‘Gatinha da Cracolândia’ vira ré em três processos: dois por tráfico de drogas e um por organização criminosa

Lorraine Bauer, de 19 anos, conhecida como "gatinha da Cracolândia", segundo a polícia. — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por Kleber Tomaz, g1 SP — A Justiça de São Paulo aceitou as denúncias do Ministério Público (MP) e tornou ré a influenciadora digital e estudante Lorraine Cutier Bauer Romeiro, de 19 anos, conhecida como “Gatinha da Cracolândia”, em três processos contra ela: dois por tráfico de drogas e um por organização criminosa.

A informação de que Lorraine se tornou ré em um dos processos foi divulgada nesta terça-feira (16) pelo site Uol. O g1 confirmou com a nova advogada da influencer, Patrícia Carvalho, que ainda comentou que sua cliente responde a outros dois processos na Justiça.

O advogado anterior, José Almir, defendia a tese de que Lorraine era usuária de drogas e não traficante.

Lorraine e o namorado, André Luís Santos Almeida, conhecido como “China”, foram presos após serem identificados pela Polícia Civil como traficantes durante a Operação Caronte. A ação iniciada em fevereiro busca combater o tráfico na Cracolândia, onde além da venda há também consumo de drogas por usuários.

A estudante está na prisão desde 22 de julho, quando foi presa pela Polícia Civil com o namorado na casa onde moravam com a filha de nove meses dela em Barueri, na região metropolitana. Os dois foram acusados de guardar crack, maconha, ecstasy e lança-perfume no imóvel. Atualmente ela cumpre prisão preventiva na Penitenciária Feminina de Franco da Rocha, na região metropolitana. André também está preso pela mesma acusação.

Ainda, segundo a defesa da ré, a primeira audiência e julgamento desse caso de tráfico ocorrerá a partir das 13h de sexta-feira (19) no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital. A sessão por videoconferência será conduzida pela juíza Erika Fernandes, da 13ª Vara Criminal.

“O flagrante de tráfico foi forjado. Ela contou ainda que foi ameaçada e coagida pelos policiais que cumpriam um mandado de prisão. Que foram truculentos quando retiraram a filha dela que estava no colo. Minha cliente conta que foi ameaçada todo o tempo”, falou a advogada Patrícia.

“Pediram a senha do celular dela, acessaram as redes sociais, viram as fotos, tiravam sarro. Os policiais chamaram a mídia, quando viram as fotos e o número de seguidores nas redes sociais”, criticou a advogada de Lorraine.

Como influencer, ela se apresentava como Lo Bauer e tinha mais de 50 mil seguidores no Instagram antes de ser detida. De acordo com a denúncia do MP, a vida de luxo que ela mostrava nas fotos e vídeos era sustentada pelo tráfico.

Em nota, a Polícia Civil informou que Lorraine “foi presa após trabalho de investigação realizado pelo 77º Distrito Policial. As provas reunidas pela equipe da unidade consubstanciaram o pedido de prisão, que foi decretado pela Justiça. O inquérito policial foi relatado ao Judiciário, em agosto, e não mais retornou à unidade policial”.

Mais 2 processos

Os outros dois processos ainda não tiveram suas audiências marcadas, segundo a advogada de Lorraine.

A influencer também é ré num outro processo por tráfico de drogas no qual havia sido presa em flagrante em 30 de junho deste ano na Praça Princesa Isabel, também na região da Cracolândia. Naquela ocasião, policiais militares a acusaram de esconder drogas nas roupas íntimas.

Ela acabou tendo a prisão em flagrante convertida para prisão domiciliar naquela ocasião pelo fato de ter uma filha de nove meses. O pedido de conversão da prisão em flagrante para a domiciliar foi baseado em um entendimento de 2018 do Supremo Tribunal Federal (STF), de conceder o benefício a presas sem condenação gestantes ou que forem mães de filhos com até 12 anos.

“Nesse processo o flagrante de tráfico também foi forjado. Ela não estava com drogas”, disse a advogada Patrícia.

Lorraine também é ré num terceiro processo com mais 22 acusados, este por organização criminosa. Durante a Operação Caronte, a Polícia Civil filmou e fotografou suspeitos de traficarem drogas em tendas na Cracolândia. A influencer e o namorado foram vistos no local, segundo a investigação, vendendo drogas.

Questionada, a defesa de Lorraine informou ao g1 que sua cliente irá se pronunciar sobre essa acusação na Justiça.

“Ocorre que diante da falta de provas sobre a verdade dos fatos, minha cliente será obrigada a confessar algo que não fez”, falou Patrícia sem dar detalhes.

Imagens exclusivas obtidas pelo Fantástico, da TV Globo, mostraram Lorraine e André vendendo drogas na região, segundo o Ministério Público. Caso seja condenada nos três processos, ela poderá receber penas, que somadas, chegariam a até 19 anos de prisão.

Operação Caronte

De acordo com a Operação Caronte da Polícia Civil, Lorraine e André armazenavam drogas em um hotel na rua Helvétia, na Cracolândia. E ajudavam a abastecer outros hotéis com os entorpecentes. Em uma mochila havia 85 porções de maconha, 295 de cocaína e oito de crack. Também foram localizados 97 frascos de lança-perfume e 16 comprimidos de ecstasy e R$ 750 em dinheiro.

A Justiça já negou dois pedidos da defesa anterior de Lorraine: um de prisão domiciliar e outro de liberdade.

O g1 não conseguiu localizar a defesa de André para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.

Família

O irmão de Lorraine publicou vídeos em uma rede social em 23 de julho em que diz que a jovem “se envolveu com pessoas erradas” e que “a família não vai passar a mão na cabeça” dela.

Lorruam Bauer afirmou que ela “vai pagar pelo que fez”.

De acordo com informações da polícia, o pai de Lorraine morreu baleado em uma tentativa de assalto em 2014, o que teria desestruturado a família.