Procuradora critica demolição de hotel: “Esperança assassinada, memória rasgada”

Procuradora do Estado, Marjorie Madruga — Foto: Eduardo Maia

A procuradora do Estado, Marjorie Madruga, que capitaneava os trabalhos a favor do tombamento do Hotel Reis Magos, em Natal, publicou uma nota em suas redes sociais criticando a decisão da Prefeitura em demolir o edifício e a “omissão pública” dos órgãos que poderiam ter feito algo a respeito.

Confira abaixo a nota, na íntegra.

O DIA

Hoje, 8 de janeiro de 2020, já é uma data de impossível esquecimento na história do Estado do RN, da cidade do Natal . Será lembrada, para sempre, como o DIA em que a esperança foi assassinada, a fé arruinada, o direito ao sonho roubado violentamente, o abandono premiado, a omissão pública beneficiada, a memória rasgada. O DIA em que os valores materiais venceram os valores humanos. Em que os ricos triunfaram sobre os pobres mais uma vez. O DIA em que o direito fundamental à história virou escombros, a memória se tornou pó.
O DIA em que a ética evaporou-se e a justiça abriu mão de si mesma. Neste dia a sensibilidade esfumaçou e até a estrela guia dos Reis Magos foi apagada do céu. O RN nunca esquecerá . A história jamais perdoará.

Neste 8 de janeiro, na tarde que caia
“A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!…”

O espírito de Antígona, tão essencial ao governar, revelou-se inexistente na contemporaneidade, “após dançar na corda bamba de sombrinha”.

Ao olhar o antigo Hotel Reis Magos ser demolido vi também restos de humanos, fragmentos de verdades, blocos inteiros de mentiras, gente feita de ferrugem.
Mas vi poesia no concreto – como um outro poema de concreto que também ruiu porque assim quis a máscara da modernidade. Contemplei sorrisos privados fazendo festa com o interesse público, o coletivo virar escombros.
Como canta Cazuza, hoje ” Eu vi a cara da morte”. Não só a morte do Reis Magos. Mas também a morte da Arquitetura Modernista Brasileira e de um patrimônio cultural pertencente à coletividade . A morte de valores humanos, dos direitos fundamentais. A morte do social e do bem comum. A morte da nossa história, de um pedaço belo e rico da nossa verdadeira identidade.

O RN nunca esquecerá! A história jamais perdoará!

Marjorie Madruga (cidadã potiguar)