Por g1 PB — Seis brasileiros e três italianos foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por organização criminosa internacional e lavagem de dinheiro para a máfia italiana. A denúncia foi divulgada nesta terça-feira (17) e uma das formas de lavar o dinheiro proveniente de crimes como tráfico de drogas, extorsão e homicídio era adquirindo imóveis. Notavelmente na Paraíba, foram identificados apartamentos em Cabedelo e uma casa de luxo em um resort em Bananeiras.
A atual denúncia é resultado da Operação Arancia, que investigou uma ramificação da Cosa Nostra, uma das maiores organizações mafiosas da Itália que atua no Brasil, especialmente no Rio Grande do Norte e na Paraíba.
Em Bananeiras, uma casa de luxo em um resort foi adquirida. Em Cabedelo, foram comprados apartamentos em Intermares. Todos esses investimentos foram financiados com os lucros do tráfico de drogas e da extorsão realizada em Palermo, na Itália.
No Rio Grande do Norte, a partir de 2009, inúmeros investimentos corporativos e imobiliários foram identificados, como a compra de um restaurante de luxo em Natal e um grande loteamento residencial no município de Extremoz.
Segundo o MPF, Giuseppe Calvaruso é apontado como o principal líder da máfia Cosa Nostra no Brasil, orquestrando o esquema de remessa e lavagem de ativos ilícitos sicilianos. Ele contou com a colaboração fundamental de Giuseppe Bruno e Pietro Ladogana.
Pietro Ladogana, junto com sua então companheira, utilizou empresas e funcionários “laranjas”, além de transações fictícias, para receber e reinvestir vultosos recursos da máfia italiana no Brasil, especialmente em setores imobiliários e de serviços, conferindo aparência de legalidade aos recursos.
Após a prisão de Pietro em 2014, sua esposa continuou o esquema criminoso com Giuseppe Bruno, lavando pelo menos R$300 milhões com laranjas e empresas de fachada.
Segundo as autoridades italianas o valor total dos ativos investidos podem superar 500 milhões de euros, em valores atuais, mais de R$ 3 bilhões.
Além dos líderes mafiosos a organização Cosa Nostra contou com a participação de diversos “laranjas” para dificultar a rastreabilidade dos recursos ilícitos. Esses “laranjas” assumiram posições estratégicas em empresas de fachada chegando a serem “sócios”, mesmo sem ter experiência profissional, rendimentos ou patrimônio compatíveis com os recursos movimentados.
Entre os principais “laranjas” estão Sara da Silva Barros, companheira de Giuseppe Bruno; Jonas Lopes Barros, meio-irmão de Sara; Ene Maria de Oliveira, irmã de Sara; Regina Souza da Silva, que foi companheira de Pietro Ladogana; Gláucia Figueiredo dos Santos, que participou como sócia-laranja em empresas fictícias e Tamara Maria de Barros Lima, também companheira de Pietro Ladogana.
Deflagrada em agosto deste ano, a Operação Arancia resultou no mandado de prisão preventiva de Giuseppe Bruno, um dos líderes da mafia, além de cinco mandados de busca e apreensão, em três estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Piauí. Simultaneamente, a Direção Distrital Antimáfia de Palermo coordenou 21 buscas em várias regiões da Itália e na Suíça.
Além da condenação dos envolvidos, na denúncia desta terça-feira (17), o MPF pediu à Justiça a manutenção da prisão preventiva de Giuseppe, que está sob custódia na Itália, e de Pietro Lagodana, que atualmente cumpre pena no Presídio Estadual de Alcaçuz, no RN.
Ainda nesta terça-feira, a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5a Região (TRF5) negou pedido de habeas corpus e Giuseppe Bruno segue preso aguardando julgamento.
A Equipe Conjunta de Investigação (ECI) responsável pela operação é formada pelo MPF, Polícia Federal, Procuradoria de Palermo e pela polícia italiana, com o apoio da Agência da União Europeia para a Cooperação Judiciária Penal, Eurojust.