Dois anos da facada: Bolsonaro mantém ferida aberta na política; entenda

O então deputado sofreu um golpe de faca na região do abdômen — Foto: FABIO MOTTA/ESTADAO CONTEUDO

Por Felipe Freitas, iG Último Segundo — Em 6 de setembro de 2018, há exatos dois anos, o então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro, sofreu um atentado na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, durante campanha pelas ruas da cidade.

Enquanto era carregado em meio à uma multidão de apoiadores, sofreu um golpe de faca na região do abdômen , desferido por Adélio Bispo de Oliveira. O portal iG entrevistou especialistas para analisar como o episódio ainda reverbera no cenário político atual e se poderá ser relembrado nas eleições presidenciais de 2022.

Influência em 2020
Após dois anos do ocorrido, vale indagar se o episódio de 2018 ainda repercute politicamente no Palácio do Planalto.

O cientista político e professor do Mackenzie, Rodrigo Prando, avalia que o governo federal já fez uso do atentado em 2018 quando era propício. Para ele, a narrativa já foi utilizada em 2020 e pode continuar reverberando de acordo com o contexto.

Assim que sofreu o ferimento, Bolsonaro foi rapidamente levado ao hospital da cidade — Foto: Reprodução

“Durante o governo, em algumas ocasiões, o atentado foi explorado politicamente, como, por exemplo, na crença do presidente Bolsonaro de que Adélio não agiu sozinho e que a Polícia Federal, ou até mesmo o então Ministro Sérgio Moro não havia se empenhado o suficiente para esclarecer o episódio”, afirma.

Já para o professor de relações internacionais, Rodrigo Gallo, da Faculdade Metropolitanas Unidas, acredita que o episódio não tem mais influência sobre o governo atualmente, já que outras pautas mais recentes e urgentes, como a pandemia de Covid-19, têm mais atenção.

“Eu acho que nesse contexto, mesmo o episódio da facada sendo muito significativo, eu imagino que existam outros pontos hoje que, de um modo mais grave, afetam o governo. Nós vivemos um momento muito conturbado economicamente. A crise econômica se soma a uma série de problemas referente a própria forma como o governo tem lidado com a crise sanitária (…) nós temos um contexto de muitas crises envolvendo não só o executivo federal, mas também a relação dele com o legislativo”, diz.

Ele também avalia que, mesmo o episódio da facada tendo sido muito significativo, existam outros pontos hoje que, de um modo mais efetivo, afetam o governo. “Eu acho que a facada e as narrativas construídas em torno daquele episódio ficaram circunscritas ao ambiente da eleição”, completa.

Influência em 2022
Para os especialistas, a próxima eleição será muito mais balizada por aspectos mais recentes do que no episódio da facada. Temas como a pandemia e os impactos na sociedade serão, na visão de Gallo, o que vão dar o tom do próximo pleito.

“Cada eleição acontece dentro de um contexto. A eleição de 2022 vai acontecer em um cenário de pandemia, que tem gerado morte, que tem gerado desemprego, então, provavelmente, nós chegaremos na próxima eleição ainda com um discurso e com debates de rescaldo da pandemia. Até acredito que o episódio da facada possa ser resgatado por Bolsonaro ou outros candidatos em algum momento, mas não acho que será determinante”, afirma.

“Toda eleição tem um aspecto plebiscitário. Na eleição passada, o plebiscito foi contra o sistema, e a próxima vai ser reeleição para Bolsonaro. Diante disso, a facada, que eu avalio não ter sido relevante em 2018, se torna ainda menos relevante”, complementa o sociólogo Alberto Carlos Almeida.

Já o professor e cientista político do Mackenzie, Rodrigo Prando, pensa diferente. Na visão dele, a facada em Bolsonaro pode ser usada como estratégia para relembrar o eleitor da força do presidente e em como ele superou as dificuldades por ser um líder.

“É um fato simbolicamente relevante que se deu em 2018 e qualquer candidato usaria o atentado na construção e consolidação de capital político. Um discurso bem construído e com filmes bem estruturados pode reavivar a memória do eleitor e trazer simpatia ao provável candidato”, afirmou.