Em reunião, Bolsonaro pediu mudança na PF para proteger família

Conversa foi gravada no dia 22 de abril — Foto: Gabriela Biló / Estadão Conteúdo

Por O Dia — O presidente Jair Bolsonaro, em reunião ministerial gravada pelo Palácio do Planalto no dia 22 de abril, teria vinculado a mudança na direção da Polícia Federal a uma proteção de sua família de eventuais ações da instituição. Na ocasião, Bolsonaro teria afirmado que os familiares estariam sendo perseguidos. A informação foi divulgada pela Folha de São Paulo.

O presidente teria dito que “não poderia ser surpreendido” e que trocaria, caso necessário, o comando da PF e até o então ministro da Justiça, Sergio Moro. Pelo Twitter, Moro defendeu a divulgação do vídeo. “O acesso ao vídeo da reunião ministerial do dia 22/4 confirma o conteúdo do meu depoimento em relação à interferência na Polícia Federal, motivo pelo qual deixei o governo. Defendo, respeitosamente, a divulgação do vídeo, de

preferência na íntegra,para que os fatos sejam confirmados”, escreveu o ex-ministro.
O acesso ao vídeo da reunião ministerial do dia 22/4 confirma o conteúdo do meu depoimento em relação à interferência na Polícia Federal,motivo pelo qual deixei o governo.Defendo,respeitosamente, a divulgação do vídeo,de preferência na íntegra,para que os fatos sejam confirmados.

— Sergio Moro (@SF_Moro) May 13, 2020

Após assistir ao vídeo da reunião ministerial, o advogado do ex-ministro Sérgio Moro Rodrigo Sánchez Rios afirmou que o material ‘confirma integralmente’ as declarações dadas pelo ex-juiz tanto no anúncio de sua demissão quanto no depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 2. Em nota, o advogado afirmou ainda que o vídeo ‘não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional’ e defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública.

O registro foi exibido nesta terça a um restrito grupo de pessoas autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, relator do inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. A exibição foi realizada no Instituto Nacional de Criminalística da corporação em Brasília, ‘em ato único’ – conforme determinado por Celso de Mello – com participação de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União e procuradores que acompanham o caso.

Segundo Moro, em tal reunião, Bolsonaro teria dito que iria ‘interferir em todos os ministérios’. “O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça”, relatou.

O vídeo da reunião foi entregue pelo Planalto ao Supremo na sexta, 8, e o decano decidiu colocar temporariamente sigilo sobre o material. Ao autorizar o acesso do material pela PGR, AGU e por Moro, o ministro registrou que decidirá ‘brevissimamente, em momento oportuno, sobre a divulgação, total ou parcial, dos registros audiovisuais contidos na mídia digital em questão’. ‘

Mais cedo, Bolsonaro negou interferência na PF. “Esse vídeo agora é a última cartada midiática usando da falácia e mentira para tentar achar que eu tentei interferir na Polícia Federal. Pelo amor de Deus!”, afirmou.

“Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal nem superintendente”, disse Bolsonaro a “jornalistas ao sair do Palácio do Planalto. “Não estou e nunca estive preocupado com a Polícia Federal, a Polícia Federal nunca investigou ninguém da minha família, zero, isso não existe no vídeo, vocês estão sendo mal informados.”

Aos jornalistas, o presidente disse que entregou o vídeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por acreditar na verdade. “Eu entreguei [a gravação] para exatamente evitar falar que eu sumi com vídeo porque ele era comprometedor’, disse. “Eu acredito na verdade, a verdade está lá”, destacou Bolsonaro.

Segundo o presidente, o vídeo trata de questões relacionadas à política externa. “Esse vídeo pode ser todo mostrado a vocês, exceto quando se tratar das questões de política externa e segurança nacional (…) Não pode ser divulgado vídeo por questão de confidencialidade, assuntos estranhos ao inquérito.”

Pelas redes sociais, Bolsonaro afirmou que “qualquer parte do vídeo que seja pertinente ao inquérito, da minha parte, pode ser levado ao conhecimento público.”

‘Zero preocupação’

Nesta segunda, às vésperas da exibição do vídeo, Bolsonaro afirmou que tem ‘zero’ preocupação com a gravação e que decidiu entregar o vídeo pela ‘verdade acima de tudo’. No entanto, o presidente disse esperar que apenas trechos que envolvam o inquérito sejam divulgados. Ele afirmou que o tem da reunião foi ‘bruto’, pois era reservado e se fosse em público teria usado uma forma mais ‘polida’.

Antes de entregar a mídia ao Supremo, a Advocacia-Geral da União alegou que a gravação tratava de ‘assuntos potencialmente sensíveis de Estados’ e pediu para remeter apenas trechos. Depois pediu que a divulgação se restringisse aos trechos do inquérito e ainda pediu que fosse definida a cadeia de custódia da gravação.