Médica que morreu de coronavírus em Natal se isolou após voltar de viagem de trabalho aos EUA, relatam familiares

Maria Altamira de Oliveira faleceu neste domingo (5) em um hospital privado da capital potiguar — Foto: Cedida

Por Igor Jácome, G1 RN — “Uma mulher reservada, mas de coração imenso”. É assim que familiares descrevem a médica proctologista Maria Altamira de Oliveira, de 71 anos, que morreu neste domingo (5), em um hospital privado de Natal, por causa do coronavírus – Covid-19. De acordo com as autoridades de saúde, ela foi o sétimo óbito registrado no estado e o segundo na capital, desde o início da pandemia.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a mulher esteve nos Estados Unidos entre 7 e 18 de março e, depois de voltar, no dia 21, começou a sentir os sintomas do vírus. Compadre da médica e marido da sobrinha Lúcia de Fátima, Idnaldo Morais, de 63 anos, conta que a médica sequer pisou no apartamento em que morava, ao voltar da viagem de trabalho – Altamira participara de um congresso da área de proctologia.

“Ela pediu para a secretária dela descer com algumas coisas, pegou o carro na garagem foi para uma casa de campo que tinha em Parnamirim”, ele conta. O internamento aconteceu no dia 23. Ela tinha hipertensão.

Maria Altamira é de uma família simples, de 10 irmãos, oriunda do município de Santo Antônio, no Agreste potiguar. Ainda jovem, passou a morar na casa de parentes, na capital, para continuar os estudos. Formou-se inicialmente em Sociologia, mas continuou a perseguir o sonho de ser médica. Antes, terminou outra graduação: Farmácia. Foi servidora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como farmacóloga.

No início da década de 1980, finalmente conseguiu o diploma em Medicina, sua terceira graduação. Fez residência em cirurgia–geral, atuou em municípios do interior do estado, e depois se especializou em proctologia – área em que seguia até então. Atendia a seus pacientes em uma clínica no bairro Petrópolis, na Zona Leste da capital. Nos últimos anos, estava desacelerando o ritmo de trabalho, mas seguia atuando.

Maria nunca casou e não teve filhos. Os familiares mais próximos eram alguns irmãos e sobrinhos. Nem todos puderam comparecer à cremação do corpo, na manhã desta segunda-feira (6).

Conforme os familiares, ela não falou com ninguém sobre a Covid-19. “Ela sempre foi reservada, não expunha nada da vida, até de algum problema de saúde. Mas se era para ajudar alguém, estava pronta. Era sempre um bom ouvido. Vivia de bem com a vida”, relata Idnaldo.

Até este domingo (5), o Rio Grande do Norte tinha 242 pacientes com diagnósticos confirmados para a doença, além de sete óbitos e 675 casos descartados. Os suspeitos somam 2.354.