Bancada federal do Rio Grande do Norte silencia diante da hecatombe política

Maioria dos congressistas não quis comentar o assunto - Divulgação

Portal Agora RN – À exceção da senadora Fátima Bezerra (PT), que ocupou a tribuna do Senado para pedir a renúncia do presidente Michel Temer (PMDB) e eleições diretas imediatas no país, e o senador José Agripino Maia (DEM), que emitiu uma nota curta em suas redes sociais, a bancada federal potiguar preferiu não comentar a crise política nacional instalada nesta quarta-feira 17 após o jornal O Globo revelar que o empresário Joesley Batista, um dos sócios da JBS, gravou uma conversa na qual o presidente teria dado aval para a “compra do silêncio” do ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba após ser condenado na Lava Jato.

A gravação integra um acordo de colaboração premiada firmado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista com a Procuradoria Geral da República. Os irmãos são suspeitos de estarem envolvidos em fraudes em contratos realizados pelas empresas do grupo JBS com o BNDES. O acerto foi feito com o procurador-geral Rodrigo Janot e homologado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nas gravações, que teriam acontecido na noite do dia 7 de março deste ano, com o conhecimento da Polícia Federal, Joesley contou a Temer que estava dando uma mesada a Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro para que ambos permanecessem calados, ou seja, não delatassem assuntos que pudessem prejudicar o Governo. O presidente teria dito: “Tem que manter isso, viu?”. Segundo Joesley, não foi Temer quem ordenou os pagamentos, mas o peemedebista tinha conhecimento do que acontecia.

Ainda na delação, Joesley conta que gravou uma conversa com o senador Aécio Neves (PSDB). No áudio, segundo o delator, o tucano pede R$ 2 milhões. O dinheiro deveria ser entregue a um primo do senador, Frederico Pacheco de Medeiros. A cena do repasse foi gravada pela Polícia Federal.

A Polícia Federal também registrou em vídeo o momento em que o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) recebe uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. O deputado, segundo o empresário, seria um indicado de Temer para “resolver um assunto” da empresa.

Segundo a delação, Joesley pediu ao presidente uma ajuda para resolver uma pendência da JBS no Cade, órgão de controle da liberdade de concorrência. Loures foi assessor especial da Presidência até março, quando voltou à Câmara no lugar do ministro da Justiça, Osmar Serraglio. No governo Dilma Rousseff, foi chefe de Relações Institucionais da Vice-Presidência quando o cargo era ocupado por Temer.

A filmagem do pagamento de propina faz parte do que se costuma chamar de ação controlada, forma excepcional de investigação policial. Esse tipo de ação ocorre quando um criminoso, réu ou mero suspeito aceita coletar provas para a polícia, com a supervisão direta, apoio tecnológico e eventual intervenção das autoridades policiais no processo. A coleta de provas faz parte de um acordo de delação no qual o investigado terá benefícios, como um tempo menor de prisão ou mesmo a extinção da pena.

DESDOBRAMENTOS
A delação da JBS desencadeou uma megaoperação da Polícia Federal nesta quinta-feira 18, com ações autorizadas pelo ministro Edson Fachin. A operação foi batizada de Patmos, em referência à ilha grega onde o apóstolo João teve visões do Apocalipse.

Na operação, foram cumpridos mandados judiciais nos gabinetes dos senadores Aécio Neves e Zezé Perrella (PSDB-MG) e do deputado Rodrigo Rocha Loures, que seria o operador de Temer. Também foram autorizadas buscas em endereços de Aécio em Brasília, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

Foram presos o primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, visto recebendo dinheiro, a irmã de Aécio Andréa Neves, além de um assessor de Perrella e uma irmã de Lúcio Funaro. O procurador Ângelo Goulart Villela, do Tribunal Superior Eleitoral, também foi detido.

O ministro Edson Fachin também determinou abertura de inquérito contra o presidente Temer e estabeleceu que Aécio fosse afastado das atividades no Senado Federal.

REPERCUSSÃO
Em pronunciamento no Senado, a senadora Fátima Bezerra afirmou que, após a revelação da delação premiada dos irmãos da JBS, não resta outra alternativa a não ser a renúncia de Temer. “Se você já não tinha condições morais e políticas para governar o país, pois entrou pela porta dos fundos, Temer, agora tenha um gesto de dignidade e apresente a sua carta de renúncia”, pediu a petista.

Além disso, a senadora pediu que, com o afastamento de Temer, novas eleições diretas sejam realizadas no país imediatamente. “É um momento gravíssimo. Não existe nenhuma condição de este governo, que já estava moribundo, com apenas 4% de aprovação, continuar”, finalizou.

O senador José Agripino Maia, por sua vez, aliado do governo Temer, emitiu apenas uma nota curta em seus perfis nas redes sociais. No texto, o parlamentar afirma que o momento é de aguardar os desdobramentos. “A hora é de aguardar consistência e confirmação dos fatos, que são graves. Impõe-se que os desdobramentos sigam rigorosamente os ditames constitucionais”, pontuou o senador.

Os demais parlamentares – senador Garibaldi Alves Filho (PMDB) e deputados Antônio Jácome (PTN), Beto Rosado (PP), Fábio Faria (PSD), Felipe Maia (DEM), Rafael Motta (PSB), Rogério Marinho (PSDB), Walter Alves (PMDB) e Zenaide Maia (PR) – não atenderam aos telefonemas da reportagem ou, por meio de suas assessorias, disseram que não vão comentar o assunto.

“NÃO RENUNCIAREI”
Na tarde desta quinta-feira 18, o presidente decidiu fazer um pronunciamento à nação. Devido ao conteúdo bombástico das delações, se esperava que ele renunciasse ao cargo. Na oportunidade, porém, Temer garantiu que não renunciará ao cargo e afirmou que, no Supremo Tribunal Federal, sua inocência virá à tona.

Temer chamou as gravações de “clandestinas”, afirmou que não tem “nada a esconder” e que, por isso, não precisa de foro privilegiado.

Caso renunciasse ao cargo de presidente da República, o peemedebista perderia a prerrogativa de ser investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

“Não renunciarei. Repito: não renunciarei. Sei o que fiz e sei a correção dos meu atos. Exijo investigação plena e que dê muito rápido esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dubiedade não pode existir por muito tempo”, declarou Temer.

“Não comprei o silêncio de ninguém, porque não temo nenhuma delação premiada. Não preciso de cargo público, nem de foro especial. Não tenho nada a esconder. Sempre honrei meu nome e nunca autorizei que utilizassem meu nome indevidamente. E, por isso, quero registrar enfaticamente que investigação pedida pelo STF será território onde surgirão todas as explicações”, completou.

*Publicada originalmente na edição do Agora Jornal de 19 de maio de 2017.