Reunião de Eduardo Bolsonaro na Indonésia produz racha em grupo de lobistas

Da esq. para a dir., o presidente da Abrig, Guilherme Cunha, o deputado Eduardo Bolsonaro e o dono da Paper Excellence, Jackson Widjaja: Encontro na Indonésia acabou em renúncia de vice-presidente da associação de lobistas — Foto: Reprodução/Facebook/Guilherme Cunha.

Por Poder 360 — O encontro do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) com Jackson Widjaja, CEO da PE (Paper Excellence Group), em Jakarta, na Indonésia, provocou 1 racha na Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais). A reunião do filho do presidente Jair Bolsonaro, realizada durante o recesso congressual, terminou com 1 pedido de renúncia de 1 dos vice-presidentes da associação, Renault Castro.

Reportagem publicada pelo Poder360 na 4ª feira (31.jul) mostrou que o encontro foi articulado pelo diretor de Relações Institucionais e Governamentais da PE, Guilherme Cunha, que também é presidente da Abrig.

A associação é conhecida no meio político em Brasília pela prática de lobby –atividade de exercer pressão sobre algum poder do nível político para influenciar na tomada de decisão a favor de uma causa.

Ao ser questionada, a Abrig encaminhou nota (íntegra) à reportagem na qual dizia que dentre os associados “não há nenhum ‘lobista’ envolvido em qualquer tipo de atividade ilícita”. “É da finalidade precípua da função que exercem a aproximação entre os interesses privados e o poder público.”

O texto, enviado por email pela assessoria de imprensa da associação, era assinado por Castro; Paulo Castelo Branco, presidente do Conselho de Ética; e Cícero Araújo, presidente do Conselho Superior da Abrig.

Nesta 6ª feira (2.ago), Castro enviou mensagem a Cunha via WhatsApp dizendo que não havia tomado conhecimento do conteúdo da nota antes do envio à reportagem e comunicando sua renúncia do cargo. Eis o conteúdo:

“Caro amigo, o envio da nota da Abrig ao site Poder360, com a minha assinatura sob texto que não aprovei, deixou-me em situação desconfortável na posição de vice presidente dessa Associação que, com mundo orgulho, ajudei a fundar. Por isso, ao agradecer a sua confiança, apresento aqui minha renúncia a esse honroso cargo, em caráter irrevogável, desejando a toda a diretoria continuidade do sucesso já alcançado”.

Após a reação do vice-presidente, a assessoria de imprensa enviou nova nota ao Poder360 na noite desta 6ª feira admitindo o erro pelo envio da mensagem sem a aprovação do vice-presidente:

“Por um erro da equipe de Comunicação que presta serviços à ABRIG, o nome do vice-presidente da entidade, Renault Castro foi incluído por engano na nota encaminhada ao Poder 360.

A nota só foi assinada pelo presidente do Conselho de Ética da ABRIG, Paulo Castelo Branco, e pelo presidente do Conselho Superior, Cicero Araújo.

Pelo erro e confusão, nos desculpamos publicamente”.

Ao telefone, o presidente da Abrig, Guilherme Cunha, disse à reportagem que havia chegado recentemente da viagem e ainda não tinha conversado diretamente com Renault. Ele afirmou que a “renúncia é ato unilateral”, mas que tinha certeza tratar-se de “1 mal-entendido”.

Castelo Branco, por sua vez, confirmou que havia validado a nota antes da divulgação.

A reportagem não conseguiu contato com Renault Castro até esta publicação.

POLÊMICA COM INDONÉSIOS

Em 2017, a Paper Excellence, dos Widjajas, comprou parte da Eldorado Celulose (49,4%), da holding J&F, pertencente aos irmãos Joesley e Wesley Batista. A transação integral, que deveria ser finalizada em 1 ano, não foi realizada.

A J&F suspendeu a venda das ações alegando que os donos da PE não cumpriram o acordo firmado para concluir as operações. Com isso, atualmente há 1 litígio entre as partes em uma câmara arbitral de São Paulo.

Em publicação no Instagram, Eduardo Bolsonaro afirmou, no entanto, que os investimentos da PE somente serão realizados caso “se resolva uma lide que hoje envolve a J&F, controlada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista (JBS), e a venda da Eldorado celulose, que se encontra no ICC (Câmara Brasil-França, um tribunal arbitral)”.

VELHO CONHECIDO

Guilherme Cunha foi citado em decisão judicial que autorizou a deflagração da Operação Castelo de Areia quando atuava como diretor de Relações Governamentais da Camargo Corrêa.

De acordo com seu perfil no LinkedIn, exerceu a função na empresa de 2007 a 2010. Também já foi assessor especial do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf.