Audiência pública discute cuidado e prevenção de saúde animal

O parlamentar propositor da audiência aproveitou a ocasião para cobrar mais atenção dos Poderes Executivos, municipal e estadual, em relação aos animais — Foto: João Gilberto.

Assim como as pessoas, os animais demandam ações preventivas e cuidados com a saúde que ajudem a diagnosticar doenças de forma a promover um melhor tratamento do animal. Ciente disso, o deputado estadual Sandro Pimentel (PSOL) propôs audiência pública de tema “Outubro Rosa Pet, um guia de orientação e cuidado animal”, que tratou da prevenção do câncer animal. O debate, que também tratou da questão das castrações, sobretudo dos animais de rua, aconteceu nesta terça-feira (15), no auditório Cortez Pereira, na sede da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Vale lembrar que outubro é o mês de conscientização do câncer de mama e, também, o mês do protetor de animais no RN.

O parlamentar propositor da audiência aproveitou a ocasião para cobrar mais atenção dos Poderes Executivos, municipal e estadual, em relação aos animais. “O governo do Estado tem que ter um projeto de cuidado animal, um escopo inicial e, a partir daí, buscar ferramentas, organizações, parcerias, emendas, etc. Não cabe ao legislativo fazer isso. Eu já disse que estou à disposição para contribuir, mas não pode ser eu a fazer tudo sozinho. A gente tem que ter essa construção coletiva, mas alguém tem que puxar esse fio condutor, e quem tem que puxar esse fio é o Executivo, senão a gente não consegue chegar a lugar algum. A prefeitura de Natal e o Governo do Estado ainda não entenderam a importância dessa causa”, esclareceu o deputado Sandro Pimentel.

O secretário geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária, Filipe Carlos Bezerra Guedes, esteve presente na audiência e deu as contribuições dele sobre a saúde animal. “A medicina veterinária evoluiu muito nos últimos anos. Isso gera um mercado gigantesco. Mas também existe uma parcela da população que passa à margem desse mercado, que são os animais errantes, animais abandonados que sofrem com o abandono. A sociedade tenta prover de uma certa forma, por meio de ONGs e pessoas privadas. Nós vemos também uma atividade grande do centro de zoonose, mas infelizmente verbas públicas são escassas”, disse.

Ele informou que o Conselho atualmente é atuante junto ao Centro de Controle de Zoonoses nas campanhas de castração e também orienta as clínicas a ajudarem de forma voluntária. “Muitos têm se engajado, mas ainda é pouco. A quantidade de animais de rua é muito grande e ainda não temos dados tão específicos sobre essa quantidade. E o fator limitante de realizar as castrações é a mão de obra escassa e falta verba”. Sobre o câncer de mama nos animais, o secretário lembrou que nos cães e nos gatos o exame clínico feito pelo próprio tutor é um bom início, porque quanto mais cedo for diagnosticada a doença, mais fácil, rápido e barato é o tratamento e a tentativa de cura.

A secretária Geral da Organização não Governamental “Amor por toda a vida”, Úrsula Tatiana, também lembrou que é muito importante que a campanha do Outubro Rosa Pet seja difundida na população. “Existe essa lacuna de não ter a divulgação sobre o cuidado e proteção aos animais. Não há engajamento do poder público”, falou. Ela aproveitou para solicitar uma flexibilização das normas para que se possa fazer um maior número de castrações. “A gente tem uma grande quantidade de animais abandonados e esse controle só pode ser feito por meio de castração”. Úrsula também falou do desinteresse do poder público no assunto. “A causa não é prioritária para muita gente.

A professora de medicina veterinária da Universidade Potiguar, Amanda Rezende Duarte, opinou sobre a importância do Outubro Rosa Pet é fundamental. “Sou veterinária, então eu represento os profissionais que atendem esses animas, que chegam muitas vezes no estágio final da doença. Então, conscientização é fundamental. É importante o trabalho de conscientização não só sobre o câncer de mama, mas também no sentindo de posse responsável, de conduta adequada, de como ter e cuidar de um animal de estimação”. Sobre as castrações, a professora informou que a instituição para que trabalha está aberta a parcerias. Como órgão privado temos nossas limitações, mas conversando nós temos como ajudar. Essas ajudas, a gente acha que é pouco, mas no final acaba sendo algo expressivo.

O médico veterinário do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), João Ciro, também participou do debate. “É ruim eu falar mal do meu serviço, mas o número de animais atingidos com as castrações é ínfimo comparado à realidade. Apesar de que eu agradeço demais quem nos dá suporte para que elas ocorram”. Ele informou que uma das ações que o centro de zoonoses vem tentando fazer é o levantamento dos animais em Natal para saber o impacto desses animais.

O médico aproveitou o momento para sugerir que o Poder Legislativo e o Executivo conversem para que haja a efetiva execução das ações e também sejam criadas leis que sejam executáveis. E deu o exemplo do castramóvel, que muitas localidades no país não querem porque não têm como mantê-lo. “Ou a gente pensa de uma maneira coletiva, multidisciplinar, ou então esses mutirões de castração vão servir muito pouco para amenizar os problemas. E é preciso tirar esse estigma de que se trata apenas de bem-estar animal, porque esse assunto é de bem-estar coletivo”, disse. Outro aspecto levantado por João Ciro foi sobre a necessidade de institucionalização das coisas. “Temos que ter equipe nas zoonoses que trabalhe a parte de bem-estar animal todos os dias, senão não há continuidade. Não podemos viver na condição de receber apenas favores e boa vontade de pessoas dispostas a ajudar e depois ficar não ter mais”.

Por fim, o coordenador Estadual de Cuidado e Proteção Animal e Ações Especiais, Marcel Bezerra e Aguiar, participou da audiência informando que era a primeira vez que o Governo do Estado tinha um cargo voltado para a causa dos animais, sendo, portanto, tudo muito novo. “O que eu pude observar nas falas aqui hoje é que todo mundo precisa de apoio, então, se todo mundo tentar trabalhar em conjunto, a coisa pode acontecer. Quanto a essa nova coordenadoria, já tivemos a reunião com Guilherme Saldanha (secretário de Estado da Agricultura, pecuária e da pesca) e a Secretaria está disposta a dar esse apoio. Então vamos à Secretaria vermos o que temos de demanda para resolver. Não temos dinheiro ainda para colocar na causa, mas a gente pode conseguir com trabalho, então as portas estão abertas”, concluiu.