Juliana Paes fala sobre novela e governo Bolsonaro: ‘Não vou boicotar’

Atriz falou ainda sobre a razão de evitar dar opinião nas redes sociais — Foto: Divulgação/TV Globo.

Por Gilberto Júnior, da Agência O Globo — Juliana Paes pede uns segundos para fazer uma ligação importante para o marido, o empresário esportivo Carlos Eduardo Baptista, para saber das crianças, Antonio, de 6 anos, e Pedro, de 8. “Amor, quais são os planos? Já estão na praia! Ia sugerir isso. O domingo está lindo demais.” É o único dia de folga da atriz na semana, e sua família está a alguns quilômetros de distância. “Nos últimos meses, estou sendo mais Maria da Paz do que eu”, diz ela, referindo-se à boleira que interpreta na novela “A dona do pedaço”, de Walcyr Carrasco. “Hoje, vou ser a Juliana um pouquinho”, acrescenta, olhando a arara cheia de roupas brancas e pretas que usaria neste ensaio de capa.

A atriz fluminense conta que não tinha a intenção de se envolver num projeto dessa magnitude no momento. Queria tempo para ficar com os filhos, cuidar da casa e “sair para comprar lençóis”. Mas não conseguiu recusar o papel. “O que me move atualmente é poder levar uma mensagem de esperança para milhões de pessoas. Essa protagonista é uma bandeira de positividade, uma mulher que venceu pela força de seu trabalho. Eu, minha mãe e toda brasileira somos uma Maria da Paz”, comenta. “Depois de tantos dramas, ela poderia ser amargurada e melancólica. Mas não! Nosso povo sorri mesmo que esteja na pior. Somos, assim como Maria, um tiquinho ingênuos. Acreditamos no outro até que ele prove que não é bom.” Desde o começo, Juliana foi a primeira opção de Carrasco para estrelar o folhetim. “Ela não é só bonita, mas tem um carisma impressionante. É uma grande atriz capaz de transmitir as emoções mais profundas”, elogia o autor.

Aos 40 anos (“A sensação dessa fase é: OK, não sou mais uma menininha de 20, mas posso dar surra em muitas delas”), Juliana afirma que ainda não tinha vivido algo parecido em sua carreira. De acordo com seus cálculos, a personagem está em 46% das cenas da trama. A carga é pesada, com uma jornada de 12 horas de gravação — de segunda a sábado. Nos bastidores, é chamada pelos colegas de “mulher de aço”. “Já falei para o pessoal parar com isso (risos) . Eu realmente seguro a onda. Imagina se eu adoeço, como vai ser?”. Para Reynaldo Gianecchini, a atriz é sempre presente e troca muito com a equipe. “Ju é divertida e tem uma energia que não acaba. Também é carinhosa e estimula o elenco inteiro, sem deixar a bola de ninguém cair. É uma delícia contracenar com ela”, diz o ator.

A atriz acredita que desenvolveu esse espírito de liderança por ser a mais velha de quatro irmãos. “O primogênito vem com a missão de ser o cabeça, abrir os caminhos para os que vêm na sequência. Meus pais não me deram nada de mão beijada, até porque não tinham para dar. Fui criada num ambiente simples e amoroso, mas de respeito. Mamãe passava seu recado com o olhar.” Com os filhos, ela confessa que é adepta de uma “educação lúdica”. “Meu marido e eu somos complementares. Dudu é pragmático, eu, por ser artista, tenho uma visão mais romântica da vida. Tento solucionar tudo de maneira intuitiva. Nunca levei meus filhos ao psicólogo para resolver qualquer tipo de questão. São garotos tranquilos, que não dão problema na escola. O grande dilema, na verdade, é a interação com a internet, com os jogos on-line. Não podemos proibir totalmente, mas não podemos deixar correr solto. Qual é a medida correta?”, questiona. “No fim, o mais importante é o que fazemos. Educar é ser. Você quer ser melhor o tempo inteiro. Nesse sentido, a maternidade é um presente maravilhoso.”

Juliana diz que está criando meninos que não “façam distinção entre cores de roupas” e que lutem por equidade de gêneros. A atriz acredita que sua realidade facilita bastante para as crianças compreenderem a diversidade que existe no mundo. “Então, eles estão indo por um caminho de naturalidade”, destaca a atriz, entregando que os herdeiros entendem o tamanho de seu trabalho. “Meus rapazes têm orgulho, inclusive. Dia desses, fui buscar o Antônio no colégio e, ao me ver, ele virou para os amiguinhos e soltou: ‘Ali minha mãe! Ela é famosa’. Achei tão fofo. Aliás, a novela tem um público infantil imenso. Nesse mesmo dia, uma menina me perguntou se eu tinha levado bolo.”

Além dos filhos e do trabalho, há o casamento de mais de uma década com Carlos Eduardo — algo raro no universo do entretenimento brasileiro. “Recentemente, fizemos um curso de inteligência emocional (ideia de Juliana) e aprendemos que a responsabilidade do que acontece com a gente não é do outro. Não dá para terceirizar a culpa. Acabamos as aulas tendo crise de risos analisando nossos últimos perrengues”, diverte-se. “Minha vida conjugal não é perfeita. Temos arranca-rabos, mas existe respeito. Não brigamos na frente das crianças e não armamos barraco em público. Dessa forma, a gente não se expõe.”

Exposição só nas areias cariocas. Vire e mexe, o casal é flagrado por paparazzi na maior sintonia na praia. “Gostamos de tomar uma cervejinha, ficar olhando as crianças brincarem e sentindo a brisa do mar. É nesses momentos que trocamos ideias sobre os meninos. A praia é como se fosse a sala da nossa casa.”

A conversa ganha um contorno diferente, com espaço para o sexo entrar na roda. Segundo Juliana, esse quesito “transcende a coisa do prazer” em relações longevas como a sua. “Depois de tanto tempo, é tudo tão intenso e, ao mesmo tempo, simples. É um momento de repor as energias. É bem mais gostoso hoje do que no começo. Não tem um lugar que eu possa ser mais eu.”

E ser Juliana Paes não é fácil, certo? “Não costumo pensar se o preço que pago é alto. Tenho muitas regalias. Às vezes, sinto de não poder circular pelas ruas do Centro do Rio ou pelos corredores do Mercadão de Madureira. Sou uma pessoa que se comunica bem com o grande público, mas isso acaba virando uma função. Todo mundo vem bater papo comigo como se fosse amigo de infância. E isso tem a ver com o meu jeito, que inspira essa simpatia e empatia.”

A boa imagem perante a audiência a transformou numa das favoritas do mercado publicitário. Corre por aí que uma marca precisa desembolsar, no mínimo, R$ 500 mil para contratar a atriz. “Essa história de cachê é maleável. Depende do período de veiculação e da quantidade de posts nas redes sociais”, desconversa, sem confirmar ou negar valores.

Quando o assunto política é abordado, a atriz vai direto ao ponto. “Torço para que o país dê certo, independentemente de quem esteja em Brasília. Não bato palma para tudo que o presidente Jair Bolsonaro diz, mas vamos apoiar já que ele está lá. Não vou boicotar. Essa polarização é boba. Entre o branco e o preto, há infinitos tons de cinza, muitos pensamentos e ponderações. Sou a favor do diálogo.” É a favor também da reforma da Previdência. Um contrassenso para quem planeja se aposentar aos 45 anos. “Estou trabalhando para isso e caminhando com esse projeto de vida. Daqui a cinco anos, só saio de casa para fazer algo se eu estiver muito a fim. Talvez vire produtora ou diretora. Dizem que meus palpites são bons. Tenho vontade de sair, estudar e ficar mais esporádica nessa brincadeira, nessa roda-viva.”

Contra o politicamente correto — “do jeito que vem sendo praticado”, frisa —, Juliana foi ausência no movimento “Ele Não”, manifestação liderada por mulheres como forma de rejeição à candidatura de Bolsonaro. “Não sou obrigada a compartilhar uma hashtag só porque geral postou. Não considero ético pegar meus 19 milhões de seguidores no Instagram para opinar sobre um tema que não domino. Prefiro me abster. Achar que as pessoas precisam saber o que você pensa é o ego falando mais alto.”

Bem-sucedida no Brasil, a atriz, que segue em tratamento para minimizar os efeitos de cistos nas cordas vocais, não tem a ambição de carreira internacional. “Para quê? Não sou mais uma aqui. Não tenho esse desejo de me mudar para Los Angeles, fazer lobby e viver aquela fogueira das vaidades. Tenho até um pouco de medo.” Coisa de quem sentiu na pele as consequências do sucesso. “A gente percebe esses ciuminhos acontecendo do nosso lado. Na novela ‘A força do querer’, na qual interpretei a Bibi Perigosa, notei esse sentimento de uma maneira forte no ambiente. Mas encaro com normalidade. Se eu fosse uma dentista ou uma jornalista de destaque seria igualmente visada.”