Agência Estado – O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, pediu ajuda ao deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para conseguir ‘alinhar’ a defesa com o marqueteiro Duda Mendonça sobre notas frias no valor de R$ 2 milhões que teriam sido pagos em campanhas eleitorais do PMDB em 2014.
Delator no âmbito da Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, Joesley recebeu o deputado em sua casa, em São Paulo, no dia 13 de março de 2017, e gravou toda a conversa. Loures teria sido indicado pelo presidente Michel Temer como uma pessoa de sua ‘extrema confiança’ para ajudar o empresário em seus negócios e é acusado de receber R$ 500 mil em propina.
A gravação foi anexada ao pedido de investigação contra Temer feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e aceito pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu tenho R$ 2 milhões de nota do Duda”, disse Joesley a Loures. “Tem as notas, não tem é o serviço”, completou. “A minha preocupação é que eu tenho, de alguma forma, encontrar o Duda, para combinar com ele o que falar, porque eu não tenho o serviço”, explicou ao parlamentar afastado, que foi assessor especial da Presidência indicado por Temer até março deste ano.
“Pessoalmente, não tenho relação com o Duda, que eu saiba, o Temer também não tem. Eu sei que o Paulo Skaf tem boa relação com o Duda, e fala com ele”, disse o deputado, referindo-se ao presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). “Não sei se você tem relação com o Paulo, mais eu posso falar com o Paulo, e verificar como é que a gente encaminha isso”, sugeriu.
Skaf foi candidato a governador de São Paulo nas eleições de 2014 e teve Duda Mendonça como marqueteiro. Uma planilha entregue ao Ministério Público Federal (MPF) pelo diretor de relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, aponta um pagamento de R$ 2 milhões no dia 29 de agosto de 2014 para a campanha de Skaf.
Ao lado do valor na planilha, aparece a seguinte frase: “Campanha Paulo Skaff, autorizado por Temer, pagar para empresa JEMC, escritório de consultoria de Duda Mendonça, publicitário do mesmo”.
Na conversa com Joesley, Loures indaga o empresário se havia alguma investigação a respeito dos R$ 2 milhões. Ao ouvir que não havia, o deputado recomendou não procurar Duda Mendonça. “É que nem mexer em esterco de vaca seco, vai lá, passa rápido, vai entrar em decomposição, e em um ano não tem mais nada”, disse Loures, ex-assessor de Temer.
COM A PALAVRA, ROCHA LOURES
Procurado, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB/PR) disse nesta sexta-feira, 19, por meio da assessoria de imprensa, que não iria se manifestar a respeito da delação da JBS.
COM A PALAVRA, SKAF
A reportagem do Estado procurou a assessoria de Paulo Skaf e ainda aguarda resposta.
COM A PALAVRA, DUDA
O marqueteiro Duda Mendonça não foi localizado pela reportagem. Ele já admitiu ao Ministério Público Federal que recebeu recursos de caixa 2 da empreteira Odebrecht para a campanha de Skaf, em 2014. O presidente da Fiesp negou ter havido recursos ilícitos na sua campanha a governador.