Levantamento em cartórios revela compras de imóveis por filhos de Bolsonaro com dinheiro vivo

Pagamento em dinheiro também foi registrado em transações de outros filhos do presidente e pela mãe deles, ex-mulher do presidente — Foto: Reprodução

Por Paulo Renato Soares, Jornal Nacional — Um levantamento de informações registradas em dois cartórios do Rio mostra que filhos do presidente Jair Bolsonaro compraram imóveis com dinheiro vivo.

Os documentos foram obtidos pelo jornal O Globo. Na compra mais recente, em 29 de dezembro de 2016, quando estava no primeiro mandato como deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pagou R$ 1 milhão por um apartamento em um prédio em Botafogo, na Zona Sul do Rio.

A escritura revela que ele já tinha dado um sinal de R$ 81 mil pelo imóvel e – pelo registrado no documento – estava pagando mais R$ 100 mil no ato em “moeda corrente do país, contada e achada certa”.

Tabeliães ouvidos pelo Jornal Nacional disseram que a expressão “moeda corrente contada e achada certa” se refere a dinheiro vivo.

O registro mostra ainda que Eduardo Bolsonaro iria pagar R$ 18,9 mil seis dias depois. A maior parte do valor, R$ 800 mil, foi quitada com financiamento na Caixa Econômica Federal.

Segundo o jornal, em 2011, quando ainda não era deputado, Eduardo Bolsonaro já tinha comprado outro imóvel usando dinheiro vivo.

Como registrado na escritura, ele pagou R$ 160 mil por um apartamento em um endereço de Copacabana: R$ 110 mil foram pagos no ato com cheque administrativo e os outros R$ 50 mil, em espécie.

A escritura do apartamento de Copacabana revela também que o imóvel foi comprado por um valor inferior ao que a prefeitura avaliava na época. No documento está descrito que a Secretaria Municipal de Fazenda, para efeitos fiscais, avaliou o imóvel em R$ 228 mil. Eduardo Bolsonaro pagou 30% a menos do que o valor de referência da prefeitura.

Carlos Bolsonaro

Irmão de Eduardo, Carlos Bolsonaro também comprou um apartamento no Rio em dinheiro vivo. O jornal O Estado de S. Paulo revelou que, em 2003, no primeiro mandato como vereador, Carlos foi a um cartório no Centro do Rio e pagou R$ 150 mil reais em dinheiro vivo.

Hoje, corrigido pela inflação, o valor corresponde a R$ 366 mil.

O imóvel fica em um prédio na Tijuca, Zona Norte do Rio, e ainda pertence ao vereador, que está no quinto mandato.

Prática na família

Pagar em dinheiro vivo parece ser um hábito na família Bolsonaro que atravessa gerações.

O Jornal Nacional já mostrou que Rogéria Bolsonaro – a primeira mulher do presidente Jair Bolsonaro e mãe de Flávio, Eduardo e Carlos – comprou um apartamento na Zona Norte do Rio em 1996 com dinheiro vivo.

A escritura registra que o preço “certo e ajustado de R$ 95 mil foi recebido integralmente no ato (…) Através de moeda corrente devidamente conferida, contada e achada certa e examinada pelos vendedores”. Em valores de hoje, atualizados pela inflação, são R$ 621 mil.

Na época, Rogéria era casada em regime de comunhão parcial de bens com o então deputado federal Jair Bolsonaro. Os dois se separaram dois anos depois, em 1998.

Decisão proíbe reportagens sobre ‘rachadinha’

O filho mais velho do casal, o senador Flávio Bolsonaro, também já usou dinheiro vivo em transações imobiliárias. Mas, por decisão da Justiça, a TV Globo está proibida de divulgar informações e documentos sob segredo de Justiça do inquérito que investiga o senador no caso da “rachadinha”.

A investigação é conduzida pelo Ministério Público do Rio.

A 33ª Vara Cível do Tribunal concedeu a liminar contra a TV Globo ao senador do Republicanos Flávio Bolsonaro, o principal investigado do inquérito, no dia 4 de setembro. A Globo afirma que a decisão judicial foi um cerceamento à liberdade de informar, uma vez que a investigação é de interesse de toda a sociedade.

A TV Globo não conseguiu contato com Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Rogéria Bolsonaro.