‘Acreditem, a doença existe e quando chega pode não ter volta’, diz mãe que perdeu filho de 23 anos pro coronavírus no RN

Elione Aciole da Costa perdeu o filho caçula Matheus em 31 março para a Covid-19. Ele era gastrólogo e sonhava em ter uma doceria — Foto: Arquivo pessoal

Por Leonardo Erys, G1 RN — Elione Aciole da Costa, de 56 anos, vai passar o Dia das Mães deste domingo pela primeira vez em muito tempo sem o filho Matheus Aciole, de 23 anos. O jovem gastrólogo morreu de Covid-19 no dia 31 de março passado – ele foi o primeiro óbito da doença registrado em Natal.

Exatamente 40 dias depois da perda do seu caçula, a comerciante passa por crises de ansiedade e percebe muita gente descrente da gravidade da doença. “As pessoas em geral parecem que não estão acreditando. Você só vai acreditar quando passar por isso realmente. Acreditem, a doença existe e quando ela chega pode não ter volta’, falou Elione ao G1.

“Procurem se cuidar e acreditar para que não sejam vítimas. Só eu sei o tamanho da minha dor como mãe”.

Ela lembra que o coronavírus evoluiu de maneira muito rápida no filho. Num sábado à tarde ele conversou com ela e à noite foi entubado. Na terça-feira seguinte, o gastrólogo não resistiu. Foram apenas 12 dias após os primeiros sintomas da doença surgirem. “A nossa família está vivendo os piores dias que se pode imaginar. Acreditem na (gravidade da) doença”.

Proprietária de uma loja de bolos no qual o filho também trabalhava, Elione conta que precisou reabrir o comércio para se sustentar. No entanto, só permitido entrar no local de máscaras e após passar o álcool em gel que há na loja.

Certo dia, ela ficou perplexa com um cliente que se recusou a passar o álcool em gel e desacreditou do potencial da doença. “Eu fiquei tão chocada. Ele disse que era besteira e não quis passar o álcool em gel. Depois, me reconheceu, lembrou que eu tinha sido vítima, se desculpou e passou. As pessoas não estão levando a sério”, disse.

Abrir a loja de bolos, inclusive, acontece apenas por necessidade, segundo ela. “Como eu já passei, eu estou com muito medo mesmo. Só estou indo abrir meu comércio porque eu preciso. Se não eu estaria quietinha no meu canto”.

Jovem sonhava em ter uma doceria

Matheus Aciole era formado em Gastronomia e cursava o terceiro período do curso de Nutrição, com o qual se mostrava empolgado, segundo a família. Ele trabalhava com os pais na loja de bolos da família, e sonhava em ter uma doceria no futuro. “Ele sempre gostou dessa área e queria se especializar em doces finos, ter uma doceria”, contou o irmão Maxwell Aciole ao G1 um dia após o falecimento de Matheus.

A mãe contou que o jovem era amado por todos que o conheciam. “Ele era querido em todos os cantos que puder imaginar, pela família, pelos amigos”, falou Elione.

O irmão o resumiu como uma pessoa que “viveu intensamente”. Alegre, simpático, de muitos amigos, o jovem gostava de uma “farra”, segundo Maxwell. “Não perdia um festa, um show. Gostava de forró, de sertanejo. No Carnatal, pulava três blocos por dia e depois ainda ia para os camarotes”, lembrou. Ele afirmou ainda que não consegue lembrar de qualquer pessoa que tivesse raiva do irmão.