Vacina CoronaVac tem eficácia global de 50,38% nos testes feitos no Brasil, diz Instituto Butantan

Vacina CoronaVac tem eficácia global de 50,38% nos testes feitos no Brasil. — Foto: Reprodução

Por Lívia Machado, Marina Pinhoni e Patrícia Figueiredo, G1 SP — A CoronaVac registrou 50,38% de eficácia global nos testes realizados no Brasil, informou nesta terça-feira (12) o Instituto Butantan, que desenvolve a vacina contra a Covid-19 em parceria com o laboratório chinês Sinovac. O anúncio foi feito em coletiva de imprensa em São Paulo.

Chamado de eficácia global, o índice aponta a capacidade da vacina de proteger em todos os casos – sejam eles leves, moderados ou graves. O número mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é de 50%.

Na semana passada, o instituto divulgou que a CoronaVac atingiu 78% de eficácia na prevenção de casos sintomáticos leves, mas que precisaram de atendimento médico. Aquele anúncio, portanto, descartou os infectados que não precisaram de atendimento.

No entanto, quando esse grupo também foi levado em conta, aumentou o total de casos no cálculo – chegou-se, assim, à eficácia global de 50,38% (leia, abaixo, sobre a classificação de gravidade usada pela OMS). Na prática, significa que a CoronaVac tem o potencial de reduzir pela metade os registros de contaminação em uma população vacinada.

“Esta vacina tem segurança, tem eficácia e todos os requisitos que justificam o uso emergencial”, defendeu o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante o anúncio.

Os testes da CoronaVac no Brasil foram feitos em 12.508 voluntários – todos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus – e envolveram 16 centros de pesquisa.

Diretor de pesquisa do Butantan, Ricardo Palácios apresentou os dados do estudo nesta terça e afirmou que já estava prevista “uma eficácia menor em casos mais leves e uma eficácia maior em casos moderados e graves”.

“Nós conseguimos demonstrar esse efeito biológico esperado. Esta é uma vacina eficaz. Temos uma vacina que consegue controlar a pandemia através deste efeito esperado, que é a diminuição da intensidade da doença clínica”, disse Palácios.

‘Risco quase zero’, diz cientista

Na avaliação da bióloga e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, que também esteve presente na coletiva desta terça, a vacina cumpre o papel de iniciar a saída do Brasil da pandemia.

“Temos uma vacina que é potencialmente capaz de prevenir doença, doença grave e morte. E, afinal das contas, era tudo o que a gente queria desde o começo. A gente nunca falou no começo da pandemia: ‘Eu quero a vacina perfeita'”, afirmou Pasternak.

Ela destacou que, além de diminuir as chances de contaminação, o imunizante se mostrou eficiente para reduzir as complicações provocadas pela Covid-19.

“Fazendo cruamente uma análise de risco e benefício desta vacina – eu tenho uma vacina cujo risco, pessoal, [é] quase zero, porque os efeitos adversos são irrisórios”, completou a pesquisadora.

“Mas eu tenho um benefício, que não é só para mim, mas um benefício coletivo de saúde pública, de reduzir o risco de doença em 50%. Eu quero esse benefício. Não tem justificativa de não usar uma vacina com essa condição de risco e benefício.”

A CoronaVac é uma vacina contra a Covid-19 que usa vírus inativados. De acordo com pesquisadores chineses, o imunizante não apresentou “nenhuma preocupação com relação à segurança”. A maioria das reações foram leves, sendo dor no local da injeção a mais comum.

Eficácia da CoronaVac

A eficácia de uma vacina contra Covid-19 é calculada com o auxílio de um protocolo da OMS que classifica os casos da doença entre os voluntários dos testes.

Essa tabela da OMS separa os voluntários em dez níveis, sendo que o nível 0 corresponde a um paciente não infectado pelo coronavírus e o nível 10 equivale a um voluntário que morreu em decorrência da Covid-19.

A taxa de eficácia de 78%, apresentada pelo Butantan na última semana, foi calculada considerando somente casos da doença com pontuação maior ou igual a 3. Esse cálculo leva em conta a comparação entre o número de casos no grupo vacinado e número de casos no grupo que recebeu placebo (uma substância neutra).

Portanto a eficácia de 78% demonstra o quanto a vacina é capaz de prevenir casos em que é confirmada a infecção pelo coronavírus sintomática e com necessidade de intervenção médica.

Protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que classifica os casos da doença entre os voluntários dos testes de uma vacina. — Foto: Jornal da USP

Outro dado apresentado pelo governo estadual na última semana, a eficácia de 100% em casos graves corresponde à capacidade CoronaVac de evitar casos de Covid-19 que exigem hospitalização, ou seja, superiores a 4 na escala da OMS.

No entanto, o percentual de 100% na prevenção de casos graves não tem significância estatística no estudo. Isso porque o número de casos graves entre todos os voluntários, incluindo aqueles que receberam placebo, foi muito pequeno. Por isso, a diferença estatística entre esses dois grupos não é relevante para a pesquisa.

A eficácia de 50,38% divulgada nesta terça refere-se também pacientes com Covid-19 considerados independentes, isto é, que apresentam apenas sintomas leves, sem necessidade de intervenção médica – esse grupo compõe a o grau 2 da OMS.

O estudo não aponta a eficácia para evitar casos de pacientes assintomáticos da Covid-19, ou seja, não estima quantos voluntários receberam a vacina e tiveram a doença, mas não apresentaram nenhum sintoma, o que corresponde ao grau 1 da OMS.

Na Indonésia, dados preliminares de testes de fase 3 mostraram uma eficácia de 65,3% para a CoronaVac. O país aprovou o uso emergencial, e o presidente Joko Widodo deve receber a primeira dose nesta quarta-feira (13).