Renovação política deve afetar mais a Assembleia que Câmara, diz analista

Daniel Menezes avalia que, muito embora possa haver uma troca de nomes entre os deputados federais, mesmos partidos e grupos devem permanecer (Reprodução)

Portal Agora RN – O cientista político Daniel Menezes prevê que, mesmo com a atual crise política, que desgastou a credibilidade de agentes detentores de mandatos, os deputados federais potiguares não devem ter grandes dificuldades para continuarem no poder após as Eleições 2018. Segundo ele, é até provável que haja “novos nomes”, contudo, a composição partidária e de grupos políticos pode permanecer a mesma.

A mesma análise, porém, não se aplica quando o assunto é o pleito para as 24 vagas para a Assembleia Legislativa. De acordo com Daniel, os atuais parlamentares terão concorrência forte nas eleições, sobretudo por causa da entrada no páreo de ex-prefeitos que deixaram o poder em 2016.

Nesta entrevista ao Portal Agora RN/Agora Jornal, ele tece um panorama desses aspectos e mostra suas impressões também a respeito da crise política nacional e projeta a disputa em 2018 de todos os cargos. Confira na íntegra:

AJ: Tendo em vista as eleições que estão por vir, em 2018, o senhor acredita que os deputados federais terão dificuldades para se reelegerem?
DM: De uma forma geral, eles enfrentarão uma eleição relativamente segura. Acho que haverá uma renovação, mas, muito embora alguns nomes mudem, certas cadeiras não devem sair dos grupos políticos. Pode ser que haja uma alteração de um nome ou de outro, mas o lugar permanece dentro de um partido ou de um grupo político. Eu acho, por exemplo, que Rafael Motta corre um pouco de perigo. A situação dele é mais complicada, porque não vai ter mais a estrutura que possuiu na eleição anterior. Além do mais, há a incógnita se o PT lançará candidato à federal, o que poderia também mexer com a eleição. Pode ser que Ezequiel (Ferreira, presidente da ALRN), por ter a estrutura da Assembleia, apoie alguém e isso influencie, mas isto também não está claro.

AJ: E quanto aos deputados estaduais?
DM: Há uma mudança maior em decorrência de nomes que saíram das prefeituras. Há muitos nomes que podem surgir, como o do ex-prefeito de Assu, Ivan Júnior (atual secretário estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos); tem a possibilidade de São Gonçalo do Amarante pleitear uma vaga pelo grupo de Jaime Calado, que talvez seja mais um candidato; é possível, ainda, que haja mudanças também em relação aos representantes que vêm mais fortemente de Mossoró. Geralmente, surgem surpresas com relação a prefeitos e ex-prefeitos, que conseguem ter ascensão dentro de uma certa região. São surpresas que não conseguimos mensurar, como, por exemplo, a do ex-prefeito de Areia Branca, Souza, que conseguiu se eleger deputado em 2014. Ainda não é possível se ter certeza, mas os nomes que citei são fortes.

AJ: Como o senhor avalia a situação dos senadores Garibaldi Alves e José Agripino para uma tentativa de reeleição?
DM: Eu acho que eles enfrentarão maiores dificuldades. Há um cenário que pode ajudá-los, eu vejo: uma situação em que haja muitos candidatos, porque os votos serão divididos e, consequentemente, por já terem uma base eleitoral consolidada, conseguirão manter seus mandatos. Neste caso, eles se tornam mais fortes. Agora, se houver poucos candidatos competitivos, é possível que surjam nomes de oposição a eles, e aí correrão perigo, acredito. Isto, porque, ambos têm aprovado reformas impopulares. Objetivamente, não se vê rendimento forte dos mandados deles para o Rio Grande do Norte. Se formos olhar para trás, não há grandes realizações ou agenda intensa por parte de Garibaldi. E olhe que estamos falando de um ex-presidente do Senado e um ex-ministro da Previdência. Agripino é presidente de um partido (DEM) que é um dos principais aliados do governo, no entanto, quando falamos do Rio Grande do Norte, o nome desses senadores não aparecem. Pode ser que eles sejam atingidos por um descontentamento que não foi provocado só pela corrupção, mas também pelas reformas que são impopulares, e sobretudo pela crise econômica que vivenciamos, na qual temos muitos desempregados. Eles colaram fortemente o nome deles nesse cenário. Como me disse um amigo, o nome de Michel Temer está na testa desses senadores. Não vai ser fácil para eles. Prevejo mudanças em pelo menos uma das cadeiras.

AJ: Por falar nisso, uma dessas cadeiras poderia ser pleiteada pela deputada Zenaide Maia? Ela pode ser considerada um nome forte?
DM: Acredito que sim. Me parece que Agripino se encontra ameaçado. Acredito que surgirá um nome novo com condições para ameaçar. Há Zenaide, e também Tião Couto, de Mossoró, que foi muito bem votado para prefeito (mas não sei se ele disputará o Senado ou o Governo do Estado) – acho que ele ameaçaria essas cadeiras. Também devem surgir outros nomes conforme formos nos aproximando de 2018.

AJ: O que o senhor acha do nome de Fátima Bezerra para um pleito ao Governo?
DM: O pleito para o Governo ainda está muito indefinido em decorrência do que falamos. Eu vejo que Fátima vem com um discurso antirreformas, mas é preciso saber se o PT irá funcionar como um impeditivo ou não para ela. Temos que ver como o Partido dos Trabalhadores, que está muito desgastado, já que vem de diversas administrações, irá se comportar. E também como o eleitor vai se comportar em relação ao partido.

AJ: Que análise o senhor faz da atual situação administrativa do estado?
DM: É um governo que vem de uma crise econômica muito forte. Há um congelamento do orçamento, em contraposição ao grande crescimento da folha dos servidores. Temos que resolver esse problema de alguma forma. Além disso, se leva em consideração o crescimento do déficit previdenciário estadual.

AJ: Consequentemente a isso, como o senhor enxerga as chances de o governador Robinson se reeleger?
DM: Acho que, se Robinson se candidatar no ano que vem, [sua eleição] vai depender da regularização dos salários e de ações efetivas no âmbito da Segurança Pública. Ele deve sair para governador para defender seu mandato e sua gestão e mostrar o que foi realizado. Fala-se muito em um empréstimo que estaria para chegar; acho que as chances vão depender muito do que vai acontecer neste ano: se os salários vão ser regularizados e se vão haver recursos extras para investir em segurança, porque essa é a principal agenda estado. Ainda há o incômodo de se atrasar salários, o que é muito ruim. Acho que esse empréstimo ou surgimento de receitas extras será fundamental para quantificar as chances dele com relação a 2018.

AJ: No tocante à gestão municipal, o que acha dos sete primeiros meses do novo mandato de Carlos Eduardo Alves?
DM: É um mandato que vem, até o presente momento, destoando daquilo que ele apresentou na campanha. Ele disse na campanha que tudo estava administrativamente bem; que a crise estava sendo devidamente enfrentada. Mas não me parece que é isso o que vem acontecendo.

AJ: Muito se fala em um possível renúncia de Carlos Eduardo para que ele possa disputar o governo em 2018. Esta estratégia poderia ser considerada um risco?
DM: Eu, particularmente, não acredito que ele vá disputar 2018. Já acreditei nesta hipótese, mas não mais hoje, em decorrência do que vem acontecendo. Hoje a cidade sofre. Por isso, o principal fator contra Carlos Eduardo é a própria cidade, lembrando-se que Natal não está do jeito que ele disse que estava durante a campanha de 2016. Além disso, caso ele venha a deixar a prefeitura, colocaria a prefeitura nas mãos de um indicado de Henrique Alves, que hoje se encontra na condição que todos nós sabemos. O eleitor não aceitará uma situação dessas. Eu não acredito que ele tenha condições. Carlos Eduardo é muito inteligente, sem dúvidas. Não é possível que ele raciocine que tenha chances e que vai ser bom para ele deixar a prefeitura para disputar o Governo do Estado. Acredito que se ele fizer isso, corre o grande risco de ficar chupando o dedo.

AJ: Partindo para uma avaliação estadual-federal, quais serão os impactos da Operação Lava Jato nas eleições de 2018?
DM: A questão é generalizada – não acredito que isso trará impacto decisivo às eleições locais, sobretudo porque pegou todo mundo, praticamente. Você não tem nenhum partido que possa dizer amanhã que não foi citado ou mencionado; a não ser que você lance alguma pessoa nova, mas, ainda assim, essa pessoa teria que ser candidata por algum partido que foi alcançado. É muito complicado se falar em impactos da Lava Jato se está todo mundo implicado nela.

AJ: O que acha da possibilidade de uma reforma política?
DM: É um assunto que se trata desde a época de Fernando Henrique Cardoso, mas que não é uma proposta concreta. Se fala muito em reforma política, mas o que seria especificamente uma reforma política? Há uma ilusão em relação à reforma política no Brasil de que, ao fazê-la, a corrupção irá acabar, como se houvesse uma relação direta entre corrupção e eleição, o que não necessariamente acontece. É preciso que fortaleçamos os órgãos de controle. É isso que fará com que a corrupção diminua, e não a política.

AJ: Quais podem ser os próximos passos da crise?
DM: Não acredito que a crise vai ser debelada rapidamente. Só vamos sair dessa crise do ponto de vista político após a eleição. O presidente Temer perdeu completamente a legitimidade de permanecer no cargo após todas as denúncias, nas quais ele foi diretamente atingido. Ele não tem a menor condição de permanecer. Ele vem, inclusive, dinamitando a percepção que a população tem do Executivo, que é geralmente uma percepção muita positiva. Conforme a última pesquisa do IBOPE, fica claro que o fato de permanecer à frente da presidência não dinamita apenas ele, mas também a presidência perante os brasileiros.