Detecção de casos de Aids no Rio Grande do Norte cresce 81,7%; índice é o maior do país

Acima da média nacional, RN é o 10º colocado entre todos os estados do Brasil. — Foto: Getty Images via BBC

Por Douglas Lemos, G1 RN — Dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde apontam que o número de detecção de casos da Aids no Rio Grande do Norte cresceu 81,7% entre 2008 e 2018. É o maior incremento no país. Segundo o levantamento, foram 20,9 detecções a cada 100 mil habitantes no ano passado; 10º lugar entre todos os estados brasileiros. Em 2008 este índice era de 11,5 casos.

Os dados foram divulgados na última sexta-feira (29). A média potiguar está acima da nacional, que é de 17,8 casos a cada 100 mil pessoas. Segundo o boletim, o Rio Grande do Norte teve aumento de 45,8% no coeficiente de mortalidade padronizado da Aids entre 2008 e 2018. O índice passou de 2,4 por 100 mil habitantes para 3,5. Foi o maior aumento da região Nordeste. A nível nacional, ficou apenas atrás do Acre, que aumentou 100%.

De 2007 a junho de 2019 foram notificados 2.696 casos de HIV no Rio Grande do Norte segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. Na região Nordeste, Piauí (1.898), Sergipe (2.071) e Paraíba (2.439) tiveram menos registros que o RN.

De acordo com Monica Bay, médica e professora do departamento de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), são vários os fatores envolvidos no aumento de detecção de casos no estado.

Para a especialista, as pessoas estão mais atentas e buscam mais serviços de saúde, mas a redução em campanhas educativas, como a extinção de redes sociais do Ministério da Saúde voltadas exclusivamente para alertar sobre o HIV, dificultam a comunicação sobre o vírus. “Quanto menos informação, mais vulneráveis as pessoas estão. A gente não fala sobre a doença. Consequentemente as pessoas se previnem menos”, alertou.

Cuidados específicos

Monica acredita que as greves dos profissionais da saúde são um agravante ao acesso a atendimento em locais que são referência, como o Hospital Giselda Trigueiro, na Zona Oeste de Natal. “Pessoas que tiveram casos diagnosticados não conseguiram acessar serviços específicos por causa das paralisações. Um paciente que recebe tratamento e que tem o vírus HIV controlado não o transmite a outra pessoa”, disse.

Ela cita que métodos de prevenção como a Profilaxia Pré-Exposição, que consiste em um comprimido que impede que o vírus causador da Aids infecte o organismo antes de a pessoa ter contato com o vírus, e a Profilaxia Pós-Exposição, o uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir infecções, deveriam ser melhor divulgados. “Precisamos de mais informação para a população sobre as formas de prevenção, que não é apenas com a camisinha”, observou.

De 2000 a 2018 o relatório aponta que foram 1.073 casos de gestantes infectadas pelo HIV no RN. Apenas Piauí (976) e Sergipe (1.001) tiveram menos mulheres grávidas com o vírus na região Nordeste no mesmo período.

A infectologista descreveu como frágeis os cuidados com as gestantes no estado, principalmente na transmissão vertical, quando a gestante que possui o vírus transmite o HIV para o bebê. “Elas precisam de cuidados especiais para evitar a transmissão do vírus em momentos como a gravidez, parto ou amamentação”, relembrou.

Em nota, a Secretaria da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP) disse que não faz campanhas e que o papel do estado é apoiar as ações dos municípios e ajudar, por exemplo, em capacitações.

A SESAP informou que 7.492 pacientes realizam tratamento para HIV/Aids em 14 Serviços de Assistência Especializada (SAE) existentes em Natal, Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, São José de Mipibu, Santa Cruz, São Paulo do Potengi, Caicó, Mossoró e Pau-dos-Ferros.