Janot acusou Navarro e Dilma para forçar impeachment, diz ex-ministro Aragão

Ex-ministro da Justiça e subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão (José Cruz/Agência Brasil)
CONJUR – O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de inquérito contra o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Marcelo Navarro, em setembro do ano passado, com o único intuito de destruir Dilma Rousseff e garantir que a ex-presidente sofresse o impeachment. Quem afirma é o ex-ministro da Justiça e subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão. Segundo ele, Janot sabia da correção de Navarro, tanto é que foi uma dos defensores da indicação dele para o STJ.
Mesmo assim, às vésperas de o Senado Federal votar a admissibilidade do impedimento da petista, Janot resolveu mandar investigar Navarro e Dilma, unicamente por interesses políticos. A justificativa do então chefe da PGR era a delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral, que acusou Dilma de nomear o ministro para abafar a operação “lava jato”.
O potiguar Marcelo Navarro Ribeiro Dantas foi vítima da sanha de Janot – Reprodução

“O senhor [Janot], tanto quanto eu, conhecia bem Marcelo, pessoa corretíssima, de conduta ética irreprochável. Tanto que o senhor pediu por ele. Pedir pela indicação então é republicano e atender o pedido é criminoso?” argumenta.

No texto intitulado “Janot sai mesquinho, do mesmo modo que entrou”, publicado no site Diário do Centro do Mundo, Aragão expõe grande decepção com o colega de Ministério Público, a quem conhece há mais de 30 anos e considerava “parte de um projeto de defesa do Estado de Direito”.

Como exemplo da boa relação que tinham, o ex-ministro lembra do papel decisivo que teve para a nomeação de Janot na PGR. Ele conta que, apesar de Janot ter ficado em primeiro na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República, a tendência era Dilma escolher Ela Wiecko para o cargo. “Nada valia seu boquirroto primeiro lugar na lista e, sim, a palavra por mim empenhada aos interlocutores da senhora presidenta da República de que o seu era o melhor nome”, relata.

Para sua decepção, entretanto, nos quatro anos em que esteve à frente da PGR, Janot se mostrou “um fraco”, pois a “vaidade é um sinal da fraqueza que acaba por contaminar qualquer propósito ético ou político”.

Os “larápios egoístas e escroques ousados” que estão no poder, criticado por Janot em sua carta de despedida, só estão lá porque ele deixou, aponta Aragão. Mas isso deve ter ocorrido porque a vaidade ofuscou a vista do então PGR, acredita o ex-ministro. “Pensar assim é menos grave que lhe apontar protagonismo no golpe de 2016. Foi, porém, sua omissão imprópria que permitiu a Temer e sua turma praticar o maior arrastão de que se tem notícia na história política do Brasil”.

Apesar da relação de longa data, Aragão comenta que não demorou a perceber que havia se equivocado sobre o colega de Ministério Público. Antes de ocupar o posto máximo da instituição, conta, Janot era um crítico da ação midiática da Justiça, principalmente do julgamento da Ação Penal 470, que analisou o “mensalão”. A atuação “politiqueira” de chefes do MP era criticada por ele, a começar pelo caso do ex-deputado José Genoíno que, segundo Aragão, Janot acreditava ter sido condenado por um jogo de conveniências, de forma injusta.

“Mal instalado na cadeira de PGR, pede a prisão de José Genoino, quem sabia inocente e a quem prometera proteger, se o caso fosse, até o abrigando em sua casa”, critica. Segundo ele, Janot foi escolhido porque tinha o perfil adequado para “acalmar o país” após a turbulência da AP 470, mas o acusa de ter feito exatamente o contrário.

Em relação à “lava jato”, ele lembra que, no início da operação, em 2014, o então procurador-geral ensaiou fazer um contraponto. Tentou conversar e buscou preservar ativos de empresas em risco. Após a “turma de Curitiba”, onde iniciou a operação, dar “piti”, ele recuou: “O senhor foi dominado pela paúra, né? Enfrentar adversidades não parecia ser seu forte”.

Janot preferiu esconder sua fraqueza no moralismo tacanho que faz sucesso no país dominado pela falta de ideias e de ideais, lamenta Aragão. Como o impulso era seguir a manada no seu estouro contra as instituições, passou a fustigar a presidente que o nomeou no esforço de pacificação nacional, diz. Ele também lembra quando o juiz Sérgio Moro, responsável pela “lava jato” em primeira instância, divulgou gravações da então presidente sem autorização judicial, em flagrante ilegalidade, e Janot nada fez.