Doações recebidas por Fátima Bezerra em 2008 e 2014 levantam suspeita

Senadora potiguar Fátima Bezerra (PT) - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Portal Agora RN – A doação no valor de R$ 475 mil recebida pela campanha da senadora Fátima Bezerra (PT) em 2014 da Sucocítrico Cutrale Ltda, empresa que compõe o cadastro do Ministério do Trabalho de empregadores que submeteram seus funcionários a condições análogas à de escravidão, é apenas uma das contribuições que levantaram certa suspeita acerca do modo de arrecadação que a petista utiliza em suas campanhas.
Em março, reportagem do Portal Agora RN/Agora Jornal mostrou que a JBS S/A, empresa investigada pela Polícia Federal nas operações Lava Jato e Carne Fraca, destinaram recursos para a campanha da senadora em 2014. Outros candidatos também receberam, mas entre os parlamentares potiguares que concorreram naquele ano, Fátima foi a mais beneficiada com verbas desta natureza.
Naquele pleito, a petista declarou à Justiça Eleitoral ter recebido doações da ordem de R$ 1,165 milhão da JBS S/A. Os repasses aconteceram por meio de três depósitos: R$ 500 mil provindos do Diretório Estadual do PSD e outros dois créditos de R$ 475 mil e R$ 190 mil, oriundos do Diretório Nacional do PT.
Em maio, o diretor de Relações Institucionais e Governo da J&F (holding do grupo JBS), Ricardo Saud, citou em um depoimento de delação premiada que os R$ 500 mil recebidos pela campanha da senadora foram pagamento ilícito disfarçado de doação oficial. Ele apontou que o dinheiro era oriundo da conta de propina do PT e classificou esses recursos de “carimbados”.
De acordo com Saud, o pedido partiu do então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência, Edinho Silva. “Tudo doação dissimulada, isto era dinheiro de propina”, afimou Ricardo Saud. O dinheiro classificado pelo delator como “carimbado”, foi destinado às candidaturas de Fátima Bezerra, da senadora Angela Portela (PT-RR) e do governador de Minas Gerais Fernando Pimentel. Ricardo diz que tem como comprovar os pedidos de propinas de Edinho a partir de “bilhetinhos” que contém números ao lado do nome de Fátima Bezerra.

Além dessas doações em 2014, outra verba arrecadada por Fátima, mas durante sua campanha à Prefeitura de Natal em 2008, é alvo de suspeita. Em denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), é apontado que o peemedebista teria solicitado, naquele ano, o pagamento de R$ 125 mil em propina (verba a ser destinada para Fátima) para o então diretor da Transpetro, subsidiária da Petrobras, Sérgio Machado.

Garibaldi e Machado, segundo a PGR, ajustaram o pagamento da vantagem indevida por meio de doação efetivada ao Diretório Estadual do PMDB no Rio Grande do Norte. Seis dias depois de o pagamento ser efetivado, o dinheiro foi parar na conta da então candidata à Prefeitura de Natal Fátima Bezerra (PT), que tinha o apoio de Garibaldi no pleito.

Os detalhes da negociação foram acertados, segundo apontam as investigações do Ministério Público Federal, pelo então assessor de Garibaldi, Lindolfo Sales. Na denúncia, a PGR aponta que, para atender ao pedido do peemedebista, Sérgio Machado solicitou aos empresários Luiz Fernando Nave Maramaldo e Nelson Cortonesi Maramaldo, controladores da NM Engenharia, que realizassem uma doação no valor de exatos R$ 125 mil ao Diretório do PMDB/RN.

A investigação dos extratos de prestação de contas do PMDB na campanha eleitoral daquele ano mostra que o valor foi depositado em 11 de setembro, com a quantia sendo liberada no dia seguinte. Em seguida, o dinheiro foi encaminhado ao comitê financeiro da petista. “Por esse meio, constata-se que o exato montante de R$ 125.000 doados pela NM Serviços chegou em meros seis dias úteis do Diretório Estadual do PMDB-RN à campanha de MARIA DE FÁTIMA BEZERRA, então candidata do PT ao cargo de prefeita da cidade de Natal, pela coligação ‘União por Natal’ (PT, PMDB e PSB)”, assinala a denúncia.

OUTRO LADO

A senadora Fátima Bezerra declarou, em relação às três doações, que não houve irregularidade nos repasses, que as legislações de 2008 e 2014 permitiam a doação de empresas para candidatos.

Sobre a verba da JBS, o coordenador de campanha da petista, Raimundo Alves, confirmou que a empresa apareceu, de fato, nos registros de prestação de contas da campanha da senadora, mas sempre como “doador originário”. “A empresa era a fonte das doações, mas a captação dos recursos e a destinação destes à campanha da senadora Fátima Bezerra foram de responsabilidade da Direção Estadual do PSD/RN e da Direção Nacional do PT”, escreveu, em nota.

Ainda de acordo com Raimundo, “em nenhum momento a coordenação de campanha ou a senadora Fátima teve qualquer contato com o doador”. O coordenador da campanha petista ressaltou também que a senadora Fátima Bezerra sempre atuou como defensora do fim do financiamento empresarial de campanhas, “por entender que mesmo as doações lícitas distorcem o sentido da democracia representativa”.

O coordenador da campanha de Fátima ao Senado em 2014 esclareceu ainda que, ao receber a doação da Sucocítrico Cutrale, “o PT não estava se comprometendo com a defesa de possíveis irregularidades cometidas pelo doador”. A nota ressalta ainda que as contribuições foram legais, dentro das normas em vigor naquela eleição.

Sobre a doação recebida via PMDB, em esclarecimento enviado à reportagem do Portal Agora RN/Agora Jornal, Fátima confirmou que recebeu os recursos naquele pleito, mas registrou que a verba lhe foi repassada via Diretório Estadual do PMDB, sem que ela soubesse a identificação do doador originário ou tivesse ela mesma solicitado os recursos à Transpetro. “Não houve, como constatou a PGR, qualquer contato da senadora com os alvos da investigação”, afirmou.