No Rio Grande do Norte, dos 512 mil idosos, 53,7 mil vivem sozinhos

Maria das Dores Bezerra (71), mora sozinha no bairro de N. S. da Apresentação, tem problemas cardíacos e se preocupa em não ter a quem recorrer caso seja infectada— Foto: Magnus Nascimento

Por Michelle Ferret, Tribuna do Norte — “Eu não tenho ninguém. Meu marido faleceu vai fazer oito anos e estou aqui. Meus vizinhos vem me ajudar, mas sinto muito medo. Desde que começou esse vírus, eu me sinto cada dia mais triste e com medo de morrer e ninguém saber”.

A voz cansada de Maria das Dores Bezerra (71), moradora do bairro de Nossa Senhora Apresentação na Zona Norte de Natal, expressa a preocupação que pode sentir um idoso que mora sozinho hoje. No Rio Grande do Norte, existem 512 mil pessoas com 60 anos ou mais. 214 mil são homens e 297 mil, mulheres. Os que vivem sozinhos e estão em isolamento somam 53.786 pessoas como Maria Bezerra.

Com o avanço do covid-19 no Brasil, somado ao número de mortes e as comprovadas complicações em idosos com mais de 60 anos, os que estão sozinhos em isolamento são as maiores preocupações dos  médicos. O epidemiologista Ion de Andrade aponta que os idosos são a grande prioridade no enfrentamento dessa pandemia, juntamente com os doentes crônicos.

“Se analisarmos a curva dos países com a crise mais avançada, a concentração da letalidade está no grupo dos idosos e pessoas com problemas crônicos. É essa população que sobrecarrega os hospitais e o serviço publico. Isso significa que se conseguirmos proteger nossos idosos, nós evitaremos essa sobrecarga e teremos um menor número de mortalidade”, disse Ion Andrade à TRIBUNA DO NORTE.

De acordo com o último boletim epidemiológico, divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil tinha 4.256 casos confirmados do novo coronavírus (Sars-Cov-2). Relatórios do Ministério da Saúde mostram que os casos mais graves estão entre pessoas de 60 e 79 anos. De acordo com boletim do Sistema de Informação de Vigilância da Girpe (SIVEP-Gripe), atualizado no último dia 26 de março, de um total de 391 casos graves de covid-19 avaliados, cerca de 80 pessoas tinham entre 60 e 69 anos e outras 70 pessoas, entre 70 e 79 anos. Há alto registro, porém, de pessoas contaminadas com idade entre 30 e 49 anos. Essa é a faixa de maior contaminação no Rio Grande do Norte.

No quadro de vítimas fatais, ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde, o perfil dos óbitos mostra uma concentração entre idosos. Os óbitos por covid-19, ocorreram no grupo de pacientes com mais de 60 anos, sendo mais concentrado na faixa de 80 a 89 anos.  Eram pacientes internados com quadro de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) por covid-19. Os dados apontam ainda que 85% apresentam  pelo menos um fator de risco.

No Rio Grande do Norte, o registro é de 68 casos da doença confirmados e um óbito confirmado. No Estado, os casos suspeitos são 1.414 e descartados 367 casos.