Sem estoque da CoronaVac, Natal soma 9.616 pessoas com a segunda dose atrasada

Município diz que recebe doses insuficientes e Estado atribuiu problema a um erro da capital potiguar. — Foto: Divulgação/Itanhaém

Por Julianne Barreto e Leonardo Erys, Inter TV Cabugi e G1 RN — Natal tem atualmente 9.616 pessoas que já deveriam ter recebido a segunda dose da CoronaVac e ainda não receberam porque acabaram as doses na capital potiguar. A aplicação da segunda dose estava programa para acontecer entre 14 e 28 dias depois da primeira dose, como recomenda o fabricante, mas não ocorreu, porque não há mais doses disponíveis.

Os dados são do Laboratório em Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e foram consultados no sistema RN+ Vacina na tarde desta terça-feira (20).

Sem doses disponíveis, Natal suspendeu pela segunda vez a aplicação da CoronaVac na segunda-feira (19). E isso tem preocupado quem já recebeu a primeira dose e está prestes a ultrapassar o prazo de 28 dias para a aplicação da segunda dose, como é determinado para eficácia pela fabricante do imunizante.

Esse é o caso, por exemplo, de uma tia de 69 anos da psicóloga Marianna Menezes Silvino. Ela já passou dos 21 dias do recebimento da primeira dose e agora teme que a segunda não esteja disponível até o 28º dia.

“Ela tomou a primeira dose, mas quando foi tomar a segunda dose ontem (segunda-feira), nós soubemos que a vacina tinha acabado. E aí começou o desespero de quem sabia, onde tinha, quando ia chegar. E ninguém sabe responder. Como fica a situação dessa idosa?”, questionou a psicóloga.

O relatório do LAIS indica ainda que há mais 19.281 pessoas que terão a segunda dose da vacina vencendo nos próximos 7 dias em Natal, sendo 19.134 da CoronaVac e 147 de Oxford/AstraZeneca. Ou seja, caso não recebam a imunização neste período, também estarão atrasadas em relação ao prazo estipulado pelos fabricantes.

“É uma preocupação que a gente tem visto da população em relação a essa ausência, essa falta consecutiva aqui em Natal. É importante a gente frisar que os gestores precisam fazer a ponderação quando eles recebem as doses e ponderar o volume que eles precisam armazenar, pra garantir a segunda dose”, explicou o pesquisador do LAIS, Rodrigo Silva.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal disse que “sempre que a capital inicia uma faixa etária de vacinação contra a Covid-19 é garantido que todo público correspondente seja vacinado,”, mas que “Natal tem recebido um quantitativo de doses insuficientes que não corresponde à realidade de sua população”. A pasta alegou que “por falta de doses a capital não está avançando na faixa etária, tanto é que desde do dia 10 de abril foi aberta a vacinação para idosos de 63 anos e até este momento continuamos vacinando esse mesmo público”.

Segundo a SMS, os dados do RN+ Vacina “têm delay no cadastramento dos usuários e não representa um dado atualizado em tempo real, podendo haver atraso médio de até 10 dias de atualização”. A pasta diz que “acredita que esse número seja bem menor”.

Distribuição das doses

A Secretaria de Estado da Saúde Pública (SESAP) atribuiu o problema em Natal a um “erro do município”, que não teria seguido as orientações técnicas, e afirmou que não houve falta de segunda dose da vacina nos outros municípios do estado.

A Sesap afirmou que distribuiu todas as doses entregues pelo Ministério da Saúde aos municípios e disse que Natal usou parte das doses que o Ministério da Saúde orientou que fossem destinadas exclusivamente à segunda dose (D2) para vacinar pessoas com a primeira dose (D1). Dessa forma, a cada nova remessa recebida pelo município há uma lacuna.

A pasta disse ainda que avalia ceder parte da reserva técnica, que é determinada pelo Ministério da Saúde, para o município de Natal para aplicação da segunda dose da CoronaVac em idosos e profissionais de saúde que estão dentro do prazo da aplicação e ainda não conseguiram o imunizante. A reserva técnica atualmente é de 9.309 doses.

Há uma semana, a Sesap havia relatado que não consideraria ceder a reserva técnica por achar injusto com os municípios que têm seguido as instruções.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o pedido da reserva técnica “foi uma reposição de perda técnica referente as fracos da CoronaVac que deveriam conter 10 doses, mas vieram 9. Essas perdas representam 6.042 doses que a capital deixou de aplicar”.