Com muito “enrolation” e poucas conquistas, turismo do RN definha na gestão Robinson Faria

Do Blog do FM – Não é apenas no quesito insegurança que o governador Robinson Faria vem se destacando por ineficiência. Ao longo de sua gestão está se evidenciando de forma cristalina o processo de falência da indústria do turismo potiguar, setor que atualmente mostra-se eficiente apenas na pirotecnia das “notícias” produzidas e enviadas à imprensa pelo secretário de Turismo do Estado, Ruy Gaspar.
Antes um dos principais destinos turísticos do Nordeste, brigando palmo a palmo pela liderança com o estado do Ceará, o Rio Grande do Norte se transforma pouco a pouco no quintal do turismo paraibano, outrora um concorrente de pouca expressão. Hoje a Paraíba mostra que a realidade mudou.

CONQUISTAS

A partir de abril de 2018, entra em operação um voo ligando João Pessoa a Amsterdam, na Holanda, operação que será feita através da Tui – uma empresa subsidiária da KLM e que só opera voos chaters – é um Boeing 737-800, com capacidade para 160 passageiros, sem qualquer tipo de restrições para pousar no aeroporto Castro Pinto.

Saulo Barreto, diretor de Promoção Internacional da Secretaria de Turismo de João Pessoa, comemora a aquisição da operação, que o Rio Grande do Norte perdeu há alguns anos e não soube reconquistar. “A notícia desse voo teve grande repercussão nos meios turísticos holandeses, já que iremos substituir a ausência dos voos que vinham da Holanda para Natal (RN)”, disse.

Fortaleza, por sua vez, também tem conquistas para mostrar: a cidade passa a ser o terceiro destino da Air France no Brasil, que já conta com decolagens e pousos em São Paulo e Rio de Janeiro. A voadora francesa confirmou na última segunda-feira, 25, o voo direto que vai ligar Fortaleza a Paris, a partir de 2018. Serão dois voos semanais, no valor de 240 euros cada.

HUB

Ao contrário do Rio Grande do Norte, o Ceará comemora ainda a confirmação da instalação do Hubs da Gol, Air France e KLM no aeroporto internacional Pinto Martins, em Fortaleza.

Enquanto isso, a Secretaria de Turismo do RN assiste silenciosamente a migração para o aeroporto de João Pessoa de passageiros que antes embarcavam e desembarcavam a partir do aeroporto de Natal.

Mal assessorado e sempre suscetível a acreditar no “enrolation” que os seus auxiliares sopram em seus ouvidos, o governador Robinson Faria, que já chegou a dizer em um programa radiofônico que era também o “Governador do Turismo”, corre o risco de ter a sua gestão marcada pelo desmonte do turismo potiguar.

Faria apostou suas fichas na isenção do ICMS sobre o querosene de aviação, que concedeu no início de sua administração, mas esqueceu-se de se aprofundar no dever de casa.

Até mesmo o tradicional voo de fretamento que anualmente (dezembro/janeiro) leva natalenses para passar o Réveillon em Lisboa e que trazia portugueses para passar as festas de fim de ano em Natal, mudou de configuração. Atualmente, os turistas portugueses descem todos em Fortaleza. A capital potiguar, que já não é mais vendida nas vitrines das agências e operadoras portuguesas, não mais se destaca no roteiro turístico dos lusitanos.

HOTELARIA

A tímida gestão do turismo potiguar tem reflexo direto na hotelaria – setor que vem amargando uma baixa ocupação diante da escassez de turistas nacional e internacional nas terras potiguares. “O turismo do nosso estado continua caindo em números absurdos”, lamenta o hoteleiro Fabiano Pontes, diretor do tradicional hotel Parque da Costeira, localizado na Via Costeira.

Fabiano Pontes, do Parque da Costeira: “O turismo do nosso Estado continua caindo em números absurdos”

O empresário estima que, em média, o setor hoteleiro deverá encerrar o ano de 2017 com uma ocupação de leito de cerca de 50%. “Em anos anteriores, a hotelaria registrava uma ocupação média anual em torno de 70 a 75% ”, lembra.

O hoteleiro relata ainda que o estado do Ceará fechou com a CVC, maior operadora do País, uma parceria no valor de R$ 5 milhões, enquanto o Rio Grande do Norte destinou apenas R$ 230 mil. “Essa verba destinada pelo Ceará vai render uma ampla promoção e divulgação do turismo cearense junto com a CVC”, explica.

E acrescenta: “Natal chegou a ter voos da Espanha, Itália, Holanda, Escandinávia, Inglaterra, além de voos fretados, vindos de várias cidades do Sul e Sudeste do País. Hoje só tem uma operação procedente de São Paulo e outra de Minas Gerais para Natal, uma vez por semana”.

Fabiano traça ainda o cenário atual com relação aos voos internacionais. “Hoje não temos nada. Natal tinha voo (TAP) de Portugal – eram seis voos regulares, que passou depois para três e atualmente não sabemos se o voo para Lisboa irá voltar. Quando uma companhia aérea tira um voo de um lugar e coloca em outro, se esse novo lugar for mais rentável, tiver mais ocupação, é muito difícil retornar para o lugar de origem”, destaca.

O também hoteleiro Felipe Ludgren, diretor do Hotel Marsol, disse que vê com muita tristeza a atual decadência do turismo potiguar. Segundo eles, os resultados positivos alardeados pelo governo ficaram só na retórica. “Em que pese a bandeira inicial pro-turismo do governo, os resultados não aconteceram”, explica.

Felipe Ludgren: “Em que pese a bandeira inicial pro-turismo do governo, os resultados não aconteceram” – Reprodução

Ludgren afirma que o Rio Grande do Norte passa por seu pior momento no turismo, o que tem afetado não só a hotelaria, como também as empresas de receptivo, bugueiros e outros segmentos do setor.

Já o ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, hoteleiro Habib Chalita, confirma também que os hoteleiros reclamam com frequência que o “momento está muito difícil”, com uma baixa ocupação atingindo parcela expressiva dos meios de hospedagem.

Chalita, no entanto, acredita que, a partir de dezembro, quando começar a alta estação, esse cenário tende a melhorar. O empresário justifica que a boa performance dos vizinhos do Ceará deve-se ao fato dos maciços investimentos governamentais feitos para fomentar o turismo daquele estado. “Eles investem pesado. Fortaleza não se compara. Se a gente está fazendo o dever de casa, eles estão além do dever de casa”, assinala.

Habib Chalita: “Eles (Ceará) investem pesado. Fortaleza não se compara” – Reprodução

ABIH DESQUALIFICA

O presidente da ABIH/RN, empresário José Odécio, desqualificou os reclamos de seus colegas hoteleiros. “Os números da ABIH são outros”, disse, destacando que a ocupação hoteleira registra um “leve crescimento”. O dirigente classista destacou que a ocupação média dos hotéis nos nove primeiros meses de 2016 foi de 60%, e, no mesmo período de 2017 (janeiro a setembro), o percentual registrado foi de 62%.

José Odécio saiu ainda em defesa do governo do Estado, que, segundo ele, tem investido no setor, inclusive com a participação do RN em diversas feiras do setor. “Se não fosse o investimento do governo, a situação seria crítica”, defendeu.

O presidente da ABIH/RN fez questão de elencar ações que estão em andamento, algumas delas em negociação na Feira da ABAV, que está sendo realizada em São Paulo, onde ele se encontra.

Odécio destacou os seguintes itens: realização de um famtour (trazer agentes de viagem para visitar o destino) de Portugal para Natal; aumentar a frequência da Gol para Natal; captar turistas holandeses para Natal, aproveitando o novo voo conquistado pela Paraíba, ligando Amsterdam a João Pessoa, além de campanhas de promoção e marketing do destino Natal, através de parceria com a Azul Viagem e a CVC.

José Odécio também elogiou o prefeito Carlos Eduardo Alves, que, na sua opinião, passou agora a somar com o governo do Estado em favor do turismo do RN.

José Odécio defende o Governo e diz que “Os números da ABIH são diferentes” – Reprodução

O OUTRO LADO

Através de assessoria de Imprensa da Secretaria de Turismo do Estado, o BLOG DO FM procurou registrar o posicionamento do secretario Rui Gaspar sobre o declínio do turismo potiguar, evidenciado por integrantes da hotelaria. Foram enviadas três perguntas ao secretário, que optou por não respondê-las.

Por meio de mensagem de Whats App, o assessor da SETUR/RN, jornalista SérgioVilar, destacou que os “números oficiais da Inframérica e Polícia Federal provam o contrário” do que foi externado pelos empresários de turismo.

A SETUR também não se posicionou sobre o fato de os estados da Paraíba e Ceará estarem ampliando seus espaços turísticos, com a captação de novos voos internacionais e instalação de HUBs. O órgão oficial de turismo se limitou a destacar como diferencial o projeto da Rampa e a ampliação do Centro de Convenção de Natal.

Procurado através da sua assessoria, o secretário Rui Gaspar preferiu não se posicionar – Reprodução