Potiguares buscam em estados vizinhos descontos de até 80% em passagens

Vista aérea do aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza (CE) — Foto: O Povo / Reprodução

Por Marcelo Hollanda, portal Agora RN — Depois de pesquisar as tarifas aéreas dos principais destinos brasileiros saindo de Natal, Eduardo, um estudante recém-graduado de Natal, tomou a decisão mais sábia de sua vida desde que decidiu encarar o vestibular na Universidade Federal para se livrar dos pesados custos das instituições privadas.

Resolveu pegar um ônibus para Fortaleza – nove horas de estrada – para se beneficiar de um desconto de 80% ida e volta num voo da Azul para São Paulo, destino que escolheu para passar as férias.

“Só estou na dúvida se pego um ônibus ou vou de avião até lá, já que das duas maneiras vou economizar muito dinheiro”, resume ele, ainda intrigado com as diferenças abissais entre as tarifas aéreas de Natal na comparação com as demais capitais nordestinas.

Há casos – e eles não são raros – de passagens 80% ou até 90% mais baratas em relação a Natal, em destinos próximos como João Pessoa, a apenas 189 quilômetros de distância, onde esse fenômeno já construiu um próspero mercado de translado de passageiros pelo WhatsApp.

Todos os dias, pagando R$ 50,00 por cabeça, dezenas de potiguares podem chegar facilmente ao Aeroporto Internacional Castro Pinto (João Pessoa), que completou 60 anos de operação em 2017 e, no mesmo ano, registrou seu primeiro voo internacional em 16 anos, ligando a capital paraibana a Buenos Aires, na Argentina.

Segundo um hoteleiro de Natal, que pediu para não se identificar, se não fossem pelas salgadas tarifas aéreas de Natal, João Pessoa já teria perdido esse voo há muito tempo. Como ele, outros empresários ouvidos pelo Agora RN não souberam responder porque essa disparidade de valores acontece.

“É um mistério de romance policial”, diz o presidente da Associação Brasileira das Agências de Turismo do RN, Abdon Gosson. “Não pedimos o privilégio de tarifas mais baratas, e sim o direito a uma tarifa igual a de qualquer um desses destinos”, ele pontua.

Ele lembra que caravanas de empresários locais foram organizadas, tendo o então governador Robinson Faria e respectivo secretário de Turismo, Ruy Gaspar, à frente, visitando todos os presidentes de empresas aéreas para reivindicar justamente isso: igualdade nos valores. Nada aconteceu.

Depois que ex-governadora Rosalba Ciarlini se recusou a conceder a desoneração de 12% do ICMS querosene para as companhias aéreas, o fato dela ter sido rapidamente concedida pelo governador Robinson Faria não foi suficiente para fazer frente à avalanche de estados que tomaram a mesma medida – entre as quais São Paulo, hoje o maior destino do País e, na opinião dos empresários, longe de precisar.

“Se não fosse por isso, era para hoje termos o dobro de voos para Natal”, lembra Gosson.

A prova é de que todos os aviões, de qualquer companhia, que aterrissam no moderno Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Natal, chegam invariavelmente com 90% da sua ocupação completa.

Mercado aquecido? “Longe disso, tarifas caras conjugadas a pouquíssimos voos”, explica o empresário.