“Ladrões estão sendo candidatos e o povo votando neles”, diz Geraldo Melo

Geraldo Melo afirmou que estrutura tributária do Brasil é "ridícula" e não antecipou posição sobre atual reforma da previdência (Foto: José Aldenir/Agora Imagens)

Ciro Marques, portal Agora RN – Um político de outro tempo, mas que vivencia hoje a indignação popular com essa classe, assim como a grande maioria da população potiguar – e brasileira. Assim que pode ser descrito o ex-governador e ex-senador Geraldo Melo. De volta ao PSDB, o “Tamborete”, como ficou conhecido, deve disputar novamente o Senado neste ano, ciente de que o país e as exigências da população são outros.

Em uma entrevista exclusiva ao Agora RN, Geraldo Melo afirmou que quer focar na discussão sobre segurança, mas sem fugir do debate de questões importantes, como a reforma previdenciária, tributária, da saúde e da educação. “O Brasil é um país que precisa ter humildade de reconhecer os equívocos que cometeu. E, dentro disso, está o conjunto de ideias de que levo”, avaliou. Confira a entrevista completa:

AGORA RN: O que motivou o senhor a voltar ao cenário político e ser novamente candidato, desta vez, provavelmente, ao Senado Federal?
GERALDO MELO: Sou um cidadão brasileiro que vive, intensamente, o momento atual do meu país. A sociedade está mobilizada para encerrar um ciclo triste da vida pública nacional e reconstruir o país. Tudo que desejo é participar dessa reconstrução. Não é obrigado ser com candidatura nenhuma. Agora, se eu puder participar com um mandato e puder escolher, prefiro como senador. Embora eu não recuse nenhuma missão que a sociedade me dê. Não pretendo ensinar ninguém a fazer isso. Acho que o comando do Brasil não deve ser entregue mais a minha geração. Precisa ser entregue às novas gerações que aí estão. E não quero ser professor das novas gerações. Quero ser colaborador delas, oferecendo a elas minha experiência.

AGORA: O senhor já começou a andar pelo estado. Como as pessoas têm lhe recebido?
GM: Confesso que estou surpreso com a grande acolhida que estou tendo por parte da população. É uma manifestação carinhosa generalizada e de grande confiança. Não esperava que alguém que estava afastado da vida política, sem mandato e, até um dia desses, sem partido, pudesse ter a situação que estou encontrando.

AGORA: O senhor é uma opção para os eleitores, que terão neste ano, novamente, as candidaturas à reeleição de Garibaldi Filho e José Agripino, que são amigos do senhor. Como pretende fazer campanha sem entrar em atrito com essas duas opções?
GM: Se o partido me transformar em candidato, pretendo fazer a minha campanha e espero que cada um faça a sua. Não estou interessado em fazer campanha a respeito de candidato A ou B que possa estar competindo comigo. Quero fazer campanha a respeito do nosso país e do nosso estado.

AGORA: Quais são as principais propostas que o senhor pretende levar ao Senado?
GM: Há umas que são óbvias, por exemplo, a segurança pública. Tenho uma experiência conhecida nessa matéria, mas não pretendo dizer o que deve ser feito. Primeiro, eu não sou especialista. Sou como alguém dizia no passado: “especialista em ideias gerais”. Uma pessoa que conhece um pouco do assunto e reconhecer que essa é uma prioridade nacional e uma emergência que precisa ser encarada pelo Congresso.

AGORA: Com relação à pauta nacional, qual a posição do senhor em relação às reformas previdenciária e tributária?
GM: Eu nunca fiz segredo sobre essa posição. Primeiro, acho que a estrutura tributária do Brasil é ridícula. Um país que tem a pretensão de ser um grande protagonista na economia mundial – e pode ser – precisa primeiro pensar em competitividade. O Brasil precisa ser capaz de competir com os outros. Enquanto no EUA se compra um veículo por 20 mil dólares e chega no Brasil por 70 mil, porque 30, 40 mil é imposto, você não vai poder competir. Reforma tributária: acho que não existe ninguém no país que não concorde que a reforma precisa ser feita e é urgente. Agora, isso não quer dizer que eu vou tirar do bolso uma fórmula dizendo que essa deve ser a reforma tributária. Acho que isso é um tema que deve ser levado à tribuna do Senado com toda energia necessária e com mobilização para que se possa comparar a economia do Brasil com a do resto do mundo.

AGORA: E a reforma da Previdência?
GM: É indiscutível que a Previdência ser reformada. Isso não quer dizer que a proposta mandada ao Congresso é a melhor. É preciso reformar bem, a Previdência precisa renascer. Ser recriada. Passar a ter um mecanismo de seguro social em que a população confie e tanto o contribuinte possa pagar quanto ela possa pagar o contribuinte. Não sou contra nem a favor da reforma que está no Congresso, mas é preciso aprovar a melhor reforma.

AGORA: O senhor defende discussões sobre outros temas?
GM: A questão da saúde pública e da educação também precisam ser discutidas. Na educação, por exemplo, o país gasta a maior parte dos seus recursos com educação universitária e quase nada com a fundamental. É um país que precisa ter humildade de reconhecer os equívocos que cometeu. E, dentro disso, está o conjunto de ideias que levo.

AGORA: O senhor foi político, teve um mandato no Governo e no Senado em outros tempos, quando não existia tanta rede social. Hoje é mais fácil ou está mais difícil ser político?
GM: São momentos completamente diferentes, mas acho que a sociedade ganhou com a tecnologia um acesso muito maior às informações básicas e uma possibilidade maior de acelerar a sua intervenção. Então, a sociedade toma conhecimento hoje rapidamente do que está acontecendo, só não toma quem não quer, e pode agir. Então, acho que isso aumenta muito a pressão e a responsabilidade sobre o político e aumenta a transparência da classe política com a sociedade. Graças a isso, se começou a mostrar a realidade da vida política brasileira. E sobre isso eu faço uma reflexão: está todo mundo falando mal de político, embora seja uma injustiça também você generalizar, mas o que está acontecendo é que os ladrões estão sendo candidatos e o povo está votando neles. Se o povo não votasse neles, não iria para o Congresso, para o Governo, para qualquer canto. Agora, se é ladrão e o povo vota, é que está estabelecida uma situação que precisa mudar, e acho que isso a sociedade brasileira irá fazer. Por cima de todas as transformações que já foram feitas, pelo trabalho extraordinário que o MP, que a Justiça e que a Polícia Federal têm feito, é preciso corrigir os excessos que afetem, eventualmente, essas instituições. Mas é preciso, realmente, contribuir um Brasil novo para todos nós.