Odebrecht repassou R$ 200 mil para Robinson e Fábio Faria via Caixa 2, diz delator

Governador Robinson Faria e o deputado federal, Fábio Faria, ambos do PSD - Imagem: Jany Amorim/Divulgação/Arquivo2014

O ex-executivo da Odebrecht Ariel Parente, um dos delatores da companhia, afirmou em depoimento que consta do sistema da empreiteira o repasse de R$ 100 mil para o deputado federal do Rio Grande do Norte Fábio Faria (PSD), além de outros R$ 100 mil para o pai dele, Robinson Faria (PSD), hoje governador do Estado (ASSISTA AO VÍDEO).

O dinheiro, proveniente de caixa 2, teria sido repassado para a campanha dos políticos em 2010. Na ocasião, Fábio disputou vaga na Câmara Federal. Já Robinson, era vice na chapa majoritária que elegeu Rosalba Ciarlini (na época candidata do DEM) governadora do RN. Hoje, Rosalba é prefeita de Mossoró, segunda maior cidade do estado. Ela foi eleita pelo PP.

Ariel Parente relata que, em 2010, foi procurado por um representante de Robinson e Fábio Faria. O delator diz que foi à casa dos políticos, onde pai e filho solicitaram ajuda para as campanhas. Parente afirma que João Pacífico, da Odebrecht, autorizou repasses de R$ 100 mil para cada um dos candidatos. Os pagamentos foram avalizados pela equipe de Hilberto Silva, do Setor de Operações Estruturadas.

Ainda de acordo com o delator, as doações via caixa 2 foram efetuadas “possivelmente” em São Paulo. Os codinomes eram ‘bonitão’ (Robinson) e ‘bonitinho’ (Fábio), mas o delator diz que não foi ele quem deu os apelidos. “Quero fazer primeiro uma ressalva: não fui eu que coloquei esses codinomes… bonitão e bonitinho (risos)”.

Parente relata que nunca solicitou contrapartidas dos candidatos. “Apenas achávamos que Robinson, como vice-governador, talvez tivesse mais força do que a própria governadora (Rosalba Ciarlini), porque eu achava a governadora fraca”, disse.

Esclarecimentos

O deputado federal Fábio Faria se pronunciou por meio de nota. Disse ele: “Como é dever de todo e qualquer homem público e com confiança nas instituições do nosso país, prestarei todos os esclarecimentos à Justiça e ao Ministério Público para provar minha inocência em relação às acusações ora apresentadas”.

Robinson Faria se manifestou por meio de uma rede social. Ele disse que não teve acesso ao teor da denúncia, mas que vai prestar os esclarecimentos necessários à Justiça.

Já Rosalba, afirma que nunca recebeu doação de campanha da Odebrecht nem contratou qualquer obra ou serviço com a empresa ou o grupo. A ex-governadora do RN e atual prefeita de Mossoró afirma que isso prova a completa improcedência da referência a seu nome.

Delação

Ariel Parente: No período eleitoral, no ano de 2010, eu fui procurado pelo representante da família Faria – de Robinson e de Fábio – e fui conversar com ambos. Essa conversa se deu na casa deles.

Ministério Público: Foi um membro da família que lhe procurou? O senhor se recorda?

AP: Foi um representante da família, ligado a eles… Então eu conversei com os dois e eles solicitaram ajuda de campanha.

MP: Então o senhor foi para a casa deles?

AP: É, sim…. E eles me solicitaram uma ajuda de campanha para eleição de 2010. O pai, Robinson, candidato a vice-governador na chapa de Rosalba Ciarlini, e Fábio, candidato a deputado federal.

MP: Eles pediram ajuda para campanha?

AP: Pediram ajuda para campanha. Eles não tinham nenhum relacionamento com a obra que eu estava executando. Levei o assunto para meu líder, o João Pacifico, da solicitação. Pacífico autorizou uma ajuda de 100 mil reais pra cada um, que foram operadas pela equipe de Hilberto Silva, com autorização, evidentemente, do Pacífico.

MP: Foi uma doação oficial? Com prestação de contas?

AP: Quando se fala em Hilberto Silva, equipe de Hilberto Silva, é que não era oficial.

MP: Foi insinuada alguma contrapartida?

AP: Não. Apenas achávamos que Robinson, como vice-governador, talvez tivesse mais força do que a própria governadora, porque eu achava a governadora fraca. Então, eu achava que o Robinson, pelo porte político que ele tinha, que ele tinha sido presidente da Assembleia duas ou três vezes. Tinha brigado com Dilma. Então não tinha nada com a obra de execução. Então foi programado esses valores e viabilizados e pagos, não me recordo aonde, possivelmente em São Paulo, pelo fato que eu já relatei, que a casa de câmbio Mônaco não tinha recursos para atender.

MP: O senhor se recorda dos codinomes utilizados?

AP: Quero fazer primeiro uma ressalva: não fui eu que coloquei esses codinomes… Bonitão e Bonitinho (risos). Bonitão, eu não sei, acho que era Robinson, e Bonitinho, o Fábio. R$ 100 mil para cada.

MP: Aí foi pago em espécie? Entregue para um representante?

AP: Foi pego uma senha não me recordo se foi a Fábio ou um emissário dele. Eu aí não sei como eles receberam, tampouco, como trouxeram o dinheiro para cá.

AP: Robinson foi eleito com a governadora…Eu ainda estava aqui, mas ele não me ajudou em nada.. Muito embora ele tivesse recursos para receber, mas quando Rosalba assumiu, estado estava numa penúria de fazer pena. Muito embora, eu tenha recebido um recurso, no período de Rosalba, mas sem a interferência de Robinson ou de Fábio.

MP: Foi solicitada ajuda?

AP: Não, não, não solicitei.

AP: Porque, de fato, a maior parte dos recursos vinha da Caixa Econômica. Então a parcela do estado era pequena. E, às vezes, tinha algum problema da Caixa Econômica de liberação porque o financiamento era para mais de uma obra. Então quando uma outra obra, que eu não estava fazendo, não tinha nada com ela, não prestava conta ou não andava com a obra, como financiamento era único, eles atrasavam o pagamento, mas eu nunca pedi apoio a nenhum dos dois.

AP: E não os encontrei mais.

MP: mais alguma coisa?

AP: Não, os codinomes eu já falei, está no sistema Drousys esses valores.

MP: então vamos encerrar este termo.