Polícia Militar, vulcão prestes a explodir no Rio Grande do Norte

A tragédia em Alagoas é um alerta - Reprodução
Do Blog do Rubens Lemos
Maceió, 17 de julho de 1997, Praça Dom Pedro II, Palácio dos Martírios, sede do Poder Executivo.
O Exército ocupa o lugar com soldados jovens e tensos, protegendo, com barricadas e metralhadoras o gabinete do acuado governador Divaldo Suruagy (PMDB). Grevistas da polícia, também com armas pesadas, tomam posição de tiro, em janelas estratégicas de prédios históricos próximos.
Cerca de 15 mil servidores estaduais, em especial, policiais militares e civis em desespero por oito meses de salários atrasados que culminaram na maior tragédia social da história de Alagoas.
Nove policiais se suicidaram por necessidade e falta até do que comer. Outros milhares passaram a fazer serviços braçais. Cansados, se uniram para exigir a saída de Suruagy, eleito com 80% dos votos e que nada fez para conter o caos que jogou à miséria o funcionalismo.
O comandante das tropas do Exército se dirige aos policiais, estressados e dispostos à guerra pelo sofrimento imposto a eles e seus familiares. O tenente-coronel exige o afastamento de militares e civis e recebe resposta de que todos, armados, estavam ali para defender seus direitos, mas que o drama chegava ao limite máximo do esgotamento emocional e que “se fosse necessário, morreriam todos, sobretudo os meninos do Exército que estavam tremendo com seus fuzis”.
O governador Suruagy é avisado, hesita e, após breve tiroteio, pede licença por 90 dias, nunca mais voltando à vida pública. A licença vira renúncia.
No Rio Grande do Norte, hoje, é iminente a explosão dentro da Polícia Militar, unindo oficiais e praças.
É o atraso no pagamento de salários, chegando ao terceito mês e que está gerando manifestações revoltadas de profissionais que estão ameaçados de despejo, que venderam todo o seu patrimônio, perderam crédito no comércio, sofrem ameaça de prisão por atraso em pensões alimentícias e baixam o setor médico com depressão.
São depoimentos aterrorizantes, desesperadores. Em todas as tropas, em cada batalhão. A PM do Rio Grande do Norte está esgotada, pela falta de condições de trabalho e a situação de flagelo que atinge suas mulheres e filhos, vários deles portadores de doenças especiais.
Comandantes de associações, batalhões e chefes de equipe cansaram de tentar acalmar os subordinados. Por uma razão lógica: eles próprios padecem a cada visita de oficial de justiça em casa. Estão todos no mesmo redemoinho de ruína.
Ninguém deseja a repetição de Alagoas, 20 anos depois, mas que o vulcão está prestes a explodir, está.