Cansada de assédio, dona de espaço de bronzeamento avisa: ‘Vou tirar print e postar aqui’

Empresária diz que homens assediam no momento em que ela posta fotos das clientes — Foto: Alessandra Barros/Arquivo Pessoal

Por Graziela Rezende, G1 MS

É só mostrar a marquinha que os comentários já começam: “Ai que delícia, tira essa fita”. “Nossa que gata, deve ser melhor ainda sem o biquíni”. “Que gostosa, tira essa roupa”. Segundo Alessandra de Barros, de 30 anos, estes são somente alguns dos “clássicos” que os homens disparam, logo após ela postar fotos das clientes que fazem o bronzeamento, em Mato Grosso do Sul. Cansada de assédios, que ocorrem há três anos, a empresária avisa que vai agora tirar prints e mostrar quem são estas pessoas.

“Eu tenho um espaço, uma sala comercial aqui no bairro Mata do Jacinto, onde atendo as minhas clientes. Durante a semana, atendo por ordem de chegada, uma média de 5 a 7 clientes. Durante os finais de semana, a procura é maior e chega a até 15 mulheres. E eu faço questão de personalizar o atendimento, ficar por perto para acompanhar a finalização do bronze. Meu trabalho nunca ficou só na mão das ajudantes”, afirmou ao G1 Lêssa Barros, como Alessandra é conhecida.

Ao final, ela conta que pergunta sobre fotos, geralmente para as meninas solteiras. “Eu vejo com elas se aceitam que eu faça um foto da marquinha, para divulgar o trabalho. Só que eu não coloco o rosto, só quando elas pedem mesmo. Ou então eu fecho com alguma modelo, tenho muitas seguidoras nas redes sociais e as fotos geram milhares de visualizações”, comentou.

Empresária diz que está cansada de assédio dos homens ao postar fotos das clientes em MS — Foto: Redes sociais/Reprodução

É neste momento, que os “engraçadinhos” começam, segundo a empresária. “De um tempo para cá os assédios tomaram uma proporção muito maior. Tá demais mesmo. Eles visualizam o perfil e começam a disparar os clássicos. Eu não deixo falarem muito, já bloqueio logo porque acho isso muito nojento. Eu fico muito incomodada mesmo e, se eu for parar para denunciar, vou viver na delegacia”, ressaltou Barros.

Além das redes sociais, a empresária conta que também divulga o trabalho em classificados na internet. “Lá o negócio é muito pior. São homens que a gente nunca viu na vida e que ficam fazendo isso. Eles parece que não tem noção de que estamos ali para trabalhar e eu até pensei em atender ao público masculino no início, mas, não deu certo porque não respeitam e sempre levam para o outro lado. Na época, alguns me adicionavam no WhatsApp e começavam com a baixaria”, lamentou.

Atualmente, Lêssa ressalta que evita tirar fotos do bumbum das clientes e ainda pede a eles para protegerem o seio. “O assédio, se a gente for parar pra pensar, ocorre com muita frequência. Eu, como atendo no sol, trabalho de calça legging, tênis e blusa de manga comprida. Mesmo assim, com uma obra que está tendo aqui perto, os homens ficam subindo escadas, procurando e olhando. Eu não me sinto protegida e penso que, se não for o ensinamento dentro de casa, desde pequenos, isso não terá fim”, ressaltou.

Empresária conta que pede autorização para tirar fotos das clientes e mesmo assim prefere não mostrar o rosto delas — Foto: Alessandra Barros/Arquivo Pessoal

Conforme a delegada Joilce Ramos, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o assédio sexual não é paquera nem elogio. Nestes casos, a vítima pode denunciar o crime em até seis meses. Se for comprovado, o assediador pode responder pela contravenção com pena que chega a 2 anos de reclusão.