Empresários podem surgir como alternativas políticas no RN para 2018

Marcelo Alecrim (AleSat Combustíveis), Flávio Rocha (Riachuelo) e Paulo de Paula (ITB, ex-UNP) podem ser opções - Divulgação

Do Portal Agora RN – O descontentamento de fatia significativa da população com os chamados “políticos profissionais”, estimulada sobretudo por escândalos de corrupção e más gestões em diversas esferas do Poder Público, tem alimentado o surgimento, nos últimos anos, de “outsiders”, figuras que ganharam notoriedade em suas áreas de atuação e resolveram utilizar sua experiência em prol da política.

A nível mundial, este fenômeno foi simbolizado na eleição do magnata Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. Derrotando uma “política profissional”, a democrata Hillary Clinton, Trump vendeu a imagem não de um político, mas sim de um empresário bem-sucedido nos negócios.

No Brasil, que vê políticos tradicionais envolvidos em suntuosos esquemas de corrupção – vide as proporções tomadas pela Operação Lava Jato – diversos “outsiders” foram eleitos prefeitos e vereadores no pleito de 2016. O caso mais emblemático é o do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Influente no setor empresarial, o tucano tem feito parcerias com a iniciativa privada a fim de otimizar a administração pública.

Na esfera local, por sua vez, alguns desses “outsiders” começam a ganhar destaque e já surgem como possibilidades reais para o pleito de 2018. Entre elas, destacam-se os empresários Flávio Rocha, Marcelo Alecrim e Paulo de Paula.

Deles, o único que já teve experiência política foi Rocha, que exerceu mandato de deputado federal entre 1987 e 1995. Recentemente, o presidente do Grupo Riachuelo e diretor da fábrica Guararapes e do shopping Midway Mall teve, inclusive, o nome citado para a disputa da Presidência em 2018 pelo dirigente do Partido Novo, João Amoêdo.

Rocha lidera o setor de varejo no país e tem o modelo de gestão aplicado na Riachuelo exaltado pelo setor econômico. Em entrevista no ano passado, na qual se posicionou a favor do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT), o empresário defendeu a presença mínima do Estado e convocou as lideranças do setor no país a “saírem da toca”.

Além de criticar a “inspiração estatizante” de movimentos ligados à social-democracia, Rocha criticou o sistema partidário brasileiro atual e afirmou que “cenário político é como cinquenta tons de vermelho e cor-de-rosa”, em referência ao sistema multipartidário do país.

Outro que surge como “outsider” e está cotado para a disputa eleitoral de 2018 é o empresário Paulo de Paula. Filiado ao DEM, o empreendedor é diretor do Instituto Tecnológico Brasileiro (ITB) e ex-proprietário da UNP, maior universidade particular do estado. Apesar de ser ligado ao setor educacional, de Paula opina sobre aspectos diversos da economia e da política potiguar.

Em entrevista recente ao Portal Agora RN/Agora Jornal, o empresário comentou as dificuldades econômicas enfrentadas pelo estado e destacou possíveis alternativas para a solução de entraves econômicos.

Ao celebrar projetos como, por exemplo, o Parque Tecnológico em Extremoz, Paulo de Paula ressaltou a importância da melhoria na infraestrutura do estado. “Precisamos de infraestrutura e equipamentos para que uma coisa vá puxando a outra. As coisas estão no caminho certo, mas precisamos da infraestrutura, o que ainda não aconteceu”, frisa.

Ainda de acordo com o empresário, o Estado precisa investir na qualificação profissional para que vocações econômicas como o turismo sejam impulsionadas. “O Rio Grande do Norte tem muitas riquezas e precisa fortalecer isso. O Governo precisa abrir as portas para os empresários [que queiram investir]”, ressalta.

Também cotado para a disputa das eleições de 2018 está o empresário Marcelo Alecrim, presidente da AleSat Combustíveis. Apesar de não admitir candidatura a qualquer cargo (ele tem sido estimulado a tentar o Governo do Estado), ele manifesta simpatia por duas legendas partidárias: o PR e o PEN.

Cauteloso ao avaliar as gestões públicas do Estado, Alecrim é defensor das reformas trabalhista e da Previdência em tramitação no Congresso Nacional. “É um momento complicado. São medidas duras que têm que ser tomadas. Toda medida dura tomada imediatamente é bastante dolorida. Só que lá na frente teremos retorno. O país se modernizou e o mundo também. É natural que, quando isso acontece, as lei e regras também se modernizem. Precisamos pensar no espírito nacional”, declarou em entrevista no mês passado ao Portal Agora RN/Agora Jornal.

Cientista político Daniel Menezes avalia quadro – Foto: Reprodução

Nova legislação eleitoral pode beneficiar empresários

O cientista político Daniel Menezes, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), concorda que o surgimento e fortalecimento de “outsiders” da política – e aí se incluem não só empresários, mas também lideranças religiosas, esportistas e até humoristas – é um fenômeno global. Ele acredita, contudo, que o movimento ainda é tímido no estado e considera apenas Flávio Rocha tentando viabilizar seu nome para uma futura disputa eleitoral.

No entanto, Menezes avalia que o quadro político é propício ao estabelecimento dessas figuras, sobretudo após a devastação provocada pela Operação Lava Jato no mundo político. “Eles representam uma válvula de escape pelo cenário difícil que a Lava Jato proporcionou para a política”, considera.

Além disso, a própria legislação eleitoral, que proíbe desde as últimas eleições, doações efetuadas por empresas, beneficia esses grupos ao permitir que pessoas físicas façam doações de parte de suas fortunas particulares.

“Eles [empresários] surgem como alternativa em face das mudanças na legislação eleitoral. A lei privilegia essas pessoas super ricas, que podem tirar até 10% do que foi declarado em seus Impostos de Renda e jogar na política. Tendo em vista que a escassez de recursos é muito grande, surge essa possibilidade”, conclui, lembrando que o prefeito paulistano João Doria financiou a maior parte de sua própria candidatura.