Citados, políticos potiguares se defendem de acusações do Grupo JBS

Joesley Batista, dono da JBS - Ayrton Vignola / Estadão

Por Rodrigo Ferreira
Portal Agora RN

Citados nas delações feitas pelos empresários donos do Grupo JBS (Joesley e Wesley Batista) e do executivo da J&F Ricardo Saud, o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), o deputado federal Fábio Faria (também do PSD) e a senadora Fátima Bezerra (PT) emitiram notas oficiais para se explicarem quanto a presença de seus nomes nos depoimentos, registrados em vídeos e divulgados pela Procuradoria-Geral de República (PGR) desde a semana passada. O candidato derrotado ao governo, Henrique Alves (PMDB), também citado, foi o único a não se pronunciar.

No caso de Robinson e de seu filho Fábio, o delator Ricardo Saud explicou como o encontro que serviria para ‘formalizar’ a compra da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) aconteceu. Em seu depoimento, ele disse que um jantar ocorreu na casa de Joesley e que contou até mesmo com as presenças das esposas do governador e do deputado, Julianne Faria e Patrícia Abravanel, esta última filha de Silvio Santos.

“Estávamos montando uma empresa de concessões, queríamos muito trabalhar com águas e esgotos assim como fizemos em Santa Catarina com o Raimundo Colombo (governador). Fizemos a mesma proposta para o Robinson, dissemos: ó (sic), o Fábio (Faria) tá todo dia aí, o Joesley fez um jantar para receber vocês (jantar elegante, inclusive), aí falamos pra ele: no RN, nós temos o interesse grande de que você privatize a águas e esgotos. Se a gente participar do edital, você já tem a parte que o (Gilberto) Kassab vai doar pra você, nós complementamos aqui e fazemos você ganhar a eleição. Sem nós você não ganha eleição, não”, contou Saud.

Em nota conjunta, Robinson e Fabio, que receberam do Grupo JBS a quantia de R$ 7,6 milhões (R$ 6,5 mi para o primeiro e R$ 1,1 mi para o segundo) durante o pleito eleitoral de 2014, admitiram a injeção da verba em suas campanhas, todavia, alegaram tratar-se de valores devidamente registrados na Justiça Eleitoral, “sem qualquer contrapartida ou ato de ofício”. No caso da CAERN, Robinson afirmou que sempre deixou claro a sua intenção de não vender a estatal.

“Não existia, da parte de Robinson e Fábio Faria, qualquer motivo para que houvesse desconfiança em relação à origem da doação feita por meio de contatos do PSD Nacional. É importante ressaltar que, desde a campanha eleitoral, Robinson Faria tem destacado em inúmeras declarações públicas e entrevistas que não pretende e nem irá privatizar a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN)”, dizia o comunicado, encaminhado à imprensa ainda na sexta-feira 19.

No caso da senadora petista Fátima Bezerra, ela foi citada por Ricardo Saud como recebedora de R$ 500 mil em propina. Após o procurador com quem conversa falar no nome e no valor recebido pela candidata (apenas como confirmação das palavras ditas pelo delator anteriormente) Saud balança a cabeça positivamente e completa: “Candidata a senadora pelo Rio Grande do Norte, eleita”.

Também através de nota oficial, Fátima procurou se esquivar das acusações e utilizou o mesmo argumento de Robinson e Fábio: de que a verba destinada para sua campanha foi declarada e aprovada pela Justiça Eleitoral à época. “Nossa campanha recebeu uma doação de R$ 500 mil, via Direção Estadual do PSD do RN, em 18/07/2014, cujo doador originário foi a empresa JBS S/A. Ou seja, quem recebeu da empresa foi o PSD e não nossa campanha”, informou. “Posteriormente, em 10/09/2014 e 15/09/2014, a Direção nacional do PT fez duas outras doações à nossa campanha, nos valores de R$ 190 mil e R$ 475 mil respectivamente. Mais uma vez nosso doador direto foi o PT e não a JBS”.

“Naquele ano, a legislação vigente permitia o financiamento privado de campanhas e essas doações foram legais, tanto que estão devidamente informadas à Justiça Eleitoral”, destacou a senadora. “Há uma confusão, não sabemos se por desconhecimento ou se de forma proposital, acerca das doações privadas das campanhas passadas no Rio Grade do Norte e do país. A população precisa ser informada sim, mais do que nunca. Mas é necessária responsabilidade com a verdade. Eu jamais esconderia o nome de qualquer empresário que contribuísse com o financiamento de minhas campanhas, até porque eu faço política com honradez, não a utilizo como moeda de troca”, finalizou.

Conforme citado no início do texto, ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, foi o único dos citados por Saud como recebedores de propina que não se pronunciou. Em vídeo, o executivo disse que Henrique recebeu R$ 3 milhões para sua campanha ao Governo do Estado em 2014, sendo parte do valor através de doações oficiais e outra parte via notas fiscais frias (que não possuem validade e servem para bancar contratos falsos).