Em depoimento, Moro reforça que Bolsonaro pediu interferência na PF: ‘Quero a do Rio de Janeiro’

Confira a íntegra da fala do ex-ministro na Polícia Federal — Foto: Marcos Correa/PR

Por IG — A íntegra do depoimento do ex-ministro da Justiça Sergio Moro à Polícia Federal foi divulgada na tarde desta terça-feira (5). O conteúdo aponta que Moro reiterou as acusações feitas ao presidente Jair Bolsonaro em seu discurso de despedida, mas disse que não afirmou que Bolsonaro cometeu crimes.

Moro reforçou que o presidente teria pressionado pela troca no comando geral da PF e na superintendência do Rio de Janeiro. Ele destacou que as pressões de Bolsonaro aconteciam em geral de forma oral, em reuniões no Palácio do Planalto que por vezes contavam com a presença do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno.

Acusação de crime

Em seu depoimento à PF, Moro repetiu e detalhou as informações dadas em seu discurso de despedida do Ministério da Justiça em relação a interferência de Bolsonaro na escolha do comando da Polícia Federal.

Ele reforçou que “narrou fatos verdadeiros” em sua coletiva do dia 24 de abril e que seus objetivos eram esclarecer os motivos de sua saída e preservar a autonomia da Polícia Federal.

Para Moro, as substituições requisitadas por Bolsonaro não tinham causa e configuravam desvio de finalidade, “como reconhecido posteriormente pelo próprio Supremo Tribunal Federal em decisão proferida no dia 29 de abril que suspendeu a posse do DPF Alexandre Ramagem”. No caso do comando geral da PF, ele também afirmou entender que se tratava de “uma interferência sem uma causa apontada e, portanto, arbitrária”.

No entanto, Moro nega que em suas afirmações tenha imputado algum crime ao presidente. “Quem falou em crime foi a Procuradoria Geral da República na requisição de abertura de inquérito e agora entende que essa avaliação, quanto a prática de crime cabe às Instituições competentes”, disse.

Troca no comando da PF

Em seu depoimento, Moro detalhou ocasiões em que Bolsonaro pediu a substituição do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Segundo ele, os pedidos vinham acontecendo desde agosto de 2019.

Moro falou ainda que Bolsonaro insistia em remover Valeixo do cargo e substitui-lo por Alexandre Ramagem. O ex-juiz da Lava Jato teria adiado a situação por algum tempo, mas, como se sabe, Bolsonaro voltou a pressionar pela substituição no início deste ano.

Moro reitera que os avisos sobre as possíveis trocas na PF eram feitos de maneira verbal por Bolsonaro e acrescenta que por vezes o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, estava presente na sala e que o assunto era conhecido por várias pessoas no Palácio do Planalto.

O ex-ministro relata ainda que pensou em ceder às pressões de Bolsonaro, mas que não o fez pela proximidade de Ramagem com a família Bolsonaro. Moro teria chegado a sugerir outros dois nomes para substituir Valeixo, que não foram aceitos por uma “questão de confiança”.

Em janeiro deste ano, Bolsonaro teria indicado Fabiano Bordignon e Disney Rosseti para substituir Valeixo e Moro não teria concordado novamente pela proximidade que tinham com o presidente.

Substituição no Rio de Janeiro

O ex-ministro contou que durante seu período à frente do Ministério da Justiça, recebeu duas solicitações de troca na Superintendência da PF no Rio de Janeiro vindas do presidente, além do pedido de mudança no comando geral da PF. Bolsonaro teria indicado nomes para ocupar o cargo no Rio.

Moro afirma também que apenas concordou com a substituição de Ricardo Saad pois ele já havia manifestado intenção de sair do comando da PF no Rio de Janeiro por questões familiares. Sobre a troca de Saad, o ex-juiz relatou que o pedido de Bolsonaro para a substituição foi feito de forma verbal no Palácio do Planalto. Posteriormente, o presidente declarou publicamente que a troca havia sido feita por produtividade. Moro, no entanto, afirma que esse motivo nunca foi exposto a ele.

Na ocasião, Bolsonaro tentou indicar Alexandre Saraiva para o cargo, mas o então ministro teria se oposto por acreditar que a indicação deveria ser da própria Polícia Federal. Moro alega que conseguiu convencer Bolsonaro a aceitar o nome de Carlos Henrique após Maurício Valeixo, então diretor-geral da PF, ameaçar se demitir caso essa indicação não fosse respeitada.

O ex-ministro relatou ainda que no começo de março Bolsonaro teria enviado uma mensagem na qual dizia “Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.

A íntegra do depoimento de Sergio Moro à Polícia Federal foi divulgada após determinação judicial decorrente de pedido feito pelo próprio ex-ministro. Moro foi ouvido na sede da PF em Curitiba na última sexta-feira (1).

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