receberam o antiviral, menos pacientes evoluíram para necessidade de oxigênio suplementar ou níveis mais elevados de suporte respiratório, como ventilação mecânica.

Isso se explica porque o medicamento atua reduzindo a capacidade do vírus de se replicar no organismo e interrompe a reprodução, encurtando o curso da doença. Ao reduzir a progressão da doença, o rendesivir pode impedir que os pacientes entrem no estágio crítico da doença, em que há necessidade de ventilação mecânica, procedimento que diminui as chances de sobrevivência.