Sapos da caatinga brasileira ficam enterrados na areia sem comer por mais de 2 anos

Fenômeno é semelhante à conhecida hibernação, só que causado pelo calor e a seca em vez do frio — Foto: Carlos Jared/BBC

Por BBC via G1 – No entardecer de 17 de fevereiro de 1992, no município de Angicos, na caatinga do Rio Grande do Norte, depois de uma chuva fraca durante o dia, o casal de pesquisadores do Instituto Butantan Carlos Jared e Marta Maria Antoniazzi presenciou um fato bizarro: sapos começaram a brotar aos borbotões do chão arenoso.

Saltando a esmo, davam a impressão de estar à procura de poças d’água para se alimentar e acasalar.

Começava ali um longo trabalho de pesquisa dos dois, que se estende há quase três décadas, para entender um comportamento animal pouco conhecido – pelo menos do público leigo: a estivação. Trata-se de um fenômeno semelhante à conhecida hibernação, só que causado pelo calor e a seca em vez do frio.

Assim como os animais que hibernam – dos quais os ursos são os mais famosos -, os que estivam reduzem suas atividades metabólicas por um longo período, podendo chegar a mais de dois anos em algumas espécies.

“É um fenômeno que ocorre com vários anfíbios que vivem em desertos ou em outros ambientes com escassez de água, ao menos temporária”, explica Jared.

Na seca, para se defender da desidratação, os animais se enterram ou procuram micro-habitats com umidade e temperatura mais fria — Foto: Carlos Jared/BBC

“Semelhante à hibernação, induzida pelo frio excessivo, pode-se definir a estivação como o estado de letargia em que esses animais entram em um longo sono, quando as condições climáticas se tornam muito secas e quentes.”

Levados por Jared a também estudar os anfíbios da caatinga que estivam, os fisiologistas Carlos Navas, da Universidade de São Paulo (USP), e José Eduardo Carvalho, do campus de Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), começaram seu trabalho na região em 2007.

“Nosso objetivo central era investigar quais mecanismos fisiológicos permitiam aos sapos daquela região ocuparem este ambiente aparentemente tão inóspito para este grupo de vertebrados”, conta Carvalho.

‘Esses animais entram em um longo sono, quando as condições climáticas se tornam muito secas e quentes’, diz Jared — Foto: Marta Antoniazzi/BBC

De acordo com ele, aos olhos de uma pessoa leiga, poderia parecer improvável que qualquer anfíbio, tipicamente conhecidos por sua dependência de locais úmidos e com maior disponibilidade de água, pudesse viver na caatinga.

“Contudo, existem relatos já há bastante tempo da ocorrência de anuros nesse bioma, e nosso trabalho foi no intuito de explorar as caraterísticas que permitiam tal modo de vida”, explica. Apesar das condições adversas, há mais de 40 espécies de anfíbios nesse bioma.

Ao longo dos 30 anos em que pesquisa esses animais na região, Jared e Marta realizaram 15 expedições científicas, 10 das quais a locais de maior probabilidade de surpreender os animais em estivação.

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